Parte da revolta dos torcedores palmeirenses após a final do Campeonato Paulista 2018, vencido neste domingo pelo arquirrival Corinthians, no Allianz Parque, refletiu em agressões físicas e verbais contra jornalistas que atuaram na cobertura da partida.
Uma equipe da webrádio Poliesportiva foi atingida inicialmente por cusparadas e depois por uma lata de lixo por torcedores que estavam próximos à tribuna de imprensa do estádio. A imagem, transmitida ao vivo e repassada instantes depois, mostra a transmissão sendo interrompida no momento em que a lata de lixo é atirada contra os profissionais.
“Quem foi atingido foi a imprensa, porque o Palmeiras não dá segurança nenhuma, zero, sobre qualquer tipo de problema que a imprensa possa ter contra a torcida”, relatou o locutor Ramoni Ártico, um dos atingidos. “Se você filmar todo o corredor até em cima da Tribuna de Imprensa Osmar Santos não tem um segurança, digamos, de maior pujança ou um corredor inclusive com algum policial militar para coibir esse tipo de ação”.
Em outro caso, este envolvendo torcedores e um segurança do Palmeiras, as repórteres Mariana Pereira, da Rádio Trianon, e Ana Thaís Matos, da Rádio Globo, relatam que após o final da partida foram atingidas por diversos objetos, como isqueiros e copos de cerveja. “Nós ficamos bastante acuados. No momento em que me virei para esse grupo de torcedores para filmá-los, eles começaram a me hostilizar mais ainda”, relatou Mariana.
O vídeo mostra alguns torcedores do Palmeiras gritando xingamentos para os jornalistas, em especial para as mulheres – um dos homens, que veste boné e óculos espelhados, chega a segurar os órgãos genitais e gritar “chupa aqui, vadia do caralho”.
Tanto Mariana quanto Ana foram acusadas por membros da segurança do estádio de terem mostrado o dedo médio para os torcedores. Quando Ana tentou argumentar com um segurança do Allianz Parque, que já discutia com o repórter Gustavo Zupak, também da Rádio Globo, ela ouviu o homem dizer que não responderia porque já estava conversando com um homem. “Falei: você é machista. E ele: sou mesmo”, relatou a jornalista.
Procurada, a assessoria de imprensa do Palmeiras não comentou o caso até o momento.
O caso acontece poucos dias depois de um grupo de mais de 50 jornalistas lançar a campanha #DeixaElaTrabalhar. A iniciativa é uma ofensiva contra os recorrentes casos de machismo e assédio dentro do universo do jornalismo esportivo, e teve como gancho dois episódios ocorridos em março.
No dia 11, um torcedor do Internacional gritou “Sai daqui, puta” e empurrou a repórter da Rádio Gaúcha Renata Medeiros, que cobria o clássico Gre-Nal. Três dias depois, um torcedor do Vasco tentou beijar Bruna Dealtry, repórter do Esporte Interativo, que fazia a cobertura do time carioca no jogo contra o Universidad do Chile, pela Libertadores. No dia do lançamento da campanha, em outro caso: Kelly Costa, da RBS TV, foi ofendida por um torcedor do São José-RS, que enfrentava o Brasil de Pelotas pelo campeonato gaúcho.
Segundo o relatório Mulheres no Jornalismo Brasileiro, feito pela Abraji e pela Gênero e Número, em parceria com o Google News Lab, 83,6% das jornalistas que responderam à pesquisa já sofreram algum tipo de violência psicológica, 65,7% já tiveram sua competência questionada e 64% já sofreram abuso de poder de chefes ou fontes.