Por Álvaro Bufarah (*)
O relatório State of Sustainable News Businesses oferece uma análise abrangente do cenário atual das operações de notícias e projeta perspectivas para o setor. Com foco em aspectos como lucratividade, fluxos de receita e desafios emergentes, o estudo serve como guia estratégico para as decisões dos líderes de comunicação.
Para construir o relatório, foram entrevistados 96 editores de conteúdo jornalístico, com foco em empresas cujo negócio principal é a produção de notícias, em contraste com editoras de entretenimento ou estilo de vida. A pesquisa revelou uma indústria sob pressão, mas com editores demonstrando confiança em suas operações.
As emissoras de rádio jornalísticas, diante dos mesmos desafios que afetam o setor de comunicação como um todo, também precisam compensar suas estratégias para garantir relevância e sustentabilidade no cenário digital. As mudanças do consumo de mídia, o impacto das plataformas digitais e as novas demandas por conteúdo mais ágil e personalizado acabam levando as emissoras de rádio a buscarem um posicionamento proativo e mais flexível, pois sem isso ficam sem ouvintes.
Assim como outros veículos de comunicação, emissoras de rádio podem se beneficiar da diversificação de receitas. O investimento em programas de assinatura ou doação, a criação de conteúdo exclusivo e a realização de parcerias com marcas locais ou regionais são caminhos que as rádios jornalísticas podem seguir para obter maior independência financeira. Além disso, a conexão com a comunidade local, uma das grandes forças do rádio, é uma vantagem que permite fidelizar a audiência e estabelecer um canal de comunicação direta com os ouvintes.
No total, mais de 80% dos entrevistados afirmam que tiveram ações lucrativas neste ano, e uma maioria espera um aumento na lucratividade até 2025, ainda que enfrentem desafios no ambiente macroeconômico, como a queda do tráfego, mudanças na demanda publicitária e um público cada vez mais resistente a conteúdos controversos.
Diante da pressão sobre o modelo publicitário, a diversificação de receitas, com destaque para assinaturas, tem sido uma alternativa aplicada por quase 80% dos entrevistados. Aproximadamente 72% dos que oferecem esse serviço afirmaram que seus programas de assinatura atenderam ou superaram as expectativas. No entanto, o sucesso das assinaturas apresenta desafios, especialmente para veículos de nicho ou locais, que não possuem uma escala de grandes publicações como o New York Times ou o Wall Street Journal. Algumas empresas buscam modelos alternativos, como contribuições voluntárias e associações parceiras, estratégia desenvolvida com sucesso por veículos como o Texas Tribune.
No âmbito da tecnologia, o impacto da inteligência artificial (IA) sobre o setor é um tema de crescente interesse e preocupação. Os editores utilizam as ferramentas de IA para acelerar o processo de redução de trafego de pesquisas e redes sociais. Assim, ampliam os níveis de negócios secundários, como conteúdos afiliados ou de terceiros. Ainda assim, cerca de 34% dos entrevistados veem o potencial da IA para melhorar as operações internas e aprimorar a personalização de conteúdo. O New York Times, por exemplo, trouxe um especialista para liderar sua integração de IA nas redações, sinalizando o interesse crescente na tecnologia como um impulsionador de eficiência.
No entanto, a IA levanta questões críticas. As plataformas digitais já reduziram a visibilidade do conteúdo jornalístico, e o uso de IA pode agravar esse problema ao manter os usuários dentro dos próprios ecossistemas das plataformas. Além disso, 49% dos entrevistados têm o declínio nas referências de pesquisa como o maior risco, enquanto outros apontam para questões de propriedade intelectual e mudanças nas expectativas dos consumidores.
No contexto da inteligência artificial, as emissoras de rádio também podem se beneficiar, seja automatizando tarefas administrativas e editoriais, seja personalizando o conteúdo transmitido de acordo com o perfil de seus ouvintes. Ferramentas de IA aplicadas ao rádio permitem desde a seleção e organização de pautas até a personalização de anúncios, ou que ampliam o potencial de alcance e receita.
Porém, as rádios também devem lidar com as questões de direitos autorais e controle sobre o uso de seu conteúdo digital. À medida que distribuem seu conteúdo por plataformas online e aplicativos de streaming, protegem o valor de sua produção e evitam a perda de tráfego que é crucial para garantir a sustentabilidade.
Dessa forma, ao unirem inovação tecnológica, diversificação de modelos de receita e uma gestão cuidadosa do relacionamento com os ouvintes e com as plataformas digitais, as emissoras de rádio jornalísticas podem garantir sua relevância e permanência no novo ambiente digital, fortalecendo sua capacidade de informar e conectar o público em um mundo em constante transformação.
O setor de notícias segue um caminho incerto, equilibrando-se entre o otimismo com as novas fontes de receita e a adaptação às mudanças estruturais no consumo e monetização de conteúdo.
O cenário atual exige que os veículos de comunicação repensem suas estratégias para continuarem sendo sustentáveis. O foco em diversificação de receitas, por meio de assinaturas, doações e parcerias, está cada vez mais consolidado como estratégia viável para quem atua no setor. Iniciativas como a criação de programas de adesão, o fortalecimento de comunidades locais e a exploração de abordagens flexíveis para acesso ao conteúdo são exemplos de práticas que podem ajudar os veículos a mantê-los relevantes e economicamente viáveis, especialmente em tempos de incertezas.
A inteligência artificial, embora vista com ceticismo, também oferece um leque de oportunidades para as empresas jornalísticas que buscam se adaptar à era digital. Muitas editoras de notícias aproveitam as ferramentas de IA para otimizar processos internos e ampliar a eficiência, desde a automação de tarefas administrativas até o suporte na personalização de conteúdo e desenvolvimento de novos produtos.
Ao mesmo tempo, as preocupações com a erosão do tráfego e a proteção da propriedade intelectual são justificadas. Em um ambiente onde as plataformas de busca e redes sociais se transformam em atores dominantes na distribuição de conteúdo, a gestão de tráfego e de dados é um fator crítico para a sustentabilidade dos veículos. Por isso, muitos editores optam por limitar o acesso de rastreadores de IA aos seus sites, buscando resguardar seus direitos autorais e garantir o valor de seu conteúdo.
O cenário de desafios é claro, mas as pesquisas indicam que o setor mantém um otimismo cauteloso. Editores que implementam estratégias baseadas em assinaturas e diversificação de receita veem suas operações com esperança. A busca por soluções inovadoras e o foco em modelos de negócios sustentáveis é o caminho que deve continuar a ser explorado por quem se dispõe a construir um jornalismo resiliente, capaz de atravessar as mudanças estruturais da economia digital.
Nesse contexto, fica evidente a necessidade de os veículos de comunicação não apenas se adaptarem a novos modelos, mas também de atuarem com inovação para fortalecer o relacionamento com seus públicos e responder a um mercado em constante transformação.
Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.
(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.