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sexta-feira, novembro 22, 2024

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Otavio Frias Filho abre o coração na última entrevista

Ilustração de Zed Nesti sobre foto de arquivo pessoal que mostra Otavio Frias Filho no colo do pai, Octavio Frias de Oliveira

Poucos dias antes de morrer, em 21/8, Otavio Frias Filho conversou com Fernando de Barros e Silva, ex-jornalista da Folha de S.Paulo e atual diretor de Redação da revista piauí, sobre o plano de escrever um livro a respeito do pai (e de si mesmo). Fernando esteve com ele entre os dias 16 e 19/8, já sabendo que lhe restavam poucos dias de vida. Gravou perto de duas horas de conversa, em que Otavio abre o coração e rememora passagens da juventude, os tempos de ditadura militar, suas relações com o teatro, com a família e momentos de sua trajetória na Folha antes e depois de se tornar diretor de Redação do jornal. O texto que resultou das entrevistas foi publicado no caderno Ilustríssima da Folha de domingo passado (23/9), sob o título A última entrevista.

“Otavio já estava então debilitado, mas não sentia dores”, conta Fernando na abertura. “Embora sua voz estivesse fraca, a cabeça seguia plena. A serenidade que mostrava naquelas condições era desconcertante. Ele tinha bem estruturado o plano do livro que pretendia escrever – um misto de relato autobiográfico e de biografia de seu pai, o empresário Octavio Frias de Oliveira (1912-2007). Provavelmente se chamaria Autobiografia do meu pai. Foi pelo livro que começamos a conversar”.

Uma das revelações que provavelmente muita gente desconheça é a de que ele fumava maconha desde 1976: “Foi uma decisão. Uma das decisões conscientes mais importantes que eu tomei, porque às tantas eu decidi que ia experimentar. Experimentei, me dei bem. E ela tem um efeito calmante e também um efeito liberador de imaginação, sem que eu perca as medidas das coisas. Não bagunça. Não tenho pesadelo. Tenho pouca paranoia, muito pouca paranoia. É uma coisa que funcionou pra mim. Eu fico funcional com a maconha. Embora ache que na maioria dos casos, pra maioria das pessoas, a maconha tenha um efeito desorganizador. Fora um efeito de perda de memória recente, que ela provoca em todos, inclusive em mim. Por isso preciso ler e anotar, senão me perco”.

Ao final das conversas, após uma interrupção em que comenta “agora estou entendendo como é a situação de um asmático”, Otávio arremata: “Chato isso, chato mesmo. Eu ia comentar muito no livro a respeito dessas pessoas que, ao saberem que você está com câncer, falam ‘pô, que chato’, ‘isso é chato’. Chato é esbarrar o carro na mureta do vizinho. Saber que você está com câncer não é chato. É terrível”.

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