Reproduzimos, com a permissão do autor, texto que Cesar Barroso publicou em 3/5 no Achei USA – Brazilian Newspaper. Cesar ([email protected]), que foi repórter do Jornal do Brasil e vive hoje nos Estados Unidos, é editor de texto e de fotografia da revista online miamihoje.com.
As minhas rádios favoritas
Definitivamente não sou saudosista. Isso também não quer dizer que desprezo o passado. Continuo a gostar de minha infância e juventude, das ruas por onde andei no meu Rio de Janeiro, das pessoas com as quais convivi. Mas ficar a toda hora lembrando daqueles lugares e acontecimentos, lamentando os dias de hoje em comparação aos de ontem, me iludindo com a volta ao passado, não é o meu estilo.
Faço essa introdução para falar sobre a Rádio Nacional do Rio de Janeiro e sobre a WLRN de Miami. Uma foi a minha rádio de ontem, a outra é a minha rádio favorita de hoje. A Rádio Nacional pontificava na década de 1950. O Repórter Esso era obrigatório para quem quisesse se julgar bem informado. A famosa música de abertura soava como a corneta de convocação geral de um quartel. Todos corriam para junto dos aparelhos de rádio. A voz de Heron Domingues tinha a autoridade da de um chefe de estado.
Quando era anunciada uma “edição extraordinária” as pessoas se entreolhavam assustadas e ao mesmo tempo mortas de curiosidade. Outro forte da Rádio Nacional eram os programas de auditório de Manoel Barcelos e de César de Alencar. O primeiro tinha como atração principal a cantora Marlene. O outro, Emilinha Borba. Ambas eram excelentes cantoras e seus fãs clubes se digladiavam, inclusive fisicamente. Dessa época guardo ainda recordações de Jorge Veiga, Luiz Gonzaga, as irmãs Linda e Dircinha Batista, Isaurinha Garcia, Ruy Rei e do chorado Francisco Alves.
Quando eu tinha oito anos, uma vizinha me levou com sua filha ao Programa César de Alencar. Foi uma experiência marcante estar ali, vendo, ouvindo e sentindo a presença de todos aqueles dos quais eu conhecia apenas as vozes. Fiquei na primeira fila e recebi uma piscadinha de olho da Emilinha. Que felicidade! Outro fato inesquecível, risível, e que ficou na história da família, foi que no dia do capítulo final da novela O direito de nascer, que durara quatro anos, nosso aparelho de rádio parou de funcionar. Salvou-nos o meu avô Levino, que conseguiu um rádio emprestado na vizinhança.
E o humorístico Balança mas não cai, cujas piadas eram repetidas por toda a gente no dia seguinte à sua apresentação; quem não lembra? Os tempos mudaram e eu também. A Rádio Nacional já não brilha mais, eu vivo em Miami, tenho outros interesses na vida, mas certamente o amor pelo rádio ficou. E aqui eu tenho a minha rádio, a WLRN, a FM 91.3 MHz, que faz parte da rede National Public Radio. Para o brasileiro que está aprendendo a língua da casa e para aquele que já sabe, o inglês culto falado na WLRN educa.
Alia-se à forma o conteúdo, e nisso a minha rádio é imbatível, tanto na programação local quanto na nacional, quando opera em rede com a NPR. Jamais deixo de aprender alguma coisa interessante no programa de entrevistas de Diane Rehm, que vai ao ar de 2ª a 6ª.feira das 10 da manhã ao meio-dia. Entrevistadora experiente, Diane conversa com seus convidados sobre assuntos palpitantes, e procura colocar juntas no ar vozes divergentes.
Outro programa excelente é o de jazz, a partir das 21h30, com Tracy Fields. A seleção é de primeira, e a voz de crooner da apresentadora dá um toque elegante ao show. Vai até à uma da manhã. Nada melhor do que ouvir um Miles Davis inesperado, à meia-noite… Bonnie Berman e Joseph Cooper, cultos, bem-humorados e irônicos, comandam Topical Currents, um programa local sobre os problemas da cidade, história e estórias de Miami, vida cultural e gastronomia.
Eles convidam frequentemente Linda Gassenheimer, colunista de gastronomia daqui mas de fama nacional, quando o assunto é restaurantes e culinária. O programa acontece de uma às duas da tarde, nos dias de semana. Altamente recomendável para quem quer saber o que está acontecendo em Miami. Para assuntos interessantes e pitorescos sobre o nosso mundo, ouço The World, das três às quatro da tarde.
Foi ali que fiquei sabendo que na Copa do Mundo no Brasil o instrumento musical oficial será a caxirola, usada na capoeira. Faz um barulhinho de chuva, e certamente menos irritante do que o da vuvuzela da copa da África do Sul.