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sexta-feira, abril 19, 2024

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Memórias da Redação – To be or not to be: that’s the question

A história desta semana é outra vez de autoria de Plínio Vicente da Silva ([email protected]), ex-Estadão, atualmente vivendo em Roraima.   To be or not to be: that’s the question A lerdeza do ser humano em livrar-se de alguns vícios é a razão de muitas vezes a gente não conseguir fazer com que o real se sobressaia ao imaginário. Para ilustrar melhor a historinha que pretendo contar aqui, que faz parte das minhas memórias de redação, recorro ao filme O homem que matou o facínora, de 1962, um dos clássicos do cinema faroeste que levaram a marca de John Ford. A película conta a saga de Ransom Stoddard, personagem interpretado por James Stewart, um rábula que, em 1910, lavava pratos para sobreviver numa cidadezinha do velho Oeste. Depois foi eleito senador ao ser considerado herói por ter eliminado Liberty Vance, um perigoso fora da lei vivido por Lee Marvin. Vinte anos depois ele e a esposa, Halie Stoddard (Vera Miles) retornam à cidadezinha palco da cena, agora para o funeral do cowboy Tom Doniphon (John Wayne), que se tornara seu amigo e protetor, embora tenha perdido para o advogado e senador a mulher que amava. O moral da história é que ambos desejavam acabar com a tirania imposta à população pelo bandido e seus comparsas, cada um à sua maneira: Stoddard de forma pacífica, pela palavra; Doniphon de forma violenta, pelas armas. Na entrevista a um jornalista, o senador confessa que não fora ele quem matara o bandido. Descoberta a farsa, o repórter se depara com um dilema: manter a história ou contar a verdade, o que acabou gerando a famosa frase “Quando a lenda torna-se mais forte que a realidade, publique-se a lenda…”. Valho-me dessa pequena resenha para contar um fato em que me envolvi anos atrás, ainda correspondente do Estadão em Roraima, quando fui procurado pelo fotógrafo J. Pavani, profissional de primeira linha, com trabalhos publicados em vários países. Viera me convidar para coordenar textos e imagens de um projeto que pretendia transformar em livro uma excursão que fizera com os militares do 2º Batalhão Especial de Fronteiras, agora 7º Batalhão de Infantaria de Selva, sediado em Boa Vista. A missão, cumprida entre 3 e 6 de setembro de 1998, teve a finalidade de fincar marco geodésico no monte Caburaí, um dos tepuy do maciço das Guianas, e hastear a Bandeira nacional no ponto mais setentrional da fronteira norte do Brasil, na divisa territorial com a República da Guiana. A intenção de Pavani, causa abraçada depois pelo também fotógrafo e jornalista Platão Arantes – este assim acabou publicando recentemente uma obra sobre o assunto –, era e continua sendo mudar o conteúdo dos livros de Geografia para que a frase “Do Oiapoque ao Chuí” seja substituída pela nova realidade, “Do Caburaí ao Chuí”. Disse-lhe, naquela época, com a experiência de quem está há mais de 50 anos na estrada, que essa era uma missão ingrata, pois a lenda continuaria sendo mais forte que a verdade. E não deu outra. Eu não aceitei o convite e os livros de Geografia não mudaram. Ou, se mudaram, foram tão poucos que não dá para ter certeza. Mesmo que Paulo Renato, ministro da Educação de FHC, tenha garantido a todos que essa mudança seria a posição oficial do MEC. Hoje, qual Quixote de La Mancha e seu Sancho Pança, os dois mantém uma incrível disposição para sustentar essa briga, a de fazer os brasileiros adotarem o novo slogan, cuja frase define os limites setentrionais e meridionais do território brasileiro. De sua parte, os moradores do Oiapoque protestam. Para eles, de lá ao Chuí é a distância continental, de costa a costa, pelo Atlântico; já a daqui é a distância territorial, de latitude a latitude, em terra firme. Enfim, se estão certas ou erradas, as pretensões dos amapaenses e roraimenses me parecem igualmente justas. Em todo o caso, só para ajudar os que leem esta coluna a se decidirem, aqui vai o link do You Tube – http://migre.me/9GOtu – com o qual poderão ver e ouvir o clipe e a música, muito boa por sinal, produzidos por Platão Arantes e Kleber Gomes. Que o auditório faça sua escolha: deixar de lado a realidade – “Do Caburaí ao Chuí” – ou manter a lenda – “Do Oiapoque ao Chuí”. Eu cá comigo, vestindo as penas de um tucano, ainda estou em dúvida: ser ou não ser, eis a questão…

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