Carlos Marchi ([email protected]) acaba de fechar contrato com Editora Record para escrever a biografia do piauiense Carlos Castello Branco, o Castelinho, um dos principais colunistas políticos do Brasil entre os anos 1960 e 1990. Sob título provisório de Castelinho, jornalista do Brasil, a obra partiu de um desejo da própria filha do colunista, que cruzou o caminho de Marchi em uma situação inusitada, como conta o autor: “Fui esperar minha filha em Congonhas e a mãe dela, Beth, de quem estou separado há muito tempo, chegou num voo próximo. Dei carona às duas. Minha ex-mulher estava chegando do Rio, onde esteve longamente com Luciana Castello Branco, filha de Castelinho. Na conversa das duas, Luciana se disse amargurada porque nunca ninguém tinha pensado em fazer a biografia do pai. Na hora, Beth sugeriu meu nome; e Luciana me conhecia de Brasília havia longo tempo. Enquanto a carona rolava, ligamos para ela, que topou na hora. Ela tem me ajudado muito”. A expectativa de Marchi é entregar os originais até a metade de agosto. Ele diz acreditar que o lançamento será importante para a história da imprensa brasileira: “Nós, jornalistas, talvez sejamos muito tímidos para entender que nossas histórias compõem a História do Brasil. E, mais do que isso, que nossas atuações ante as ditaduras sejam, talvez, a mais precisa arma para as destronar. Não acho que a gente precise estudar a atuação dos nossos grandes jornalistas. Mas precisamos, sem dúvida, conhecê-las, porque elas são a grande referência de cada período histórico”. Mesmo com aval da Lei Rouanet, livro vai sair “no muque” Nascido em Teresina, em 1920, Carlos Castello Branco deixou a terra natal para estudar Direito na longínqua Belo Horizonte, em 1937. Na época, não existia voo para lá. O jeito era atravessar o rio Parnaíba de canoa e tomar um trem até São Luís do Maranhão. De lá, pegar um navio para o Rio de Janeiro e, em seguida, outro trem para BH. A aventura durava pelo menos 15 dias. E nessa embarcou o menino franzino, que fez sua própria vida se confundir com períodos importantes da história do País: “Quando esteve em Minas Gerais, formou um time inseparável com três figuras notáveis – Otto Lara Resende, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos”, conta Marchi. “Ganhou de Otto o apelido de ‘Homenzinho’, por sua baixa estatura. Ao longo dos anos, mostrou que o apelido mais correto seria ‘Homenzarrão’. Enfrentou duas ditaduras e aprendeu a combatê-las com as palavras. Feriu-as mais do que qualquer outro e foi preso por uma delas”. Dois anos após chegar à capital mineira, Castelinho começou como repórter de Polícia do Estado de Minas. Mas essa não seria sua primeira experiência em jornais: em 1934, ainda no Piauí, fundou ao lado de Neiva Moreira e Abdias Silva o jornalzinho A Mocidade. Em 1945 mudou-se de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, onde passou por Diários Associados, Diário Carioca, Tribuna da Imprensa e O Cruzeiro. Em 1961, Brasília passou a ser sua casa quando assumiu o posto de secretário de Imprensa de Jânio Quadros. No ano seguinte, estreou a Coluna do Castello, pela Tribuna da Imprensa. Referência para o jornalismo político, seguiu para o Jornal do Brasil, no qual sua coluna foi publicada por 30 anos – de 1963 a 1993, ano de sua morte –, em mais de oito mil edições. Além de colunista, ele foi chefe da sucursal de Brasília do JB. Conviveu com os principais personagens da política nacional de sua época, como Juscelino Kubistchek, João Goulart, Carlos Lacerda, Leonel Brizola, Miguel Arraes, Milton Campos, Petrônio Portella, Daniel Krieger e Fernando Henrique Cardoso. Em 1982 foi eleito para ocupar a cadeira número 34 da Academia Brasileira de Letras, onde foi recebido em 25 de maio de 1983. Carlos Marchi o conheceu em meados dos anos 1970. Sua relação com o biografado se estreitou em 1977, quando foi contratado como repórter de Política do JB. “Ele tinha uma curiosa simpatia por mim. Era uma pessoa muito fechada, mas elegia algumas pessoas. E eu era uma delas”, diz o autor. É, porém, uma passagem da época de atividade sindical que elege como favorita: “Um dos episódios mais gostosos que vou contar no livro é a tomada do Sindicato dos Jornalistas de Brasília, em 1977. Éramos um grupo de jovens e constatamos que precisávamos de um grande nome para encabeçar nossa chapa. Sugeri Castelinho, que trabalhava comigo no JB. Acharam que ele não ia topar. Fizemos o convite e ele topou. Ganhamos e demos uma bela contribuição para a restauração da democracia. Ele foi presidente e eu, secretário-geral. É um enorme orgulho ter em casa um exemplar de Os militares no poder com a dedicatória feita por ele: ‘Para Carlos Marchi, meu chefe político, fraternalmente, Carlos Castello Branco’”. Castelinho, jornalista do Brasil será o segundo livro de Carlos Marchi (que aceita sugestões alternativas para o título). O primeiro, Fera de Macabu (Record, 1998), conta a história de um fazendeiro acusado, em 1852, de uma chacina em uma de suas fazendas. Registrado no Ministério da Cultura, o projeto do novo livro ganhou aval da Lei Rouanet para ser captado, mas, segundo o Marchi, não conseguiu apoio de nenhuma empresa: “Vai sair no muque. No entanto, espero dar o exemplo para que histórias semelhantes de grandes jornalistas do passado – e temos tantos – sejam contadas por outros colegas. Coragem é o que nos basta”. E completa: “Espero que seja um baita livro. Um livro que conte histórias, que revele passagens notáveis, que analise as principais informações dadas por ele, que mostre a coragem como ele enfrentou a ditadura militar. Estou me esforçando para isso”. Leia mais + Klester Cavalcanti lança segunda edição de Dias de inferno na Síria + Reynaldo Tavares relançará livro que valoriza Landell de Moura + Tráfico, poder e morte se entrelaçam no segundo romance de Dimmi Amora