Por Álvaro Bufarah (*)
Em um cenário marcado pela crescente fragmentação da atenção midiática e pela ascensão de novas plataformas digitais, o rádio segue como protagonista no ecossistema do áudio. É o que aponta o mais recente relatório da World Radio Alliance (WRA), que reúne entidades de radiodifusão e comercialização de mídia de 16 mercados globais. Com dados de fontes como Edison Research, Ipsos, Mediametrie, Nielsen e GfK, o estudo reforça que o rádio permanece como líder absoluto de consumo, alcance, confiança e mobilidade no ambiente sonoro global.
Ele continua sendo o formato de áudio mais consumido no mundo. Em diversos países, como Alemanha, França, Reino Unido, Bélgica, Austrália e Estados Unidos, o tempo diário dedicado à escuta de rádio ao vivo (FM, AM, DAB ou online) supera amplamente o dedicado a outras formas de áudio, como música por streaming, podcasts e vídeos musicais. Na Alemanha, por exemplo, 71% do tempo de escuta de áudio é dedicado ao rádio, enquanto nos EUA o índice é de 63%, e no Reino Unido, 66%.
Além disso, o rádio representa a maior fatia da escuta de áudio com suporte publicitário, superando com folga plataformas como Spotify (versões gratuitas), YouTube Music, podcasts e serviços de vídeo com anúncios. Essa presença dominante reforça o papel do rádio como plataforma-chave para anunciantes que buscam escala e resultados no meio sonoro.
O relatório também destaca que o rádio mantém índices massivos de penetração semanal. Em países como Itália, Espanha, França, Reino Unido e Canadá, mais de 80% da população escuta rádio semanalmente. No caso da Irlanda e da Alemanha, o número sobe para 88% e 90%, respectivamente. Nos Estados Unidos, segundo o Nielsen Radar, o alcance semanal do rádio entre maiores de 12 anos também se mantém acima dos 80%, consolidando-se como o único meio sonoro com verdadeira capilaridade populacional.

Outro ponto de destaque é a relação de confiança entre o público e o rádio. De acordo com dados do Eurobarômetro 2024, o rádio é considerado o meio de comunicação mais confiável entre os cidadãos da União Europeia, com 69% de aprovação, superando televisão (62%), sites de notícias (43%) e redes sociais (31%). Em países de fora da UE, a percepção é ainda mais favorável: 70% dos entrevistados afirmam confiar no rádio.
Essa confiança também se estende à publicidade: no Canadá, por exemplo, 75% dos entrevistados consideram os anúncios de rádio (FM/AM ou via streaming) mais confiáveis do que os veiculados em redes sociais, vídeos online ou banners digitais. Isso posiciona o rádio como uma das mídias mais eficazes para construção de marca e engajamento de longo prazo.
A WRA reforça ainda o papel do rádio como o meio de massa mais móvel e acessível do planeta. Seja em casa, no trabalho, em veículos ou no celular, o rádio acompanha os ouvintes ao longo do dia, com acesso fácil, sem necessidade de olhar para a tela, e com funcionalidades ao vivo e sob demanda. Essa multiplataformização do rádio − presente em apps, smart speakers, rádios digitais e dispositivos conectados − garante sua permanência no cotidiano das pessoas, inclusive em faixas etárias mais jovens.
Mesmo com a ascensão de podcasts, streaming e algoritmos, o rádio mantém sua força em tempo real, alcance populacional e influência cultural. Em meio à transformação do consumo de áudio, o rádio oferece aos anunciantes um território seguro, confiável e eficaz para mensagens publicitárias, ao mesmo tempo em que promove proximidade, companhia e relevância local para seus ouvintes.
Para a World Radio Alliance, o futuro da mídia sonora será híbrido − com múltiplos formatos coexistindo −, mas o rádio seguirá como âncora de confiança, escala e impacto. Em um ambiente saturado por feeds e recomendações automatizadas, o rádio reafirma sua vocação: conectar comunidades por meio da voz humana e do conteúdo ao vivo.
Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.
(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.
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