Por Eduardo Brito
No seu período áureo, os gloriosos tempos da condessa Pereira Carneiro e de Nascimento Brito, o Jornal do Brasil teve duas chances de criar sua emissora de televisão. Era um sonho, mas o custo, tanto financeiro quanto político, parecia alto demais. Não deu certo. O JB só teria sua televisão quase quarenta anos depois, em 2007, quando o jornal e os ativos que restavam foram assumidos pelo empresário Nelson Tanure, com o nome de Companhia Brasileira de Multimídia.
A essa época, Tanure falava em lançar um novo jornal impresso, de circulação nacional, a partir de sua sede em Brasília. Ficava em um andar do Brasília Design Center, em um belo espaço herdado da Gazeta Mercantil, também incorporada por Tanure na nova CBM. O objetivo do empresário, ao criar a CBM, era escapar do elevado passivo trabalhista deixado pelos antigos donos do JB e da Gazeta. Não conseguia: na Justiça do Trabalho, perdia todas as ações. O novo veículo seria mais uma tentativa de escapar disso tudo.
O conjunto de salas, com ampla vista para o Parque da Cidade, fora redesenhado e comportava duas redações. A primeira reunia os repórteres das edições nacionais do JB e da Gazeta. A segunda abrigava o time da Edição Brasília do JB, que tinha faturamento garantido por conta de contratos locais, evidentemente com grande parcela de dinheiro público.
O projeto nacional teria, de início, a coordenação da jornalista Belisa Ribeiro, mas foi interrompido e, tempos depois, ressurgiu com o empresário Pedro Grossi, um insighter governamental enviado por Tanure a Brasília para desatar nós pendentes – não só dos jornais, vistos pelo empresário como peanuts, mas de brigas de gente grande, como a Companhia Docas e a Oi, também controladas por ele.
Aparentemente do nada, Pedro Grossi comunicou à equipe, de repente, que uma rede nacional de TV começaria a funcionar ali. Quando? Já. Explica-se: após conversas privadas, Tanure acertara com Flávio Martinez, dono da Central Nacional de Televisão, a transferência de sua rede. Falava-se até em compra, mas não era bem isso. A CNT também tivera seus tempos áureos, quando dirigida pelo deputado José Carlos Martinez, presidente nacional do PTB e um dos principais sustentáculos de Fernando Collor, então instalado no Planalto. Chegou a funcionar como rede nacional, a partir de Curitiba, em canais de sua propriedade e outros afiliados.
À queda de Collor seguiu-se a do avião particular que transportava o deputado e a programação se desfez. A CNT passou a alugar seu tempo para igrejas, produtores independentes e, principalmente, canais de vendas. O que Tanure e Flávio Martinez, irmão do falecido José Carlos, acertaram foi um arrendamento. O sinal da CNT foi cedido a Tanure, de início na faixa horária a partir das 18h, diariamente. Ao que se informou, o custo seria de R$ 3 milhões por mês, pagos no início do seguinte, com um de carência.
A redação de Brasília se transformou. De um dia para outro ficou superlotada. Até a contratação da TV, contava com apenas 22 funcionários: 12 da edição brasiliense, aí incluídos estagiários, cinco repórteres do JB e três da Gazeta, mais dois da administração. De repente, materializaram-se mais 60 pessoas, entre repórteres da TV, câmeras, contatos publicitários e até um diretor comercial que posava de mandachuva daquilo tudo. O âncora já contratado era Boris Casoy, que não iria a Brasília, mas conseguiu incorporar antigos integrantes – todos excelentes profissionais – de sua equipe anterior.
A nova programação, já com o selo JB, estreou em abril de 2007. O telejornal, só uns meses mais tarde. A sede, no Rio de Janeiro, ficava em estúdios da própria CNT, mas havia sérios problemas com transmissões e sinal, o que contribuiu para manter a emissora no traço durante a maior parte de sua curta vida. No entretenimento, Clodovil ficou algum tempo no ar, mas acabou demitido; Sérgio Mallandro, contratado, nem chegou a estrear. Arranjou-se até uma novela, de origem lusitana, Coração Navegador (O Segredo, no título original).
O forte mesmo era o jornalismo, apresentado por Boris Casoy a partir do Rio, com alguma produção local e a maior parte feita pela frenética equipe de Brasília. Havia ainda um talk show com Augusto Nunes. Mesmo com as dificuldades de sinal, era o jornalismo que garantia alguma repercussão à TV JB.
Tudo esbarrou, porém, no pagamento da locação. Passou-se o primeiro mês, o da carência. Quando se chegou ao terceiro, a CNT começou a reclamar de atraso. No quarto, falou em calote. Em agosto, Martinez desistiu do contrato e pediu judicialmente sua rescisão. No dia 6 de setembro desligou a tomada. A TV Jornal do Brasil simplesmente saiu no ar. A turma do jornalismo deixou a sucursal como chegou, num estalar de dedos.
O epílogo é conhecido. A edição brasiliense do Jornal do Brasil, assim como a sucursal JB-GZM na capital, desapareceu em dezembro de 2008. A edição nacional, com sede no Rio, resistiu até setembro de 2010.
No caso da TV foi pior para quem seguia a novela Coração Navegador. Nunca se soube como ela terminaria. Acabou ficando mesmo O Segredo.
A história desta semana é novamente uma colaboração de Eduardo Brito, editor executivo no Grupo JBr de Comunicação.
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