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sábado, novembro 23, 2024

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O adeus a Ruy Mesquita

Foi enterrado nesta 4ª.feira (22/5), no Cemitério da Consolação, o corpo de Ruy Mesquita, diretor de O Estado de S.Paulo que faleceu na noite de ontem no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ele estava internado desde 25/4 para tratamento de um câncer detectado em estado avançado na base de sua língua. Dr. Ruy, como o chamavam, era o principal nome da família Mesquita no comando do Grupo Estado desde a morte de seu irmão Júlio de Mesquita Neto, em 1996, e o único representante ainda vivo e na ativa da terceira geração dos Mesquita.  Com 60 anos de atuação no Grupo Estado, seu primeiro trabalho no jornal O Estado de S.Paulo deu-se na editoria de Internacional, ao lado de Giannino Carta (pai de Mino Carta), nos anos 1950. Nessa época, durante a revolução cubana, foi o único jornalista brasileiro a entrevistar Fidel Castro, por quem chegou a ser homenageado no ano seguinte e de quem mais tarde se tornaria um crítico contumaz, por discordar dos caminhos trilhados pela revolução do “comandante”. Um dos momentos mais fulgurantes de sua carreira foi a criação do Jornal da Tarde, em 1966, com Mino e companhia, que acabou marcando a história do jornalismo brasileiro pela ousadia da proposta editorial, combinando pautas brilhantes, visual refinado e um aprimorado e requintado texto, muitas vezes fazendo fronteira com a literatura. Enquanto teve forças, conseguiu manter o JT como um dos mais importantes jornais brasileiros, mas com os prejuízos financeiros se acumulando e as mudanças ocorridas na gestão da empresa, viu seu projeto perder espaço, desfigurar-se e se esvair progressiva e continuamente, até fechar em definitivo, de forma melancólica, no final do ano passado. As informações de que ele havia sido submetido a uma delicada cirurgia de garganta, para a retirada do tumor, correram discretamente o mercado desde sua internação. Pela idade avançada, já se anteviam as dificuldades de sobrevida. Segundo informa o próprio Estadão, Dr Ruy manteve até a véspera de sua internação uma rotina constante de trabalho no jornal, reunindo-se diariamente com os editorialistas para traçar as linhas gerais dos artigos do dia seguinte. Sua biografia, a consagrada história de vida que construiu por quase nove décadas, nunca foi registrada em livro. Não por falta de oportunidades, mas por decisão dele próprio, que sempre se mostrou avesso às incursões a respeito. Em 2007, Eduardo Ribeiro, diretor deste Portal dos Jornalistas, num encontro com ele, em que esteve na companhia de Audálio Dantas, Dr. Ruy agradeceu o interesse da Mega Brasil em fazer um livro com a sua biografia, descartou a hipótese por não cogitar que isso acontecesse em vida e adiantou que, se um dia cedesse, daria esse privilégio ao Carmo Chagas, ex-profissional da casa com quem há anos já havia se comprometido. Nem a família o demovia dessa decisão, como revelou o filho Ruyzito também num encontro com Eduardo. “Tenho aqui em casa pilhas de documentos sobre o meu pai e sua história de vida. E cederei com a maior alegria para um livro com a sua biografia. O problema é que ele não quer e não há o que o demova dessa decisão. Se vocês conseguirem, terão o meu apoio”, disse então. Com a morte do Dr. Ruy, os olhares dos colaboradores e do mercado voltam-se para os próximos passos da família Mesquita, que, dividida e com dezenas de herdeiros, tem em mãos uma empresa que enfrenta um momento difícil e delicado e que, pela revolução em curso na atividade jornalística, também tem pela frente um futuro repleto de complexos desafios e muitas incertezas. Casado com Laura Maria Sampaio Lara Mesquita, Dr. Ruy deixa os filhos Ruyzito, Fernão, Rodrigo e João, 12 netos e um bisneto. Ironia do destino, no mesmo Hospital Sírio Libanês, onde Ruy Mesquita esteve internado por quase um mês, outro ilustre paciente da imprensa brasileira, capitão da mídia como ele, está sob cuidados médicos há semanas: Roberto Civita, presidente executivo do Grupo Abril, por coincidência um fã declarado dos editoriais do Estadão, como declarou a Jornalistas&Cia, em 2007, numa extensa entrevista para a série Protagonistas da Imprensa Brasileira (www.jornalistasecia.com.br/protagonista09.htm). Civita sofreu um aneurisma abdominal e foi internado para uma cirurgia de implantação de stent na veia aorta. Uma hemorragia de graves proporções, no entanto, tornou o quadro de saúde dele grave, prolongando por prazo indeterminado sua internação e os cuidados médicos a que vem sendo submetido. Isso levou a empresa, inclusive, a comunicar ao mercado seu afastamento temporário e a nomeação interina de seu filho Giancarlo Civita, o Gianca, para a Presidência Executiva do Grupo. Influentes formadores de opinião e dirigentes de dois dos mais importantes grupos de comunicação do País, Civita e Mesquita são personagens relevantes da imprensa brasileira desde a segunda metade do Século XX. Com a ausência de Ruy, perde a imprensa brasileira um dos mais notáveis protagonistas de sua história, herdeiro das tradições de seus antepassados. Homenageado pela Mega Brasil em abril de 2004 com o Prêmio Personalidade da Comunicação, em concorrida solenidade no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, Ruy Mesquita fez um dos mais duros discursos contra o que chamou de murdochização da mídia, em alusão ao megaempresário Rupert Murdoch, então acusado de adotar uma postura mercantilista e negocial nas empresas jornalísticas que adquiriu e que comandava. No ano seguinte, o mesmo prêmio foi concedido a Roberto Civita. Confira na edição de Jornalistas&Cia que circulou no final da tarde desta 4ª.feira (22/5) a íntegra desse discurso e mais detalhes da morte do Dr. Ruy.

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