Por Álvaro Bufarah (*)
Analisando o processo de divulgação das duas campanhas nas eleições norte-americanas podemos entender melhor o uso dos influenciadores e transpor esses aprendizados para o mercado de informações e de rádio brasileiro. Por isso, dividimos o texto em duas partes; a primeira você acompanha a seguir.
A eleição presidencial de 2024 nos Estados Unidos trouxe à tona uma transformação significativa no consumo e na disseminação de notícias. Influenciadores digitais desempenharam papéis cruciais no cenário político, reconfigurando a maneira como informações foram veiculadas e recebidas. Republicanos e democratas integraram esses criadores de conteúdo às suas estratégias, concedendo-lhes credenciais para cobrir convenções e incentivando-os a disseminar mensagens políticas. Mais do que meros divulgadores, influenciadores realizaram entrevistas com candidatos, organizaram arrecadações de fundos e participaram de discussões sobre temas cívicos.
Influenciadores de notícias, como definidos em um estudo recente, são indivíduos com no mínimo 100 mil seguidores em plataformas como TikTok, Instagram, YouTube, Facebook e X, que publicam regularmente sobre eventos atuais e questões cívicas. Dados mostram que cerca de 21% dos norte-americanos adultos consomem regularmente informações fornecidas por esses criadores, número que sobe para 37% entre jovens de 18 a 29 anos. Esse fenômeno revela uma mudança geracional no consumo de notícias, que tradicionalmente era dominado por veículos tradicionais.
A composição demográfica desses influenciadores também chama atenção. A maioria é formada por homens (63%) e 27% identificam-se explicitamente como republicanos, conservadores ou pró-Trump, enquanto 21% são democratas, liberais ou pró-Kamala Harris. Ainda assim, mais da metade não apresenta qualquer inclinação política clara em suas postagens, o que reflete a complexidade de suas audiências. Muitos desses criadores monetizam suas atividades por meio de assinaturas, doações ou vendas de mercadorias, demonstrando como a produção de conteúdo informativo tornou-se um empreendimento economicamente viável.
Outro aspecto relevante é a presença desses influenciadores em múltiplas plataformas. O X lidera como a rede mais utilizada, abrigando 85% dos influenciadores estudados, seguido por Instagram (50%) e YouTube (44%). A diversificação é estratégica: aproximadamente dois terços dos influenciadores estão ativos em mais de um site, com 27% presentes em cinco ou mais plataformas. Essa abordagem garante maior alcance e engajamento, ampliando sua influência sobre o público.
Para o público, esses criadores de conteúdo oferecem algo único. Sete em cada dez americanos que consomem notícias de influenciadores afirmam que as informações recebidas são diferentes das encontradas em veículos tradicionais. Além disso, 65% relatam que influenciadores os ajudaram a compreender melhor eventos atuais e questões cívicas. Mesmo com essas vantagens, apenas 31% dizem sentir uma conexão pessoal com os influenciadores que seguem, o que sugere que o impacto está mais relacionado ao conteúdo do que à figura do criador.
Essa experiência norte-americana destaca o potencial dos influenciadores como um elo entre os cidadãos e a informação. Eles democratizam o acesso a notícias e introduzem perspectivas diversas, especialmente em temas polarizados, como direitos LGBTQ+ e questões internacionais. No entanto, também levantam preocupações, como a ausência de vínculos jornalísticos tradicionais em 77% desses criadores, o que pode comprometer a qualidade e a imparcialidade das informações.
O estudo sobre a atuação de influenciadores nos EUA é um marco para entender as dinâmicas contemporâneas de mídia e comunicação. Ele aponta como vozes individuais, aliadas a plataformas digitais, podem moldar debates públicos e influenciar decisões eleitorais, indicando caminhos para a evolução do jornalismo global. (Continua na próxima edição)
Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.
(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.