Alberto Tamer, um dos grandes nomes do jornalismo de Economia no Brasil, com mais de 50 anos de atuação no Estadão, faleceu neste domingo (19/5), aos 81 anos, vítima de insuficiência cardíaca. Ele estava internado desde fevereiro, quando realizou uma cirurgia no hospital Albert Einstein, e havia um mês foi transferido para o Incor, onde acabou falecendo. Filho de libaneses, nascido em Santos, em 17 de janeiro de 1932, Tamer começou no jornalismo em 1952, pela rádio Excelsior e jornal O Tempo, ambos de São Paulo, cobrindo a área de Política. Quando O Tempo fechou, passou a trabalhar no Correio Paulistano, onde chegou a titular da coluna Janela Aberta. Ainda na cobertura política, passou pela Folha da Noite. Em janeiro de 1958, em plena lua-de-mel, foi despedido do jornal apenas por ter sido o último repórter admitido pela editoria e a empresa sempre cortava os recém-contratados quando havia aumento de salário obtido por intermédio do sindicato. Desorientado, conseguiu uma vaga em O Estado de S.Paulo por dois meses, na área de Economia. Para garantir a permanência no emprego – ao lado de César Costa, Robert Appy e Frederico Heller –, dedicou-se com afinco a aprender tudo o que podia sobre o setor. Desde então, nunca mais deixou de escrever para o jornal. Com Heller, aprendeu a fazê-lo sem usar palavras difíceis: “Uma vez ele implicou com uma palavra que usei, me mandou buscar o dicionário, viu que estava bem aplicada, mas quando eu já ia saindo, todo orgulhoso de ter dado ‘uma volta’ no chefe, perguntou com aquele sotaque carregado (Heller era austríaco): ‘Senhorrr Tamerrr! O senhorrr dirrria esta palavrrra à sua namorrrada?’. Perplexo, eu disse que não. E ele retrucou: ‘Enton, non use no texto!’ Nunca mais esqueci”, disse ele em depoimento a Jornalistas&Cia quando completou 50 anos de Estadão. Não deixou de escrever para o jornal nem mesmo nas duas vezes em que foi adido cultural de imprensa na embaixada brasileira em Londres, entre 1975 e 1977 e entre 1980 e 1983, convidado pelo então embaixador Roberto Campos (1917-2001). Para evitar problemas com o governo militar, passou a assinar com o pseudônimo de Altino Tavares. Pediu demissão quando soube da morte de Vladimir Herzog (1937-1975), mas, atendendo aos pedidos dos correspondentes brasileiros em Londres, permaneceu no cargo até o ano seguinte, quando da visita do ex-presidente Ernesto Geisel (1907-1996) à Inglaterra. Foi, também, comentarista e apresentador nas rádios Jovem Pan e Eldorado e nas tevês Bandeirantes e SBT, em São Paulo, e Manchete, no Rio de Janeiro. Em 1994, mudou-se para Paris, de onde enviou matérias especiais para O Estado, sem deixar de escrever sua coluna. Com seu filho, Luís Sérgio Tamer, criou um site sobre mercado financeiro e imposto de renda que chegou a receber mais de 500 consultas diárias, mas acabou sendo desativado no final dos anos 90. Foi convidado para participar da criação do primeiro Curso de Jornalismo Econômico na Faculdade Cásper Líbero, na década de 60, mesmo não tendo diploma, nem de Jornalismo, nem de Economia. Deu palestras em faculdades durante muitos anos, muitas vezes com professores e alunos de Economia na plateia. É autor dos livros O mesmo Nordeste (Herder, 1968), Nordeste até quando? (Apec, 1968), Transamazônica, solução para 2001 (Apec, 1970), Nordeste, os mesmos caminhos – Reforma agrária, afinal (Apec, 1972), Petróleo, o preço da dependência (Nova Fronteira, 1980), Os caminhos do dinheiro (Ática, 1988), e Os novos caminhos do mercado financeiro (Saraiva, 1991). Sua coluna já foi reproduzida em mais de 40 jornais pelo País, mas passou a ser exclusiva do Grupo Estado. Orgulhava-se de ter incentivado a contratação de Dinaura Landini – a primeira mulher a trabalhar na redação de O Estado de S.Paulo –,de ter sido o primeiro repórter do jornal a ir para a Amazônia e de ser reconhecido pela qualidade e simplicidade do seu texto. Seu corpo foi cremado ainda na tarde deste domingo, no crematório de Itapecerica da Serra. Deixa a esposa Linda Tamer, com quem teve três filhos, que lhe deixaram cinco netos.