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quinta-feira, dezembro 26, 2024

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O coronavírus contribui para a cultura da colaboração?

Pedro Torres

Por Ceila Santos

Ceila Santos

Movida pela história de Pedro, da Gerdau, que traz o termo mindset pra contar sua jornada, comecei a refletir sobre as possibilidades de transformar a experiência do isolamento em matéria-prima para a cultura da colaboração. Todos estão vivendo na pele a resistência à mudança. Conhecendo os mínimos detalhes do seu modo de funcionamento. Será que os líderes estão atentos para o registro dessas experiências?

É ouro puro pra quem lidera a partir do desenvolvimento do grupo; afinal, quando teremos uma ebulição tão grande de mudança de hábitos? Trazer a atenção de cada profissional para o funcionamento das suas reações – daquilo que o incomoda, estressa, tensiona ou o agrada, atrai e entusiasma – é uma forma de contribuir para o autoconhecimento necessário que todo adulto necessita pra fazer junto.

Allan Kaplan, consultor de desenvolvimento humano e organizacional, compara nossos apegos às rotinas a um dependente de drogas. “Ficamos presos em campos que padronizam nosso modo de ser e muito pouco do que é novo tem permissão para entrar”.

Kaplan afirma que nossa experiência é mais poderosa que nossa imaginação. Isso significa que, mesmo que você deseje, queira e mentalize mudar, se não houver disciplina para a mudança a experiência será mais forte que o pensamento.

Para sustentar a disciplina da mudança, nada melhor do que ter clareza de onde estamos diante da distância do lugar a que queremos ir. Tomar consciência dessas sutilezas do dia a dia é um presente pra quem deseja se desenvolver rumo ao novo. Não dá pra mudar mindset se não houver clareza de como você funciona.

Possibilidades

Orientar a equipe para que haja essa atenção focada em si: aproveite a mudança pra conhecer como você funciona! Uma das técnicas é anotar no caderninho os sentimentos do dia e o processo que o levou a sentir raiva ou tensão. Ou seja, ligar seu modo de reagir ao evento, que te incita à raiva ou à tentação.

Outro caminho é trazer essa atenção para o começo e final de cada reunião. Em toda pauta – seja operacional, estratégica ou happy-hour –, ter uma palavra de como está se sentindo no check-in e no check-out da reunião. Detalhe: todos participam, mesmo que seja com o silêncio. É importante dar tempo àquele que não consegue identificar uma palavra para classificar seu sentimento, pois a correria nos deixa sem fôlego pra perceber o coração.

Líderes que já têm essa prática de cuidar do sentir do grupo no cotidiano podem aproveitar para conversar sobre os mapas que o teste coronavírus proporciona a quem está habituado a partilhar seu modo de funcionamento. Há muitos nomes e jeitos para propiciar um ambiente seguro que motive a partilha verdadeira de cada indivíduo; a dica principal, no entanto, é o interesse verdadeiro pela história do outro. O ideal é oferecer o maravilhamento da escuta, mas ter o interesse já é um começo.

Além de nós

Ouvir a experiência de Pedro pela primeira vez, sem nunca o ter visto e distante da cobertura das indústrias onde ele se moldou, tocou a jornalista que vive em mim porque reconheci padrões fortes de comportamento oriundos dos significados de ser jornalista.

Eu já vinha acendendo a figura desse personagem desde a conversa com Leandro Modé, que tem a mesma idade minha e trouxe uma imagem arquetípica para sintetizar a transformação do jornalista em Corporativo, que despertou minha vontade de pesquisar a linha histórica da imprensa brasileira.

Quando conheci os 20 anos de trilha corporativa de Nelson Silveira, que representa uma geração acima que eu e Leandro, estava imbuída dos três séculos da nossa história, mas sem perceber o peso da influência tecnológica no modo que agimos e a predominância da jornalista na minha linguagem. Nelson, com sua capacidade de análise sobre as mídias, deixou uma pergunta dentro de mim: O jornalismo continua movido pelas invenções tecnológicas?

Quando encontrei Pedro, então, tinha ampliado minha linha de pesquisa até a invenção de Gutemberg e reconhecido o primeiro padrão histórico: jornais fundados em 1850; revistas e TVs, em 1950, o que virá, então, em 2050, quando a invenção da prensa completará seis séculos?

Assim, surgiu a pergunta que me levou, de novo, para o desafio da metamorfose e do autoconhecimento: Quando lê o termo mindset e pensa no profissional de comunicação, você lembra do jornalista? Quem é o ser de comunicação, hoje, pra você? Eis, o desafio que vai além de nós.

Não podemos controlar ou prever a evolução dos padrões que se desenvolvem na linha narrativa da comunicação – é verdade, eles são vivos –, mas podemos nos tornar responsáveis por aquilo que trazemos para eles. Isso também é colaboração!

Por isso, finalizo essa conversa com algumas perguntas pra você iluminar na sua vida: O quanto ser jornalista culmina o ápice da sua biografia? Já olhou para a sua vida a partir deste personagem e reconheceu a estrutura do que aprendeu e deixou de aprender pelo foco desta atuação? Responda para si e aja consciente da parte que lhe cabe para o novo surgir além de nós.


Pedro Torres

Pedro Torres Pinto
Gerdau
Líder:
Cidadão
Insight:
Sensibilidade e abertura para escuta.
Filosofia:  Somos todos líderes e estarmos abertos sempre a aprender, desaprender, reaprender.
Referência:
 Barack Obama

Tempo da Jornada
Jornalismo: não atuou em redações
RP: 4 anos
Destaque: P6 Comunicação
Corporativo: 14 anos
Destaque: Fibria, Suzano e BFR

Formação: Comunicação Social – Jornalismo.

Mineiro da capital, Pedro também se considera capixaba porque foi onde cresceu e se formou em Comunicação Social. Começou a rever suas expectativas durante a faculdade, quando percebeu que o sonho de atuar na redação não era realidade. Aceitou o estágio para atender à Petrobras como assessor de imprensa e, a partir dali, aprendeu a relacionar as habilidades do jornalista com as demandas corporativas.

Sua trajetória conta a evolução da própria área, que, apesar de ter uma associação desde os anos 1970, ganha relevância a partir da geração de profissionais do novo milênio como Pedro. “Observar a crise da imprensa desde quando sai da faculdade contribuiu pra eu reconhecer a mudança de mindset do jornalista para o comunicador”. Ele reconhece que quem sonhou com jornalismo tem uma estrutura de texto em si, mas uma boa equipe é aquela que reúne a tríade do nosso inconsciente (Jornalista + RP + Corporativo), o Marketing e outras áreas pra ser chamada de multidisciplinar.

Seu olhar para a desigualdade social e a diversidade do Brasil ganhou luz a partir da experiência no setor de papel e celulose,  dentro de Fibria e Suzano. Quase uma década. Desse período, destaca seu aprendizado de colocar a sustentabilidade na prática, ao lado de Marcelo Castelli e Luciano Penido (Fibria), que lhe ensinaram a reconhecer essa força como eixo central dos negócios. Resultado: aprendeu o papel das organizações no desenvolvimento social, ganhou seis prêmios da Aberje e foi finalista em duas ocasiões da Fundacom.

Virou pai de gêmeos, Larissa e Vinícius, há cinco anos, e veio para São Paulo movido pelo planejamento de carreira, onde encontrou o propósito da Gerdau, que estava em busca de um perfil conciliador e colaborativo. Encaixou. Faz 11 meses que Pedro lidera uma equipe sem chefe nem hierarquia.

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