Por Helô Campanholo

Sempre me perguntam, me pedem para contar passagens com jogadores, atletas, jornalistas e essas vivências são muitas. Uma delas guardo com carinho porque mostra o grau de amizade que estabeleci durante a carreira, e também é divertida.

Histórias do Jornalismo Esportivo - Quase convidada para a lua de mel, por Helô Campanholo
O troféu da Aceesp que recebeu em 2017

Era final de 1993. Eu ainda no início da carreira, senti-me importante quando chegou na minha casa um belo convite de casamento. A festa aconteceria em um dos salões mais chiques da capital paulista. Logo liguei para a minha amiga e repórter Marisa de França, para saber se também havia sido convidada. Sim, ela estava na lista. Então, fomos ao até a av. Rebouças, naquelas lojas de locação de roupas de festas – fizemos uma zona incrível, pena que não tinha celular com câmera na época. Foi muito divertido – e depois de provarmos vários vestidos escolhemos um. O meu era rosa e o da Marisa, azul marinho. Comparamos sapato e bolsa, aquelas de casório. Bem, investimos uma grana, afinal não poderíamos fazer feio. Era só esperar o grande dia.

Marisa tinha um Uno vermelho e no dia, 29 de novembro, lá fomos nós para uma igreja Batista, tradicional, bem no centro de São Paulo, atentas a tudo. Era o segundo casamento do craque, que tinha se separado havia pouco tempo e na igreja, durante os cultos, conhecera uma moça bem jovem – a noiva tinha 17 anos e, salvo engano, o pai era pastor. 

A igreja começou a ficar cheia. Os atletas, que só víamos de uniforme e chuteiras, todos no maior luxo, também estranhavam as duas de vestido de festa. Foram muitos elogios.

O noivo era fera, jogava no São Paulo Futebol Clube e na Seleção; então, o que não faltava era famoso. Cerimônia concluída, bora pra festa! Entramos novamente no Uno vermelho, som no último e rumamos para o Itaim Bibi.

Nessa hora demos graças a Deus de entrar no carro, porque os pés já estavam doendo muito. Chegando ao bufê, uma escadaria, mas tudo bem. Paramos o carro na rua, um pouco afastado – a cidade não era tão violenta ou nem pensávamos nisso na época. Subimos a escada, apresentamos o convite e ufa!, entramos. Lugares marcados nas mesas, mas nem lembro com quem sentamos, porque pouco paramos ali. “Comes e bebes” rolando e na madrugada resolvemos deixar o salão. Descemos a escadaria – feita pra gente que não bebe –, claro, já descalças, e chegamos na rua rumo ao nosso Uno de tantas histórias. 

De repente, passa por nós uma limusine branca; eram os noivos rumo à lua de mel. Cem metros à frente, o carro para.

Marisa falou: “Helô, o carro parou. Será que esqueceram a camisinha?” Caímos na gargalhada. Eu disse: “Espera! Parou mesmo!”

A porta traseira da direita abriu e surgiu a cabeça do craque. Ele falou:

– Meninas, vocês querem uma carona? Já está tarde…

Fala sério! Esse é amigo… Atrasar a lua de mel para dar uma carona às jovens jornalistas? Agradecemos e apontamos para o nosso carrinho. 

O casamento dele não durou muito, mas a nossa amizade está firme até hoje.

Piupiu duro de frio

Foi na cobertura da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. O técnico da Seleção Brasileira era uma retranca só. Jogadores não podiam nem olhar para os jornalistas, quanto mais dar entrevista. O Brasil iria enfrentar a Coreia do Sul e eu queria assistir à partida. Ganhei do Kaká um ingresso para ver o jogo na área dos familiares. Chegando lá encontrei os familiares de todos os jogadores e fiz muitas amizades. Me aproximei da mãe do Robinho, da esposa e do filho mais velho dele, o Júnior, ainda criança.

Aproveitei o gancho e no dia seguinte fui fazer matéria com a família do Robinho, já que o jogador não podia falar. A equipe e eu fomos ao hotel onde eles estavam hospedados. O repórter, entrevistando o Júnior, perguntou o que ele estava achando de estar na África, vendo o pai jogar. O menino, pequeno na época, mandou essa:

– Aqui é tão frio que fico até de piupiu duro…

Aí foi aquela gargalhada geral. 

Bem, nessa hora, entra no saguão do hotel a Seleção da Holanda, que se encantou com o filho do Robinho, que estava brincando com uma bola. 

A matéria rendeu, os holandeses ficaram encantados com o garoto. 

Aquele ditado cai bem aqui: “Do limão fizemos uma caipirinha”.

Dias depois consegui uma exclusiva com o Robinho. Na era Dunga o trabalho não foi fácil, mas onde há uma bola e uma criança tudo fica mais divertido.

Histórias do Jornalismo Esportivo - Quase convidada para a lua de mel, por Helô Campanholo
Helô com os filhos de Robinho

O Portal dos Jornalistas traz neste espaço histórias de colegas da imprensa esportiva em preparação ao Prêmio Os +Admirados da Imprensa Esportiva, que será realizado em parceria com 2 Toques e Live Sports, no segundo semestre. A história desta semana é de Helô Campanholo, gerente de Produção do canal Fox Sports. 

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