Por Victor Félix

Em plena pandemia de Covid-19, em meio ao crescente número de fake news e informações falsas sobre ciência, saúde e o novo coronavírus, o Instituto Butantan percebeu a urgência de fazer mudanças em sua comunicação. J&Cia conversou com Vivian Retz, gerente de comunicação do Butantan desde setembro de 2020, que comandou essa transformação.

Vivian Retz

Antigamente, mesmo antes da pandemia, a preocupação era que a imagem do Instituto estava muito vinculada a “cobras”. Dimas Covas, presidente do Instituto, queria mudar isso, e mostrar que o Butantan é muito mais, um pólo de vacinação, distribuidor de vacinas em toda América Latina. Vivian foi contratada em um primeiro momento para trabalhar a marca.

Mas, com a chegada a pandemia, a ideia era valorizar a ciência e a vacinação, e combater fake news sobre o tema. O pontapé inicial deu-se no Projeto S, estudo do Butantan sobre a eficácia da Coronavac, que consistia em vacinar a população de Serrana, em São Paulo. Os resultados mostraram quedas significativas no número de infectados e mortos após a aplicação das doses.

O projeto teve um documentário, podcast, fotos, diversas matérias para mostrar o que estava sendo feito e − o objetivo principal de tudo − valorizar a vacinação e a saúde, e mostrar o trabalho do Butantan. Graças ao projeto, o instituto começou a ganhar holofotes. Foi nesse momento que Vivian assumiu definitivamente a comunicação da entidade, criando seis grandes áreas: textos, eventos, assessoria, audiovisual, redes sociais e artes, gerenciadas por ela própria. A equipe trabalha muito também a sua comunicação interna.

Após o Projeto S, o passo seguinte foi criar um portal de notícias, pois o site antigo era estático, e apenas no final das páginas apareciam as notícias. “Pensei: as pessoas precisam entrar nesse portal e ter a sensação de que ele é atualizado a todo o momento, todos os dias”, explicou Vivian. Foi criado um rotativo, atualizado constantemente, a seção fato ou fake, entrevistas com especialistas, e isso ajudou muito no relacionamento com a própria imprensa, os jornalistas passaram consultar mais o Instituto e utilizá-lo como fonte.

O site tem diferentes áreas com notícias, outra dedicada a crianças, e outra para especialistas, com linguagem mais técnica. A ideia é atingir diferentes públicos e manter o interesse na ciência.

As redes sociais do Butantan também passaram por mudanças. A equipe realizou uma ação orquestrada para defender a vacina. Foi criada uma nova identidade visual, com o objetivo de dar uma nova cara ao Butantan, e passaram a monitorar assuntos que estavam em alta, com a criação de materiais que pudessem contraditar as informações falsas que estavam sendo propagadas, sempre apresentando argumentos científicos de especialistas do Butantan.

Tais mudanças deram resultado: Em maio deste ano, o Butantan recebeu um selo do Google parabenizando o instituto pela marca de 1 milhão de acessos apenas pela plataforma. Além disso, muitas matérias foram republicadas na imprensa, e o site bateu os milhões de acessos. Nas redes sociais também houve grande impacto: O Instagram do Butantan, antes com 8 mil seguidores, agora tem mais de 1 milhão. Facebook e LinkedIn também aumentaram bastante. No YouTube, mais de dez milhões de visualizações.

“As fake news não surgem do nada”, explica Vivian. “Grande parte das vezes, as pessoas descontextualizam determinada informação, e aproveitam o fato de que muitos não leem as notícias por inteiro, mas apenas as manchetes. No caso das ‘vacinas magnetizadas’, no qual as pessoas compartilhavam que quem fosse vacinado seria magnetizado, eles tiraram de contexto o fato de que todas as vacinas têm uma quantidade irrisória de hidróxido de alumínio e que isso seria a causa, o que é falso”.

Cada uma das áreas da comunicação tem uma equipe específica. O time de texto, responsável pelas notícias do Portal, é composta por Caroline Mazzonetto, Aline Tavares, Natasha Pinelli, Camila Neuman e Mateus Carvalho. As redes sociais são responsabilidade de Cristina Mantovani, Paloma Santos, Guilherme Souza e Magno Araújo. E a assessoria de imprensa é de Giordana Mucciolo.

A ideia é manter esse interesse na ciência mesmo após a pandemia. O selo do Google foi recebido em maio de 2022, em um período em que a situação da pandemia já estava melhor, o que mostra que as pessoas seguem buscando sobre a ciência. “Além disso, o tema ciência está em alta, muitos influenciadores ganharam espaço nas redes sociais para falar disso, as pessoas estão tendo mais interesse em se informar, e por o Butantan ter uma atuação forte nas redes acaba se beneficiando desse fenômeno”, disse a gerente de comunicação.

Para manter esse interesse, o Butantan pretende investir mais em sua comunicação, em seu portal de notícias e nas redes sociais, criar um canal mais profundo com a comunidade médica, e aumentar ainda mais o combate ao movimento antivacina no Brasil.

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