Está marcado para esta 5ª.feira (13/2), das 7h às 11h, no Memorial do Carmo, no bairro carioca do Caju, o velório de Santiago Andrade, cinegrafista da Band atingido na cabeça por um rojão durante as manifestações no Centro do Rio, na semana passada (6/2). A polícia sabe que dois homens manusearam o rojão que explodiu na cabeça de Santiago. Com os dois suspeitos presos, prosseguem as investigações para comprovar a participação deles no assassinato. Santiago morreu na manhã de 2ª.feira (10/2), depois de quatro dias internado no hospital Souza Aguiar. Carioca, 49 anos, morava em Niterói e deixa viúva e uma filha, Vanessa Andrade, também jornalista. Ele estava na Band havia dez anos, participou de grandes coberturas e ganhou dois prêmios Mobilidade Urbana, da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Rio), em 2010 e 2012, por trabalhos sobre o transporte público. Por ironia, foi morto durante manifestação contra o aumento das passagens de ônibus. Entre as muitas notas de protesto emitidas por entidades nacionais e internacionais, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) – criada após o assassinato de Tim Lopes e que se destaca pela disseminação das medidas de segurança em coberturas de risco – contabiliza 117 casos de agressão em manifestações, tanto por manifestantes quanto por policiais, desde o início dos protestos de rua de 2013. Diante do primeiro caso fatal, cobra providências das autoridades pelo flagrante atentado à liberdade de imprensa. A nota mais contundente, porém, partiu da Arfoc (Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos), que exige que as autoridades de segurança apurem “quem defende, financia e presta assessoria jurídica a esse grupo de criminosos”. Alberto Jacob, presidente da Arfoc-Rio, lembra que, antes de Santiago, em 2011, morreu Gelson Domingos, também da Band, com um tiro de fuzil durante a cobertura de confronto entre policiais e traficantes. “É mais um morto nas mesmas circunstâncias, sem equipamento, sem proteção. As empresas precisam se conscientizar de que um profissional de imagem não pode sair sozinho. Com aquilo no olho, não vê o que acontece em volta. Precisa ter assistente, tem que estar em grupo, não pode se expor tanto assim”. A repórter Fernanda Corrêa, que trabalhava com Santiago naquele momento, mas estava afastada dele, faz um alerta: “Assim como hoje aconteceu com meu companheiro, amanhã pode ser com o seu. Vamos nos proteger”. Jacob prossegue: “Não podemos ficar só em nota oficial. As instituições que representam os jornalistas vão se reunir para fazer alguma coisa. Ainda não sabemos o quê, mas vamos fazer”. No dia da morte, 50 jornalistas de imagem prestaram uma homenagem a Santiago no Centro do Rio, na Candelária e depois na Central do Brasil, colocando no chão as câmeras, capacetes e máscaras de gás, e fazendo um minuto de silêncio. Esse gesto foi repetido outras vezes, no dia seguinte, no local da morte e em frente à delegacia que apura o caso. Em Brasília, cinegrafistas, auxiliares e fotógrafos que trabalham na cobertura do Congresso Nacional também fizeram, na tarde de 2ª.feira, um ato pelo fim da violência contra jornalistas. Posicionados na rampa do Congresso, 20 profissionais cruzaram os braços e depuseram suas câmeras no chão. Ao longo do dia, parlamentares se revezaram em plenário para lamentar a morte de Santiago. Alguns senadores defenderam a aprovação imediata do Projeto da Lei Antiterrorismo (PLS 499/13), para punir crimes contra jornalistas. “Nós poderíamos ver a possibilidade de um entendimento de líderes para colocarmos essa matéria em apreciação já”, defendeu o senador Jorge Viana (PT-AC). “Ela precisa de dois turnos. Não é uma resposta direta porque houve uma morte hoje. Nós estamos debatendo isso desde o ano passado”. O projeto inclui como ato típico de terrorismo “provocar ou difundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa ou tentativa de ofensa à vida, à integridade física ou à saúde ou à privação da liberdade de pessoa” e estabelece penas de 15 a 30 anos de reclusão ou de 24 a 30 anos se resultar em morte. O PL também estabelece punição para quem financia esse tipo de crime ou custeia a prática de alguma forma. A proposta foi encaminhada pela comissão do Senado criada para regulamentar dispositivos constitucionais. Depois de aprovada, ela seguirá para a Câmara dos Deputados.