Por Luciana Gurgel
Aos 95 anos, a rainha Elizabeth II demonstrou que acomodação é palavra que não faz parte de seu vocabulário.
No início das comemorações pelos 70 anos no trono, a monarca protagonizou mais um espetáculo de relações públicas, aproveitando cada momento para fortalecer a imagem da monarquia e ajudar a neutralizar a crise causada pelas encrencas do filho Andrew.
Nesse roteiro, recados foram transmitidos sutilmente.
Na mensagem oficial, no sábado (5/2), a doce Elizabeth agitou o país ao “pedir” à população que aceite a nora Camilla como rainha consorte.
Traduzindo: Charles será o rei, e não o filho dele, William, em quem muitos apostavam. Mas, podendo sussurrar, para que gritar? Elegância é isso.
No domingo do Jubileu, a imagem postada nas redes não era a de uma vovó no jardim ou na igreja. A cena foi de uma mulher ativa, analisando papéis da famosa “red box” (caixa com documentos oficiais), ao lado do secretário particular.
Traduzindo: Elizabeth II não vai abdicar nem desacelerar, como fez recentemente por recomendação médica, gerando rumores de que seria para sempre.
Assim funciona a “Firma”, que tem na rainha sua melhor agência de propaganda, como disse o publicitário Washington Olivetto em entrevista ao MediaTalks.
A metáfora empresarial não é exagero. A riqueza financeira e o capital de reputação da família real britânica foram quantificados pela consultoria britânica Brand Finance, empregando a mesma metodologia usada para atribuir valor de marcas globais.
Marca Royal Family: a marca mais valiosa do país
Em 2017, ano da última medição, ela valia £ 67,5 bilhões, incluindo ativos, como jóias e imóveis. Sem contar esses ativos, o valor seria de £ 42 bilhões, consagrando-a como a marca mais valiosa da Grã-Bretanha na época, batendo a da Shell e posicionada entre as dez de maior valor do mundo.
Em conversa na semana passada com David Haigh, CEO da Brand Finance, falamos sobre os ativos que a fazem tão admirada, sentimento que se estende à instituição que representa.
Ele acha que o engajamento em causas em nível global, que começou com o príncipe Philip, é um dos fatores. Outro é a coerência de Elizabeth II com princípios morais. “Há respeito pela postura de honestidade, decência e discrição”, disse.
Haigh salientou ainda a sabedoria da rainha em ficar longe de questões controversas, embora tenha opiniões fortes. “É uma mulher sensata, embora alguns possam achá-la sem graça”.
Para azar dela e da instituição, a prática não foi seguida por todos os familiares, o que deve tê-la incomodado. Mas não afetou sua imagem.
Perguntado sobre lições de Elizabeth II para marcas e companhias, o CEO ressaltou a consistência e a excelência na execução da “atividade-fim”: “A forma como realizam eventos − casamentos, funerais, abertura do Parlamento − é exemplar, virou referência mundial”.
A rainha e a Apple
E comparou a marca Royal Family à Apple, “um fabricante de alto nível, honesto, ético, focado nos detalhes, com alto controle de qualidade”.
“Se a Apple produzir um telefone ruim, isso vai afetar a sua reputação − e o mesmo acontece com a família real sob o comando de Elizabeth II”.
Haigh acha que a melhor lição da “Firma” para empresas é executar sua missão da melhor forma possível, com qualidade e consistência nos valores.
Falando sobre o futuro, ele manifestou dúvidas sobre se esse capital positivo será transferido ao herdeiro do trono. Uma das razões é o fato de Charles expressar opiniões sobre temas sensíveis e manter conversas diretas com políticos, o que o deixa mais exposto.
O Haigh também considera que o futuro rei perde ao assumir o trono mais velho, ao passo que a mãe o fez aos 25 anos, com imagem de família jovem parecida com a de William e Kate.
Mas outro dos valores que o CEO da Brand Finance destaca como elemento que compõe a alta reputação da rainha é a lealdade. Sob essa ótica, não mandar Charles para escanteio para dar a vez ao jovem William, como muitos defendiam, foi uma demonstração de lealdade que deve somar mais pontos na cotação real.
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