Colegas jornalistas e entidades ligadas à liberdade de imprensa repudiaram o ataque do presidente Jair Bolsonaro à jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, durante o primeiro debate entre os candidatos à Presidência no domingo (28/8), organizado por Bandeirantes, Folha de S.Paulo, UOL e TV Cultura.
Vera fez uma pergunta ao candidato Ciro Gomes (e os comentários seriam de Bolsonaro) sobre a queda da cobertura vacinal no País, e se a desinformação sobre a eficácia da vacina da Covid-19 propagada pelo governo Bolsonaro teria influenciado esse fenômeno.
Após a resposta de Ciro, Bolsonaro respondeu: “Vera, não pude esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão em mim. Não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”. O presidente não respondeu ao questionamento sobre vacinas.
No mesmo debate, as candidatas Simone Tebet e Soraya Thronicke repudiaram o ataque de Bolsonaro e se solidarizaram com Vera. Simone declarou: “Nós temos que dar exemplos, exemplos que o presidente da República não dá quando ataca mulheres, quando ataca jornalistas. Eu não tenho medo de você e nem dos seus ministros”. Já Soraya disse: “Quando homens são ‘tchutchucas’ com outros homens, mas vêm pra cima da gente sendo tigrão, fico extremamente incomodada”.
A TV Cultura conversou com Vera após o término do debate e abriu espaço para um direito de resposta da jornalista: “Uma resposta lamentável, absurda. Minha pergunta era sobre vacinas, e ele não falou nada sobre vacinas, não respondeu a esse respeito, não falou nem por que demorou para comprar as vacinas contra a Covid-19, e nem por que propagou fake news e desinformação a respeito da eficácia e segurança delas. Preferiu me atacar pessoalmente, um ataque gratuito, despropositado e totalmente descontrolado. Tenho muito a lamentar, não é a primeira vez que isso acontece”.
Ao UOL, Vera declarou que Bolsonaro “transformou o machismo, a misoginia e a falta de políticas públicas voltadas ao governo dele no principal tema do debate e ele teve que recorrer a um papel para dizer o que fez pelas mulheres. (…) Ele já fez isso em relação a mim e a outras jornalistas mulheres, é da natureza dele, ele não gosta de ser questionado por mulheres”.
O episódio ganhou grande repercussão nas redes sociais. Colegas jornalistas repudiaram a atitude de Bolsonaro e se solidarizaram com Vera. Patrícia Campos Mello, repórter da Folha de S.Paulo, publicou uma foto ao lado da jornalista da TV Cultura, com a legenda “Orgulho da Vera Magalhães”.
Fernando Mitre, diretor de Jornalismo da Bandeirantes, escreveu que Bolsonaro, “ao se insurgir contra uma pergunta de Vera Magalhães, no debate, referiu-se a ela como uma ‘vergonha para o jornalismo’. Nada mais absurdo. O trabalho de Vera é um orgulho para os que exercem a profissão”.
Natuza Nery, comentarista da GloboNews, também comentou o ocorrido: “Não me surpreende, infelizmente, o ataque de Bolsonaro a uma mulher jornalista. Desrespeitoso e agressivo. Duvido que pegue bem entre eleitoras que ele deseja (precisa) conquistar”.
Em nota, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) escreveu que “os ataques do presidente/candidato apenas reforçam a sua falta de preparo para a convivência democrática, fator que deve ser ressaltado aos eleitores no transcorrer de uma campanha política que definirá o chefe do governo brasileiro para os próximos quatro anos”.