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quarta-feira, abril 24, 2024

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Um ano sem Teresa Urban

Por Liliana Lavoratti (*), especial para o Jornalistas&Cia Há um ano – em 26 de junho de 2013 –, a jornalista, ambientalista e escritora Teresa Urban morreu aos 67 anos, de problemas cardíacos, em Curitiba, sua terra natal e onde residiu durante quase toda a vida. Ativista política de esquerda nos anos 1960, foi pioneira na cobertura de assuntos ambientais na imprensa brasileira e deixou uma extensa obra, composta de 27 títulos, com ênfase em ambientalismo, direitos humanos, política e até ficção. Em maio último, a Comissão Estadual da Verdade do Paraná passou a se chamar Comissão Estadual da Verdade Teresa Urban, conforme o decreto 10.941. A história de Teresa Urban é um dos capítulos mais relevantes da resistência à ditadura no Paraná. Como registrou a Gazeta do Povo, “por interferência de dom Pedro Fedalto junto aos militares”, Teresa foi transferida da prisão para o convento das irmãs Vicentinas, na avenida Manoel Ribas. Saiu dali para um quase ostracismo. Não conseguia emprego. Até ser contratada no jornal semanal A Voz do Paraná, da Arquidiocese de Curitiba, no final dos anos 1970. Deu início ali a uma carreira que teria participações em sucursais dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, na revista Veja e na Folha de Londrina, onde foi diretora de Redação. Nos últimos 15 anos de sua vida, Teresa produziu uma extensa obra que refletiu as causas abraçadas por ela. Em 1968 – Ditadura Abaixo, com ilustrações do quadrinhista Guilherme Caldas (Arte & Letra, 2008), ela conta às gerações mais novas não só a própria experiência no movimento estudantil mas também um pouco da história do Brasil. Teve a ajuda de um neto, à época com 16 anos, e de outros jovens que lhe indicaram como contar uma história para a geração atual, tocando seus corações  e mentes. Até mesmo a pesquisa nos arquivos públicos do Dops para a obra foi feita por jovens – estes fizeram parte de sua militância para sempre. Os Ecoberrantes – como ficaram sendo chamados os participantes da luta ambiental no Paraná –, reuniam-se na casa de Teresa, na capital paranaense. Em Missão (quase) Impossível (Editora Fundação Petrópolis), um dos vários títulos sobre ambientalismo, Teresa conta a trajetória dos movimentos ecológicos no Brasil, outra causa à qual se dedicou. Pensadora da contemporaneidade, Teresa autografou sua única obra de ficção – Dez Fitas e um Tornado (Arte & Letra, 2012) – em maio de 2013, cerca de um mês antes de falecer. Por meio de Suçuarana, personagem-ícone da formação do nosso País – cabra sem nome, idade incerta, paternidade imprecisa, inteligência aquilina e um enorme instinto de sobrevivência –, relata 500 anos de civilização e os últimos 50 anos de exploração formadora do Brasil. “Será um equívoco imaginar que Teresa só abraçava as grandes causas, aquelas que pudessem rapidamente mudar o mundo. As feridas do mundo lhe diziam respeito, grandes ou pequenas. Quem quer que fosse torturado, injustiçado, amargurado, quem quer que estivesse, animal, planta ou gente, ameaçado, intimidado, amedrontado ou desamparado, haveria de ter conforto em suas palavras, atitudes de calma generosidade”, diz o jurista, ex-procurador Geral do Estado do Paraná e ex-presidente da Funai Carlos Marés, companheiro de Teresa nos enfrentamentos à ditadura em 1967 e 1978, no texto Amanhã será outro dia, em homenagem à jornalista, no livro que ela não conseguiu autografar – Puxando o fio: história de  armarinhos. (*)  Liliana Lavoratti ([email protected]) é editora-chefe do DCI, em São Paulo

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