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sábado, novembro 23, 2024

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Maré de boas notícias para a imprensa no Reino Unido

Luciana Gurgel

Por Luciana Gurgel, especial para o J&Cia

Saiu nessa terça-feira (12/2) o aguardado relatório Cairncross, elaborado com o objetivo de salvaguardar o jornalismo de qualidade na era digital. Com 157 páginas, faz uma profunda análise do cenário da imprensa no Reino Unido e pode transformar 2019 em um ano decisivo para a atuação das empresas de tecnologia, como Google e Facebook, principalmente na sua relação com os grupos de imprensa tradicional.

Dame Frances Cairncross

O relatório, com potencial de provocar mudanças na legislação local capazes de se estender a outros países, leva o nome da respeitada jornalista, escritora e acadêmica Dame Frances Cairncross. Ela foi nomeada pelo Governo em março do ano passado para liderar uma comissão independente dedicada a produzir a análise.

Com o apoio de um painel de especialistas e sugestões de representantes de vários segmentos ouvidos em consultas públicas, o grupo examinou o cenário da mídia, as ameaças à sustentabilidade financeira, o impacto das ferramentas de busca e das mídias sociais, e o papel da publicidade digital.

Entre as principais recomendações está a criação de uma entidade (Institute for Public Interest News), que teria entre suas atribuições o gerenciamento de um fundo de inovação para incentivar a modernização das empresas. Também foi sugerida a redução da carga tributária – chegando a zero para publicações digitais – ou até o financiamento direto, sobretudo para a imprensa regional (que vem encolhendo dramaticamente por aqui), de forma a não deixar morrer a cobertura sobre temas que não encontram espaço na mídia nacional.

Quanto à atuação das mídias sociais, o relatório é incisivo. Defende que passem a ser supervisionadas por um órgão regulador especificamente criado para tal, e que tenham a obrigação de prover notícias de qualidade.

Recomenda ainda a criação de um código de conduta para equilibrar a relação entre as empresas jornalísticas e as de tecnologia. E uma investigação por parte do órgão de defesa do consumidor sobre as receitas publicitárias, a fim de assegurar competição mais justa, já que hoje as companhias de tecnologia absorvem a maior parte do bolo. Segundo o relatório, isso afeta a capacidade das empresas jornalísticas de se desenvolverem nesse novo cenário.

A partir da publicação, o Governo anunciou que vai acionar os órgãos relacionados ao tema para que iniciem os trabalhos recomendados pelo relatório. Por tratar-se de uma iniciativa dele próprio, pode-se esperar celeridade na implantação de algumas das medidas. Confira a íntegra do documento.

Vitória da liberdade de Imprensa – No momento em que o relatório Cairncross é divulgado, o jornalismo do Reino Unido comemora duas vitórias nos tribunais. A primeira assegurou ao Sunday World, da Irlanda do Norte, o direito de não revelar as fontes de uma reportagem investigativa que havia publicado.

A segunda permitiu ao Daily Telegraph veicular uma reportagem sobre um poderoso empresário do ramo da moda acusado de assédio sexual, moral e racismo. Philip Green, dono da Topshop, tinha conseguido em outubro uma decisão favorável impedindo que a matéria saísse. O jornal iniciou uma cruzada para revogar a decisão, e tornou pública a briga judicial, provocando uma série de especulações sobre quem seria o pivô do caso.

Só que não adiantou a proteção da justiça: no dia seguinte à revelação da história, um parlamentar foi à tribuna de Westminster e anunciou o nome do empresário envolvido, por ser ele um detentor do título de Sir (Cavaleiro da Ordem Britânica). O caso continuou tramitando até que na semana passada, às vésperas de uma audiência, Green retirou o processo, tendo que pagar uma multa de £ 3 milhões.

E, assim, em 8/2 o Daily Telegraph saiu finalmente com a história completa. São cinco funcionários que deixaram a empresa com indenizações devido aos abusos praticados, mas não puderam levar o caso a autoridades por terem assinado previamente acordos de confidencialidade.

Além de denunciar as más práticas e as ameaças feitas pelo empresário ao jornal, o Daily Telegraph luta agora para que acordos desse tipo não possam impedir quem os assina de prestar queixa às autoridades. O Governo já sinalizou a intenção de colocar em pauta a revisão da atual legislação sobre tais acordos. Um belo exemplo de bom jornalismo contribuindo para transformar a sociedade.

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