* Texto publicado originalmente pela Abraji

 

Depois de três dias de julgamento, o Tribunal de Sentença da cidade de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, absolveu Waldemar Pereira Rivas, o principal suspeito do assassinato do jornalista Leo Veras, 52 anos.

A alegação principal foi de que não havia provas suficientes para condenar Rivas, também conhecido como Cachorrão, pela autoria do crime. Durante o júri, a testemunha-chave disse em plenário que não podia contar muita coisa, já que não teria visto nem a fisionomia dos autores na noite do assassinato.

Katia Brembatti, presidente da Abraji, lembrou que na última quarta-feira (2.nov.2022) foi celebrado o Dia Internacional Pelo Fim da Impunidade dos Crimes Contra Jornalistas. “Isso é inaceitável. Não há dúvidas de que ele foi assassinado. Então, espera-se que as autoridades tomem as medidas necessárias para punir os responsáveis pelo crime. A memória de Leo Veras e todo o trabalho que prestou precisam ser respeitados, com uma ação condizente por parte das autoridades”, comentou Brembatti.

O Sindicato dos Jornalistas do Paraguai divulgou uma nota criticando o resultado do julgamento presidido pelas juízas Carmen Silva, Mirna Soto González e Ana Aguirre. Segundo o comunicado, este resultado “agride gravemente o direito da liberdade de expressão e a democracia, assim como os compromissos do estado paraguaio em matéria de direitos humanos”. O sindicato também critica o trabalho de investigação do Ministério Público e a atitude do tribunal em absolver o suspeito.

Monitoramento de ataques a jornalistas realizado pela Abraji com apoio da rede Voces del Sur já registrou mais de 450 ataques somente em 2022. Segundo Leticia Kleim, assistente jurídica da Abraji que coordena o monitoramento no Brasil, “para frear a escalada de violência, é urgente que as autoridades públicas atuem para investigar e tomar as medidas cabíveis para combater a impunidade das agressões e garantir a segurança dos trabalhadores da imprensa”.

O crime

Leo Veras

Em 12.fev.2020, na noite do crime, os assassinos surpreenderam Leo Veras enquanto ele jantava com a família. Pouco depois das 20h, dois homens invadiram a casa do jornalista. O barulho do destrave da pistola chamou a atenção do jornalista, que correu para o quintal. Os pistoleiros o seguiram e atiraram doze vezes.

A força tarefa montada para apurar o caso trabalhou em cinco linhas de investigação que poderiam ter motivado o crime. Segundo a equipe da Abraji que esteve no local do assassinato, oito horas antes da execução do jornalista, ele estava empenhado em buscar mais informações sobre duas mortes atribuídas a um pistoleiro do PCC: a de Adolfo Gonçalves Camargo, de 31 anos, em 16.ago.2019; e o desaparecimento do comerciante Roney Fernandes Romeiro, de 35 anos, dois dias depois da morte de Camargo.

Cachorrão foi preso como suspeito no dia 1.mai.2020 em Pedro Juan Caballero. Ele estava foragido desde fevereiro daquele ano e, segundo informações, integra a quadrilha de traficantes do PCC, que atua na fronteira do Brasil com o Paraguai. Cachorrão foi detido após ser reconhecido por policiais paraguaios, depois de causar um acidente de trânsito. O suspeito morava a poucas quadras da casa do jornalista assassinado e é o proprietário de um Jeep Renegade branco, que teria sido usado para transportar os três homens que estiveram na casa de Veras na noite de sua execução. Na época, Cachorrão negou o crime.

No mesmo ano, foram presos ainda mais quatro homens e uma mulher, todos suspeitos de ter ligação com o crime. Os tiros contra Veras foram disparados por uma pistola Glock 9mm, o mesmo modelo usado em execuções de outras pessoas na cidade de Pedro Juan Caballero.

Leo Veras era dono do Ponta Porã News, que produzia notícias da região da fronteira e fazia cobertura policial envolvendo também os crimes ligados ao PCC. O jornalista tinha dupla cidadania, era paraguaio e brasileiro, e assim, foi o terceiro caso a ser incluído no Programa Tim Lopes.

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