Por Cristina Vaz de Carvalho, editora de J&Cia no Rio de Janeiro
As redações brasileiras, como aliás qualquer função em qualquer empresa no mundo, foram muito afetadas pelo avanço descontrolado da variante Ômega. Apesar do silêncio da maioria sobre esse assunto, vemos profissionais que deixaram de assinar matéria, ou rostos e vozes que foram substituídos no rádio e nas telas.
Vacinação completa é requisito
No Grupo Estado, para uma redação de 350 pessoas atualmente, cerca de dez foram contaminadas em dezembro. Agora, segundo J&Cia apurou, esse número triplicou e acredita-se que chegue a quadruplicar até o final do mês. Quando houve a variante Delta, alguns chegaram a ser internados, hoje não mais. Todos os afastados foram casos leves.
A empresa programava a volta paulatina ao trabalho presencial a partir da semana que vem, mas adiou esses planos indefinidamente. Permanece, porém, a vacinação completa como um dos requisitos para a volta. E as pessoas estão aderindo
Todo dia cai um
Na Band, a arquitetura ajudou bastante a redação, que funciona num único plano, com janelões enormes. Tudo aberto, circula muito ar, diz Andre Basbaum, diretor de Redação do Jornalismo da emissora para todo o Brasil, e que acumula a função de editor-chefe do Jornal da Band. Apesar de tomar total cuidado – máscaras, divisórias de acrílico em caso de proximidade, desinfetantes –, ele teve entre 55% e 60% da redação afetada. “Todo dia cai um, às vezes dois, até três. Ontem, quando tivemos um jornal diferente [por causa da estreia do Faustão], do time de repórteres só tive três no ar”.
Os repórteres mais expostos, que trabalham na rua, sequer entram na redação. Entregam material na portaria e vão para casa, fazer o texto e enviar de lá. A maioria está trabalhando de casa, como os produtores de pauta, pessoal da informática, até editores que se baseiam no contato com agências e correspondentes, enfim, tudo o que pode ser feito remotamente.
Testagem diária
A Globo tinha iniciado, desde o final do ano, o trabalho híbrido – para cada dois dias na empresa, eram três em casa –, com funcionários alternando-se entre o presencial e o virtual, conforme comunicado divulgado por Carla Bittencourt no site Metrópoles. Na semana passada, a empresa suspendeu esse sistema, e orientou, para as áreas que podem trabalhar 100% em home office, que ficassem em casa.
Até então, os que precisaram manter o trabalho presencial eram testados quase diariamente, toda vez que precisassem entrar em estúdio. Não são apenas os rostos conhecidos que foram trocados. O pessoal da produção do Jornalismo está sendo transferido até para o BBB e outras atrações, devido à quantidade de gente afastada por Covid.
Sem gravidade
Em Belém, estão doentes e foram afastados dois jornalistas do jornal O Liberal e uma repórter da TV Liberal. Os três sem gravidade.
No Pará, o Sindicato dos Jornalistas (Sinjor-PA) fez acordo com a Prefeitura de Belém e com o Governo do Pará para que os jornalistas tivessem prioridade na vacinação. E todos já estão fazendo a dose de reforço.
No Ceará, a nova variante ômicron tirou das redações 12 jornalistas. Na TV Verdes Mares foram dois: Mateus Ferreira e Marcos Montenegro. Na Rádio Verdes Mares AM, também dois: Daniela de Lavor e Antero Neto. Na TV Jangadeiro, três: Lorane Mendonça, Rômulo Magalhães e Julie Vieira. Isolou ainda Mário Kempes (Blog do Kempes), Angélica Martins (Arce), André Marinho (Grupo Cidade de Comunicação), Eliézer Rodrigues (Tribunal Regional do Trabalho) e Eduardo Freire (Unifor). Todos, felizmente, sem gravidade.
Nessa terça-feira, 18/01, Renata Vasconcellos, recuperada da Covid-19, foi ela própria atração do Jornal Nacional, da Globo, ao relatar pormenores da doença, num pingue-pongue com William Bonner. De certo modo um recado que ninguém está imune, mas que felizmente a doença tem perdido intensidade com o avanço das vacinas.
Início do fim?
Existe um consenso, reforçado por opiniões científicas, de que essa explosão de ômicron é o prenúncio do fim da pandemia. Será? Que assim seja.