A Abraji contabilizou 21 casos de violações contra profissionais de imprensa durante os protestos realizados no 7 de Setembro. A polícia foi a autora de 85% das agressões – 18 casos –, na maioria por uso ostensivo de spray de pimenta. Os números podem aumentar conforme mais casos forem confirmados. Os casos registrados pela Abraji estão organizados em uma planilha disponível para download. A entidade concluiu a matéria sobre o assunto resumindo o sentimento geral: “Agressões são sempre injustificadas. Quando os agredidos são repórteres, todos os cidadãos terminam sendo vítimas da falta de informação”. As reações à violência no Rio… As agressões contra os jornalistas, ocorridas nas manifestações de 7 de Setembro no Rio, ecoam ainda durante a semana. No feriado, houve protestos pela manhã, no Centro da cidade, durante o desfile militar; à tarde, no Largo do Machado, Zona Sul do Rio e, mais tarde no Palácio Guanabara, sede do Governo, com depredações e várias prisões; à noite, a Lapa foi o cenário para as bombas de gás lacrimogêneo. Paulo Araújo, de O Dia, foi agredido por policiais, feriu-se com estilhaços e teve sua mochila queimada; Marcos Paula, da sucursal do Estadão, sofreu efeitos de bombas de efeito moral atiradas pela polícia. Um repórter do jornal digital Nova Democracia foi detido durante os protestos. O caso mais rumoroso, porém, foi o de Júlio Molica, da GloboNews, atingido no rosto por spray de pimenta da polícia ao fotografar com celular a confusão durante o desfile. Em seguida, identificado pelos manifestantes, Júlio foi encurralado junto da estátua de Zumbi dos Palmares, na Praça Onze, Centro do Rio, quando os black blocs queimaram a bandeira do Brasil para hastear uma bandeira preta. Sob o argumento de que ele trabalhava escondido, agrediram-no com chutes e o expulsaram do local. Como em manifestações anteriores, a intervenção de colegas da imprensa, que o cercaram e tiraram dali, impediu que prosseguisse a pancadaria. A agressão foi gravada pelo grupo Ninja e publicada no You Tube com áudio em que se ouvia: “Falei pra ele ir embora, que ia dar confusão… Garoto novo, quer ganhar espaço na mídia… Não pode”. No dia seguinte, Fernando Molica, de O Dia, em seu site pessoal, reagiu: “Os caras não querem simplesmente ocupar as ruas. Querem que o espaço público seja apenas deles”. Molica é pai de Júlio, e sentiu-se duplamente atingido por ter um fotógrafo de O Dia também vitimado pelos ataques. Houve mesmo quem defendesse uma reação física, como Marcos Antônio de Jesus na madrugada da Rádio Globo. Na 2ª.feira (9/9), Neise Marçal, em seu programa (Redação Nacional, diariamente das 8h às 11h na Rádio Nacional AM 1.130 ou no ebc.com.br/rádios), entrevistou Paula Máiran, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Município, cobrando um posicionamento da entidade diante da indignação dos colegas pelo que ocorreu no fim de semana. Neise comentou depois: “Fiquei revoltada. O ponto alto foi ver os que se dizem mídia queimando bandeiras e chutando jornalistas. Jogaram tinta vermelha na cabeça do Júlio para marcar, como faziam os nazistas”. A entrevista teve grande repercussão, e acendeu um bate-boca no facebook entre Molica e Paula, com comentários de profissionais de O Globo e O Dia. Circulou também, no meio, a notícia de que o Sindicato abriria suas portas para uma reunião dos black blocs. O vice-presidente Randolpho de Souza confirmou a informação: “Ainda vamos marcar a data. A reunião foi proposta pelo Sindicato, depois da plenária que decidiu abrir espaço para discutir os programas deles”. E as discussões devem render. … e em Brasília Profissionais de Brasília sofreram violência durante os protestos do Dia da Independência. Quatro repórteres do Correio Braziliense foram atingidos por jatos de spray de pimenta: Arthur Paganini, Carlos Vieira, Janine Morais e Monique Renne. No mesmo dia, a Secretaria de Segurança Pública do DF informou ser inverídica a notícia de que Ueslei Marcelino, da Reuters Canadá, teria sido mordido por um dos cães do BPCães durante manifestações nas redondezas do Estádio Mané Garrincha. A informação foi publicada nos sites de IstoÉ, Estadão, Yahoo e outros veículos. Segundo o órgão do GDF, Ueslei teria caído ao correr, machucou o joelho e foi atendido pelo Samu. Já o Sindicato dos Jornalistas do DF divulgou nesta 2ª.feira (9/9) carta aberta em que repudia a repressão a profissionais de imprensa durante a cobertura, que “remete aos piores momentos da ditadura no Brasil” e exige “uma sindicância rigorosa sobre os episódios relatados por vários profissionais. (…) Esperamos que as empresas de comunicação locais se manifestem contra as arbitrariedades cometidas pela PM, além de oferecer condições adequadas para trabalho em situações de risco. Aguardamos também um posicionamento da Câmara Legislativa, do Ministério Público e demais instituições responsáveis por zelar pelos direitos humanos”. Em nota, a EBC também repudiou as agressões de integrantes da Polícia Militar do DF a Luciano Nascimento, da Agência Brasil. O repórter, que cobria as manifestações no Setor Hoteleiro Sul, testemunhou policiais da Tropa de Choque atirarem bomba de gás lacrimogêneo contra a cabeça de um manifestante. Ao tentar apurar o ocorrido, mesmo se identificando, foi agredido por três policiais com spray de pimenta e empurrões.