Luiz Carlos Azenha voltou atrás na decisão de descontinuar seu blog Viomundo, que havia informado aos seus leitores no último dia 29/3, mas vai se afastar “do compromisso diário de passar de cinco a 10 horas diante de um computador aprovando comentários, traduzindo e publicando textos. Torno-me um repórter voluntário e não remunerado, além de escrever os tradicionais comentários sobre mídia e política”.
Após ser condenado em primeira instância na semana passada (cabe recurso) a indenizar em R$ 30 mil Ali Kamel, diretor de Jornalismo e Esporte da Rede Globo, Azenha mudou de ideia para atender a pedidos dos leitores, principalmente de João Carlos Cassiano Ribeiro, que escreveu a ele via facebook: “Respeito sua decisão e compreendo sua necessidade, mas me sinto um pouco órfão com o fim do Viomundo e triste em ver o jornalista abandonando uma das frentes de trabalho por força da opressão. Choro ao escrever essas palavras pois sei que perdemos um espaço vital para nossa luta. Não sou colaborador e nem costumo interagir com o blog, sou um leitor anônimo e aprendi a observar o seu blog como um filho observa o pai e aprende e se orgulha de estar por perto. Nossa luta não é partidária ou governamental, é pelos mais fracos e pela dignidade humana. Sempre o terei como amigo sem nem o conhecer, pois me orgulho dos meus amigos e me orgulho muito de você!”.
Em post que publicou no Viamundo na 2ª.feira (1º/4), Azenha informa que Conceição Lemes ([email protected]) passa a editora-chefe do site, encarregada também da relação com os 40 mil seguidores no twitter/facebook; e que Leandro Guedes ([email protected]), da agência digital Café Azul, “que há meses já vinha estudando o assunto, adotará um mix de todas as sugestões que nos foram feitas por vocês sobre crowdfunding, além de perseguir eventuais patrocinadores que vocês nos sugerirem; o dinheiro arrecadado com o crowdfunding será todo reinvestido no site e não será utilizado para bancar advogados, dos quais já contamos com os competentíssimos Cesar Kloury, Idibal Pivetta, Airton Soares e um importante escritório de Brasília que ofereceu ajuda solidária”.
Na nota, Azenha informa ainda que passa a aceitar, sempre que compatível com sua agenda profissional, “todos aqueles pedidos de entrevistas de estudantes, palestras em universidades e conferências” e “acima de tudo, passo a me dedicar à área de minha especialidade, que é a produção de vídeos, minidocs e docs”.
Manifestações sobre o episódio Foram diversas as manifestações na internet e nas redes sociais tanto sobre a sentença quanto pela decisão original de Luiz Carlos de suspender o blog, a maioria carregada de opiniões apaixonadas, contra ou a favor – como, aliás, é comum nesse tipo de episódio.
Marcelo Moreira, ex-editor de Economia do Jornal da Tarde, disse: “Até entendo a comoção que cause a condenação do jornalista Luiz Carlos Azenha, em ação movida pelo diretor da Globo Ali Kamel – em especial entre os blogueiros de esquerda independentes e sérios e entre os cooptados e chapas-brancas. O problema é que a questão, por enquanto, é uma contenda pessoal entre dois cidadãos, nada mais. A mesma coisa em relação ao jornalista Rodrigo Vianna, outra ‘vítima’ de Kamel. Os blogueiros escreveram o que quiseram, alguém se sentiu ofendido e foi à Justiça. O que tem demais isso? Ganhar ou perder na Justiça faz parte. Tratar isso como escândalo me parece demais. Ou alguém prova que a decisão judicial foi corrupta e manipulada ou então a questão não passa de uma contenda pessoal. A decisão judicial, em si, me desagradou, pois não havia nenhum indício de que Azenha tenha feito qualquer ‘campanha’ de perseguição. A sentença de primeira instância é simplesmente esdrúxula e Azenha merece a solidariedade, mas sem os exageros típicos de uma parte da esquerda que só sabe bater bumbo. É triste, mas não vejo a mesma energia dessa gente em protestar contra o gravíssimo caso de censura e decisões judiciais perigosas no caso do jornalista Fabio Pannunzio, que está sofrendo um assédio judicial impressionante de um ex-secretário de Segurança de São Paulo, fato que obrigou o jornalista a encerrar temporariamente seu blog interessante. Pannunzio não tem simpatia pelo governo do PSDB em SP, mas também não tem simpatia pelo governo Dilma. Será esse o motivo de ser ignorado por esse pessoal que se ‘escandalizou’ com o caso Azenha? E o que dizer do bombardeio que Juca Kfouri sofreu e sofre de Ricardo Teixeira? Acho um tema interessante para discussões entre os profissionais da área”.
Mais uma indenização – Outro condenado a pagar indenização, mas a José Serra, por danos morais pelo “oportunismo eleitoral do livro A privataria tucana”, é Amaury Ribeiro Jr., que finalizou a obra às vésperas da última eleição presidencial e a lançou pela Geração Editorial (também condenada). O que chama a atenção nesse caso é a sentença do juiz André Pasquale Scavone, da 10ª Vara Cível de São Paulo: ao mesmo tempo em que afirma que “não é este o juízo que vai dizer se os fatos narrados [no livro] são ou não verdadeiros” e reconhece que é “inequívoca a intenção dos réus de atingir a imagem de Serra”, considera “curioso” o fato de a ação ter caráter indenizatório e não de “impedir a venda do material ofensivo” – daí ter fixado a indenização pelo valor “simbólico” de R$ 1 mil. As duas partes vão recorrer.