Por Álvaro Bufarah
Seattle, nos EUA, recebe este ano a National Student Media Convention (NSMC), de 23 a 26 de outubro, no Renaissance Seattle Hotel. O evento, organizado pela College Broadcasters, Inc. (CBI), reúne mais de 400 veículos de mídia universitária de todo o mundo, fornecendo uma plataforma essencial para que estudantes, professores e profissionais da radiodifusão se conectem, compartilhem experiências e troquem conhecimentos.
Com 33 palestrantes do setor, 28 professores e membros de faculdades, além de 25 sessões ministradas por estudantes, a convenção se destaca como um dos eventos mais importantes para o desenvolvimento de talentos na mídia universitária norte-americana.
Entre as grandes novidades da edição de 2024 está a feira de carreiras, em 25 de outubro, que permitirá aos estudantes interagir diretamente com recrutadores de grandes empresas de radiodifusão, oferecendo uma oportunidade de networking em um ambiente descontraído. Sessões mais longas, de uma hora, com interrupções de 15 minutos, também foram introduzidas para permitir uma interação mais aprofundada e discussão mais rica entre os participantes.
A escolha de Seattle reflete a estratégia da CBI de alternar o local da convenção, aproveitando as características midiáticas de cada região. A cidade, famosa por sua vibrante cena cultural e midiática, é sede da renomada rádio 90.3 KEXP, que abrirá para o evento uma visita guiada, incluindo uma apresentação ao vivo do programa Live on KEXP. Emissoras como KING(TV), KREM(TV) e KWSC(FM) também marcam presença, reforçando a relevância da convenção para a radiodifusão no noroeste dos EUA.
A exibição do documentário 35.000 Watts: The Story of College Radio, seguido de um debate com o diretor e especialistas da indústria, celebra a história e importância das rádios universitárias no cenário da mídia alternativa e como espaço para experimentação e inovação. Entre outras sessões, destaca-se o painel liderado pela Society of Broadcast Engineers, discutindo maneiras de atrair jovens talentos para a engenharia de transmissão, uma área que enfrenta desafios crescentes de renovação profissional.
O evento é uma oportunidade transformadora e termina com prêmio National Student Production Awards, que celebra o talento criativo dos estudantes, com finalistas competindo em 36 categorias, após uma seleção rigorosa de mais de 900 inscrições.
Essa convenção destaca a importância das emissoras universitárias na formação de futuros comunicadores, criando um ambiente de aprendizagem que ultrapassa a sala de aula. A troca de experiências e o contato com profissionais do setor não apenas oferecem aos estudantes um vislumbre do mercado de trabalho, mas também ajudam a moldar o futuro da mídia independente e educativa.
O cenário midiático universitário não é exclusivo dos Estados Unidos. No Brasil, a Rubra (Rede de Rádios Universitárias do Brasil), fundada em 2017, atua como uma união de emissoras de rádios universitárias espalhadas pelo País, com o objetivo de integrar, fortalecer e dar visibilidade a esses veículos. Assim como o CBI, a Rubra busca criar uma rede de apoio para rádios universitárias, incentivando a troca de conhecimentos e promovendo a profissionalização dos estudantes envolvidos.
A diferença é que, embora a CBI já conte com uma longa tradição e estrutura robusta, a Rubra ainda enfrenta desafios maiores no Brasil, onde a rádio universitária não tem o mesmo nível de reconhecimento institucional. No entanto, iniciativas como a Rubra são fundamentais para fomentar um ambiente colaborativo entre as universidades, permitindo que as emissoras brasileiras compartilhem experiências e recursos, algo essencial para a sustentabilidade dessas iniciativas em um cenário de recursos limitados.
Assim como a NSMC oferece oportunidades para que os estudantes de rádio universitária dos Estados Unidos se conectem com profissionais e empresas do setor, a Rubra vem promovendo eventos e encontros que aproximam os veículos universitários brasileiros, fortalecendo a identidade e o papel dessas emissoras na formação acadêmica e no desenvolvimento profissional. O impacto dessas ações pode ser observado na participação crescente de rádios universitárias brasileiras em eventos internacionais e na adoção de práticas inovadoras, inspiradas em modelos como o do CBI.
A importância das emissoras de rádios universitárias, tanto nos EUA quanto no Brasil, vai além da formação técnica. Elas representam um espaço para o desenvolvimento crítico, a liberdade de expressão e a produção de conteúdos diversificados e inclusivos. Em um mundo cada vez mais conectado e digitalizado, essas emissoras desempenham um papel crucial na preservação de narrativas alternativas e na capacitação de novos profissionais de mídia.
Em resumo, eventos como a National Student Media Convention nos EUA e as iniciativas da Rubra no Brasil mostram o quanto as rádios universitárias podem ser agentes de transformação, criando um caminho que leva os estudantes a uma jornada de aprendizado prático e de construção de pontes com o mercado profissional, ao mesmo tempo em que promove a diversidade de vozes e ideias dentro do ecossistema midiático.
Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.
(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.
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