Por Álvaro Bufarah (*)

A inteligência artificial está redefinindo os limites da criatividade e da produtividade na indústria do áudio. Uma das empresas que mais se destaca nessa área é a Wondercraft, que, com o lançamento do Modo Diretor, coloca nas mãos dos criadores uma ferramenta poderosa para moldar e personalizar vozes sintetizadas com um nível de realismo nunca antes visto.

A ferramenta é uma funcionalidade inovadora da plataforma que permite aos usuários dar instruções precisas e detalhadas às vozes de IA, transformando-as em verdadeiras atrizes virtuais. Através de uma interface intuitiva, é possível controlar diversos aspectos da performance vocal, como:

  • Emoções: Alegria, tristeza, raiva, surpresa, medo e diversas outras nuances emocionais podem ser expressas com naturalidade pelas vozes sintetizadas.
  • Sotaques: A plataforma oferece uma ampla variedade de sotaques, permitindo que os criadores adaptem as vozes a diferentes públicos e contextos.
  • Tons: É possível ajustar o tom de voz para criar diferentes atmosferas, desde uma narração suave e relaxante até um discurso enérgico e motivacional.
  • Ritmo e entonação: A velocidade da fala, a altura e a intensidade da voz podem ser controladas com precisão, permitindo criar performances mais dinâmicas e envolventes.

A integração da inteligência artificial na produção de áudio oferece uma série de vantagens, como:

  • Aumento da produtividade: A automação de tarefas e a geração rápida de conteúdo permitem que os criadores se concentrem em tarefas mais estratégicas.
  • Redução de custos: A eliminação da necessidade de contratar atores de voz e estúdios de gravação reduz significativamente os custos de produção.
  • Maior flexibilidade: A possibilidade de criar e personalizar vozes sob demanda permite adaptar o conteúdo a diferentes formatos e plataformas.
  • Qualidade profissional: As vozes sintetizadas pela Wondercraft apresentam um nível de qualidade que se aproxima cada vez mais das vozes humanas, garantindo resultados profissionais.

As possibilidades de aplicação do Modo Diretor são vastas e abrangem diversos setores, como:

  • Publicidade: Criação de anúncios personalizados com vozes que se conectam emocionalmente com o público-alvo.
  • Podcasts: Produção de podcasts com diferentes estilos de narração e convidados virtuais.
  • Audiobooks: Transformação de textos em audiobooks com vozes expressivas e envolventes.
  • Videogames: Criação de personagens com vozes autênticas e memoráveis.
  • Assistentes virtuais: Desenvolvimento de assistentes virtuais com vozes personalizadas e capazes de realizar diversas tarefas.

O contraponto

A voz humana tem um poder único de transmitir emoções, nuances e autenticidade de forma instantânea. É através dela que estabelecemos conexões profundas com os outros, construímos confiança e criamos empatia. A voz de um apresentador de rádio, por exemplo, não é apenas um som, mas uma assinatura, uma marca pessoal que nos acompanha e nos conecta com o conteúdo transmitido.

A utilização de vozes sintetizadas pela IA, por mais sofisticadas que sejam, pode comprometer essa conexão única entre o ouvinte e o comunicador. Algumas das desvantagens dessa tecnologia incluem:

  • Falta de autenticidade: As vozes geradas por IA, por mais realistas que pareçam, podem soar artificiais e distantes. A ausência de microvariações na entonação e no ritmo, características típicas da voz humana, pode gerar uma sensação de desconexão.
  • Dificuldade em transmitir emoções complexas: Embora a IA possa simular uma ampla gama de emoções, ela ainda tem dificuldade em transmitir nuances mais complexas e sutis, como ironia, sarcasmo e ambiguidade.
  • Perda da espontaneidade: A programação prévia das falas e das reações da IA limita a espontaneidade e a capacidade de adaptação a situações inesperadas, características essenciais em uma comunicação eficaz.
  • Risco de despersonalização: A padronização das vozes pode levar à despersonalização da comunicação, tornando-a mais fria e menos envolvente.

A comunicação é um processo dinâmico e complexo que envolve a troca de informações, a construção de significados e a criação de relações sociais. A voz humana, com suas imperfeições e nuances, desempenha um papel fundamental nesse processo. Ao substituir a voz humana pela voz sintetizada, corremos o risco de simplificar a comunicação e perder a riqueza de detalhes que a torna única.

Não se trata de demonizar a inteligência artificial, mas sim de reconhecer suas limitações e utilizá-la de forma complementar à voz humana. A IA pode ser uma ferramenta poderosa para automatizar tarefas, aumentar a eficiência e criar possibilidades de comunicação. No entanto, é fundamental que a voz humana continue a ocupar um lugar central na produção de conteúdo de áudio, garantindo que a comunicação continue sendo uma experiência humana e autêntica.

Em resumo, a utilização da IA na produção de áudio pode trazer benefícios significativos, mas é preciso ter cautela para evitar que a tecnologia substitua a humanidade. A voz humana, com sua capacidade de conectar, emocionar e inspirar, continua sendo um elemento fundamental da comunicação e deve ser preservada.


Álvaro Bufarah

Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.

(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.

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