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quarta-feira, janeiro 15, 2025

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Rio de Janeiro: ?Fui chamada de X-9?

Por Cristina Vaz de Carvalho Rótulo de alcaguetes pode provocar revide dos manifestantes em futuras manifestações As manifestações no Rio, como em todo o País, chocaram bastante os profissionais envolvidos na cobertura dos fatos. Sob esse ponto de vista, a expectativa é de que a situação vai piorar. As autoridades devem usar as imagens para identificar os que realizaram atos de vandalismo – internacionalmente chamados de Black Blocs, grupos que questionam o sistema, mascarados para impedir a identificação pelas autoridades – e essas imagens provêm da cobertura que os jornalistas fizeram. Portanto, a persistir a movimentação, os manifestantes devem intensificar contra eles suas hostilidades. Veja registrou que uma equipe da TV Globo foi encurralada por manifestantes, e um grupo a atacou com xingamentos como “ei, Globo, vai tomar …”. Jogaram sacos de lixo e a equipe só não foi mais maltratada por estar protegida por seguranças da emissora, conforme relato do jornal O Globo. Seguranças da emissora? Equipes acompanhadas por seguranças é algo novo no Rio, cidade já tão habituada às zonas de conflito. Luiz Carlos Azenha, no seu site Vi o mundo,  postou que “repórteres da Globo não usaram o cubo que identifica a TV quando estavam próximos dos manifestantes”. Na 2ª feira (17/6), o carro do radialista Fabrício Ferreira, um Ford 1993, foi o primeiro a ser queimado pelos manifestantes (e exaustivamente mostrado em imagens de tevê). Fabrício é operador de áudio, trabalha à tarde na Rádio Tupi e à noite na Rádio Manchete (que funciona na rua da Assembleia nº 10), e estaciona seu carro ao lado da Assembleia Legislativa (Alerj). Assistiu a tudo pela janela, desolado: o carro ainda não estava quitado nem tinha seguro. A primeira reação partiu dos amigos que fizeram uma “vaquinha” online. Ele mora na Baixada Fluminense, a renda da família é complementada por sua mulher que vende lingerie, e transportava a mercadoria no carro incendiado, o que aumentou seu prejuízo. Mas, no dia seguinte, Fabrício teve solidariedade inesperada no programa Show do Pedro Augusto, da Tupi, quando o apresentador se ofereceu de público para lhe dar um carro novo. O jornal O Globo teve três equipes na rua, com Antônio Werneck, Gustavo Goulart e Vera Araújo. Vera, que esteve nas manifestações de 5ª.feira da semana passada e nesta 2ª, lembra: “A gente se sentiu ali participando da História. Em mais de 20 anos de profissão nunca vi coisa parecida. A parte inicial foi emocionante, 100 mil pessoas piscando luzes. O final foi grotesco, 200 ou 300 destruindo tudo em volta. Olha que eu subo morro, no meio de tiroteios, e nunca vi isso. Era pedra para tudo quanto é lado. Eu filmando, e pedras vindo na minha direção, quebrando os holofotes dos monumentos em volta. Éramos vistos como inimigos pelos dois lados. Fui chamada de X-9”. Depois da manifestação de 13/6, quando foram usadas bombas de gás lacrimogêneo, as equipes pediram máscaras e óculos, e foram atendidas pela Chefia de Redação. A avaliação dos que os usaram é que ajudou bastante. Aziz Filho, editor-chefe de O Dia, comemorava aniversário na 2ª.feira e convidou os amigos para um pub na Lapa. Passou a noite trabalhando e, sem outra alternativa, sugeriu que a festa fosse transferida para o ano que vem. A capa do jornal, com foto da manifestação pacífica na diagonal, diferente da que foi amplamente veiculada (do “repórter aéreo” Genilson Araújo), ganhou elogios. Os repórteres acreditam que havia muitos agentes infiltrados ali. E alguns se lembravam do caso do RioCentro, a cada pedra que passava perto da sua cabeça, achando que poderia ser uma bomba. Um fato os marcou: no meio do caos, certas pessoas tentavam se organizar. Houve tiros de verdade, e quem cobria viu os estudantes de Medicina da UFF, presentes à marcha, acudindo os feridos. Outro grupo, no dia seguinte, convidava voluntários para fazerem uma limpeza dos prédios históricos pichados e depredados. Não se atacaram prédios pertencentes ao patrimônio histórico do Rio, mas à História do Brasil. Ao mesmo tempo que, em Brasília, manifestantes ocupavam a laje do Congresso, no Rio incendiavam a entrada da Assembleia Legislativa. O prédio foi construído para sediar a Câmara dos Deputados na então capital da República. O Palácio Tiradentes tem esse nome porque naquele terreno funcionou a cadeia em que o inconfidente passou seus últimos dias. Outro local atingido foi o Paço Imperial, construído por Dom João VI, que aqui chegou quando Napoleão invadiu Portugal. O mais provável é que o grupo de manifestantes não tivesse noção dos símbolos que agrediam. Na mesma 2ª feira, tanto na TV Record como na GloboNews, jovens repórteres disseram que esta foi a maior manifestação que já houve no Rio de Janeiro. O livro de Evandro Teixeira 1968 Destinos – Passeata dos 100 mil (editado por sua filha Carina Almeida) está aí para mostrar que o Rio já viu esse filme.

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