Por Cristina Vaz de Carvalho, do Rio de Janeiro
A 16ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que vai de 25 a 29/7, vem este ano com menos glamour, em termos de celebridades, mas com idêntico interesse, se encarada do ponto de vista da diversidade de culturas e como agregadora de tendências.
O evento é organizado pela Casa Azul, uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Mauro Munhoz, que representa a entidade, falou a O Globo: “Desde 2014, cai o investimento em cultura. Com a Flip não foi diferente: nosso orçamento vem diminuindo R$ 1 milhão por ano”. Não há uma assessoria responsável pelo contato com a imprensa, e a comunicação fica concentrada no e-mail [email protected] ou no telefone da Casa Azul, 11-3081-6331, ramal106.
Joselia Aguiar, baiana radicada em São Paulo, volta à curadoria, como no ano anterior. Durante o anúncio da programação, em São Paulo, em junho, ela definiu: “Esta Flip é muito diferente da anterior. Esta festa é mais íntima, mais voltada para dentro”. Sua gestão é marcada, também este ano, pela participação de autoras mulheres, escritores negros e editoras de pequeno porte.
Homenagem
A homenagem desta edição vai para a paulistana Hilda Hilst, falecida aos 74 anos em 2004. A crítica chegou a considerá-la uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século 20. E cresce o interesse pela literatura de Hilst por parte dos realizadores de cinema e teatro: a cada ano, são dez novas montagens de seus textos. A autora passou seus últimos 30 anos no que chamou de Casa do Sol, uma chácara que construiu em Campinas, interior de São Paulo, hoje transformada em centro cultural.
Sua obra muito premiada inclui traduções para vários idiomas, e os editores a reeditam com frequência. A Globo Livros relançou toda a obra dela sob os cuidados do crítico Alcir Pécora e hoje tem em catálogo os títulos Pornô chic e Fico besta quando me entendem, compilação de entrevistas com a autora. A reunião de sua obra poética, Da poesia, foi publicada este ano pela Companhia das Letras, que pretende editar ainda a adaptação para quadrinhos de A obscena senhora D., por Laura Lannes, entre outros títulos.
Autores
Os autores que se reúnem em conversas sobre múltiplos temas, como teatro, cinema e ciência, não contam desta vez com muitos jornalistas entre eles.
Dos jornalistas bissextos, teremos Djamila Ribeiro, uma das vozes mais ativas do feminismo negro brasileiro, que assina colunas nas revistas CartaCapital e Elle. Também o baiano Franklin Carvalho, que, apesar de bacharel em Comunicação Social pela UFBa, fez carreira como escritor. O repórter fotográfico Eder Chiodetto, além de exposições e livros sobre foto, é publisher da editora Fotô Editorial e curador de fotografia do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
O carioca Geovani Martins, morador do Vidigal revelado em 2013 pela Flup, a Festa Literária das Periferias, possivelmente só colaborou com os veículos alternativos das favelas. Mas seu livro de contos O sol na cabeça, editado este ano pela Companhia das Letras, já é negociado com nove países.
Dos convidados estrangeiros, destacam-se Igiaba Scego, autora italiana de família somali, que trabalhou como jornalista e, entre outros, publicou o livro de entrevistas Quando nasci è una roulette: Giovani figli di migranti si raccontano, com o registro das ideias de autores de diversas origens radicados na Itália. O americano Colson Whitehead, premiado no Pulitzer e no National Book Award, colabora com The New York Times e as revistas New Yorker e Granta. A moçambicana Isabela Figueiredo, filha de retornados a Portugal após a independência de Moçambique, trabalhou no Diário de Notícias, mas hoje é professora de português.
Na próxima quarta-feira (25/7), a abertura da Festa, às 20h, contará com Fernanda Montenegro e Jocy de Oliveira interpretando Hilda Hilst. No domingo (29), às 12h, a sessão de encerramento terá o repórter fotográfico Eder Chiodetto, a atriz Iara Jamra, e o músico Zeca Baleiro, no debate O escritor e seus múltiplos.