Segundo monitoramento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), dos nove presidenciáveis nas eleições deste ano, quatro bloquearam ao menos um jornalista no Twitter. O primeiro da lista é o presidente Jair Bolsonaro, com 86 bloqueios a jornalistas e dez vetos a veículos de comunicação.

Entre Bolsonaro e o segundo colocado, Sérgio Moro, há um abismo: o ex-ministro da Justiça bloqueou dois jornalistas. Em seguida no ranking aparecem João Doria e André Janones, com um bloqueio cada. Lula, Ciro Gomes, Simone Tebet, Eduardo Leite e Felipe d’Avila não bloquearam jornalistas na rede social. Vale lembrar, porém, que todos ainda são pré-candidatos, pois as candidaturas são oficializadas apenas a partir de julho.

Repórteres e especialistas ouvidos pela Abraji destacam que, assim que passam a ser candidatos, eles “se tornam personalidades de interesse público, e o bloqueio veta acesso a conteúdos publicados por políticos e exclui possibilidade de interação com eles”. No caso de Bolsonaro, o bloqueio impede também o acesso a anúncios de políticas governamentais. Reportagem da Abraji publicada em setembro do ano passado destaca que mais de 98% dos tuítes de Bolsonaro são de interesse público.

Caio Machado, presidente do Instituto Vero, focado em pesquisas sobre desinformação, lamenta que nenhum tribunal tenha encarado a questão da restrição de acesso nas redes sociais. Em entrevista à Abraji, ele destaca que, uma vez que os candidatos eleitos passam a usar as redes sociais como canal de comunicação com o público, essas contas devem responder às obrigações do Poder Público: “Imparcialidade, eficiência, impessoalidade e tantas outras coisas, que não são respeitadas”.

O especialista cita o exemplo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Cortes de apelação do país haviam proibido o político de bloquear jornalistas no Twitter pois suas postagens iniciavam fóruns públicos de discussão, portanto “não caberia ao ex-presidente fazer moderação privada”.

Procurado pela Abraji, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) disse que não trabalha com a figura do pré-candidato e que deve lançar um guia de boas práticas para os candidatos. Especialistas ouvidos pela Abraji analisam que os presidenciáveis “não são figuras públicas como políticos com mandato, mas são objetos de interesse público”.

Ao Núcleo Jornalismo, o Twitter disse que não interfere na decisão de autoridades bloquearem usuários pois acredita que o recurso é prerrogativa de quem usa a rede social. Mas, segundo Wilson Gomes, professor da Universidade Federal da Bahia, “autoridades do alto escalão e também candidatos a cargos públicos que usam as redes sociais para promover comunicação com o público amplo podem usar o veto para controlar a visibilidade de postagens e segmentar seu conteúdo a certas comunidades”.

“No caso de Bolsonaro, isso é muito claro”, destaca o professor. “Durante todo o seu mandato ele nutriu uma animosidade com os jornalistas, seja por meio de ataques ou dos bloqueios, ao passo que anuncia seu canal como via de informação do governo. Ao mesmo passo, sempre fez acenos a bases fiéis. Essa estratégia parece se perpetuar neste ano eleitoral”.

A Abraji monitora desde setembro de 2020 o bloqueio de jornalistas por parte de autoridades brasileiras. Até o momento, 46 autoridades bloquearam profissionais de imprensa 343 vezes.

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