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sábado, novembro 23, 2024

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O TREM Itabirano, ?fumaça ardente nos olhos do atraso?

Um jornal independente de Itabira, em Minas Gerais, tem chamado atenção por seu conteúdo ?democrítico?, nas palavras do editor Marcos Caldeira Mendonça. Com linguagem áspera e ao mesmo tempo bem-humorada, O TREM Itabirano circula mensalmente desde 2005. Além de editar O TREM, Marcos é colaborador do Observatório de Imprensa. Fez carreira na própria Itabira, passando pelos jornais Hora H, Diário de Itabira, A Semana, O Cometa Itabirano e pela revista DeFato. Também atuou na assessoria de Comunicação da Prefeitura local por dois anos. Em entrevista ao Portal dos Jornalistas, Marcos conta como começou a se interessar pelo Jornalismo, a ideia de fazer um jornal ?diferente? e a repercussão da publicação no dia a dia da cidade. Portal ? Qual foi o seu primeiro contato com o Jornalismo? Marcos Caldeira Mendonça ? Foi em mesa de boteco, aos 16 anos, por aí. Um amigo meu, de nome bastante esquisito (Roneijober Andrade), informou lá que estava montando um jornal. Fui o primeiro a dizer: me arrume um emprego. ?De quê??, ele perguntou. ?De qualquer coisa?, eu disse. Entrei como gerente de circulação, ou seja, tinha a nobre função de acompanhar a distribuição gratuita do jornal e dedar para o chefe quem não trabalhava direito. Um dia, vi uma máquina de escrever na mesa do chefe, de nome Luiz Müller, e fui batucar nela. Ele me pegou no flagra. Achei que tomar ia uma bronca, mas ele me incentivou. Disse a mim: é isso aí. Me incentivou, me deu dicas de redação, mandou ler livros. Comecei a escrever notícias sobre furtos, agressões, facadas, tiros e tal. Nunca mais parei de ler, escrever e isso já faz 20 anos. Portal ? Como e quando surgiu a ideia de lançar um jornal com essa linguagem bem-humorada e crítica ao mesmo tempo? Marcos ? A primeira edição d?O TREM saiu em junho de 2005, portanto, estamos completando 7 anos. A ideia de montar um jornal ?democrítico? (democrático e crítico) em Itabira vinha sendo fermentada havia anos. Primeiro, por minha paixão pelo jornalismo. Segundo, porque a imprensa itabirana, salvo um ou outro órgão, é de uma submissão vergonhosa aos poderes locais. Daí a necessidade de um jornal diferente. Faltava apenas o empurrão decisivo. Veio em 2004. Um sobrado antigo, com biblioteca, foi incendiado por negligência da Prefeitura, que retirou a vigilância do imóvel, e uma revista daqui, ao noticiar o fato, escreveu isto: ?Há males que vêm para bem?. Eu li isso, pus a mão direita na testa, disse um tonitruante ?puta que pariu? e soliloquiei: ?Não tem mais jeito, vou montar O TREM?. Montei. Itabira é ótimo lugar pra fazer um jornal como O TREM. Temos um monte de políticos trabalhando de graça para nós. A produção de besteiras aqui é superabundante e o jornal se nutre disso. Exemplos? Em 2010, a Prefeitura promoveu um Pavilhão Literário sem literatura, apenas com um músico, um professor e uma jornalista. Em 2011, a cidade comemorou o Dia do Disco de Vinil com sorteio de CDs numa rádio. Aqui há uma gaiola com canário na fachada da rádio Voo Livre. Recentemente, um locutor, comentando terremoto, disse isto no ar: ?Foi terrível, oito graus na escala Hitler?. Tremor, portanto, tão cruel quanto o nazismo. Convido todos vocês para visitar Itabira…  Portal ? Como é feita a distribuição? Está disponível online?  Marcos ? A distribuição é feita via Correios e em edições em PDF. Temos assinantes em todo o País. Sobre esse lance de internet, site etc., estamos só observando, por enquanto. Vamos deixar os outros quebrarem a cara, aprender com o erro deles e mais à frente decidir qualquer coisa. Mas juro: se acabar mesmo o jornal em papel, O TREM será o último a abandonar o velho suporte. E tem mais: acho que o sonho de todo texto na internet é ser impresso em papel para se dar bem na vida.    Portal ? É comum haver reação de autoridades, por exemplo, incomodadas com o que é publicado no jornal? Já sofreu algum tipo de ameaça? Marcos ? Ameaça de violência física, não, nunca sofri. Mas já se recusaram a imprimir o jornal. No terceiro número, levei para rodar na gráfica Diocesana, de Itabira. Combinamos preço, acertamos tudo, mas o gerente, após ler títulos e notas, me avisou: ?Não posso imprimir porque vocês criticam a Prefeitura?. Senti-me no século XV, mas foi um incentivo e tanto. Lembrei-me do inglês George Orwell (?Jornalismo é publicar o que alguém não quer que seja publicado?) e saí com a certeza de que o jornal estava incomodando o poder, ou seja, cumprindo a obrigação. Desde então, a locomotiva é impressa em João Monlevade, vizinha a Itabira. Outra dificuldade que superamos com trabalho é a censura econômica imposta pela Prefeitura e Câmara de Vereadores da cidade. Eles anunciam até em paralama de carroça quebrada, mas nunca n?O TREM. Nunca puseram um centavinho no jornal. Estamos no index prohibitorum do Poder Público local. Somos detestados pelos políticos ?sacanalhordas? [segundo Marcos, um neologismo para sacanas, canalhas e calhordas], mas, em compensação, temos um leitorado fiel, que, por meio de assinaturas, mantém O TREM nos trilhos. Portal ? O TREM já foi elogiado por importantes nomes do jornalismo brasileiro, como Lucas Mendes e Chico Maia. O que o jornal tem de diferente para se destacar dentre tantos outros produzidos pelo País? Marcos ? Gosto de dizer que jornal só há de dois tipos: chapa-branca ou chapa-quente. Há uma peça publicitária nossa que diz assim: O TREM atira fumaça ardente nos olhos do atraso, jamais publicou matéria paga, pratica altaria, tem um timaço de colaboradores, vale por um bom livro, nunca dependeu de dinheiro público, rechaça o sensacionalismo e enriquece culturalmente. Convido os leitores do Portal dos Jornalistas para ler O TREM e ver se é isso mesmo ou se é propaganda enganosa nossa. Portal ? Quem faz parte da equipe do jornal? Marcos ? Em Itabira, temos uma equipe de seis pessoas, entre jornalistas, diagramador, comercial e distribuição. Soma-se aí um timaço de colaboradores. Entre tantos outros, como você pode ver no nosso expediente: Affonso Romano de Sant?Anna, Fernando Jorge, Mariza Guerra de Andrade, Lúcio Vaz Sampaio, Robinson Damasceno, Joana d´Arc Tôrres de Assis, Olga Savary, Themistocles Rivadávia, Altamir Barros, Domingo Cruz, Renato Furst Alvarenga, Renato Sampaio, Flávio de Andrade Goulart, Genin Quintão Guerra, Edmílson Caminha, Jorge Fernando dos Santos, Flávio Almeida, Hermínio Prates, Carlos Lúcio Gontijo, Jeán Kadar Prévoust, Cláudio Alecrim, Luís Pimentel, Sylvio Abreu, Silas Corrêa Leite, Cunha de Leiradella e Ulisses Tavares. Todo dia chega um colaborador novo, e gente de talento. Estou precisando passar o jornal para 120 páginas. Chegaremos lá…Assinaturas podem ser feitas pelo [email protected] ou 31-3835-1329.

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