Por Álvaro Bufarah (*)
O Fugatto, uma inovadora ferramenta de inteligência artificial desenvolvida pela NVidia, promete transformar a criação e a manipulação de áudio, criando novas possibilidades para diversos setores criativos. Esse modelo de IA é capaz de gerar e modificar músicas, vozes e efeitos sonoros a partir de descrições textuais e arquivos de áudio. Por sua versatilidade, permite a criação de sons nunca antes ouvidos, como a combinação de saxofones com latidos ou trombetas com miados, demonstrando a amplitude de suas possibilidades. Ela pode alterar ainda o tom das vozes, modificando sotaques ou emoções em falas e até editar músicas, isolando vocais ou substituindo instrumentos de forma simplificada.
O potencial de aplicações dessa IA é vasto. No campo da produção musical, compositores podem utilizá-la para criar rapidamente protótipos de músicas, experimentar diferentes estilos e instrumentos e melhorar faixas existentes. Essa ferramenta permite uma liberdade criativa sem a necessidade de uma vasta infraestrutura de gravação e produção, o que a torna acessível e eficiente, principalmente para artistas independentes.
Em publicidade, o Fugatto pode ser usado para personalizar campanhas publicitárias de maneira precisa. Agências de marketing podem adaptar vozes com diferentes sotaques e emoções para atingir públicos específicos, aumentando a relevância e a eficácia das mensagens. A personalização é um recurso crucial em um cenário competitivo, onde as marcas buscam se conectar mais intimamente com seus consumidores.
Na área de educação e aprendizado de idiomas, recursos baseados na ferramenta podem gerar materiais personalizados, criando vozes específicas para diferentes necessidades de aprendizagem. Por exemplo, ao estudar um novo idioma, os alunos podem ouvir falas com diferentes sotaques ou variações emocionais, o que facilita a assimilação das nuances da língua. A tecnologia pode se adaptar ao ritmo de aprendizado do estudante, promovendo uma abordagem personalizada e eficaz.
No mercado de desenvolvimento de jogos, a ferramenta pode ser um trunfo para criar sons dinâmicos, que se ajustam às ações dos jogadores, proporcionando uma experiência mais imersiva. O áudio é um elemento essencial para a atmosfera de um jogo, e com o Fugatto desenvolvedores podem gerar efeitos sonoros únicos, que reagem em tempo real ao comportamento do jogador, criando uma interação ainda mais realista e envolvente.
Já no design de som, profissionais podem utilizar a IA para criar efeitos sonoros inovadores ou modificar características de áudios para atender a requisitos específicos de projetos cinematográficos ou de mídia. A capacidade de gerar sons complexos de maneira rápida e eficiente é um grande benefício para a indústria de filmes, animações e outras produções audiovisuais que dependem de efeitos sonoros de alta qualidade.
Contudo, apesar de seu potencial transformador, o Fugatto ainda não está disponível ao público em geral. A NVidia ainda não anunciou planos para liberar o modelo amplamente, uma vez que a empresa reconhece os riscos associados ao uso indevido da tecnologia, como a violação de direitos autorais ou a criação de deep fakes de áudio. A disseminação de desinformação por meio de modificações de áudio, por exemplo, é uma preocupação crescente, que demanda regulamentações cuidadosas para garantir o uso ético e seguro da ferramenta. A empresa destaca que, embora a tecnologia tenha o poder de revolucionar as indústrias criativas, é crucial considerar as implicações éticas e sociais de seu uso, especialmente quando se trata de manipulação de áudio que pode ser usado para enganar ou criar falsidades.
Ainda assim, o Fugatto apresenta-se como uma ferramenta de grande impacto no futuro da criação de áudio, com um grande potencial para expandir os horizontes da criatividade sonora e transformar indústrias como música, publicidade, educação, design de som e games. No entanto, o debate sobre o seu uso responsável e as medidas de proteção de dados e direitos autorais permanece essencial para garantir que a tecnologia seja explorada de maneira ética e benéfica para todos os envolvidos.
Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.
(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.