Admilson Resende, correspondente de J&Cia em Minas, conversou com Thales Rodrigues sobre sua carreira no jornalismo e como a orientação sexual influenciou sua vida profissional, precisando lidar, muitas vezes, com o preconceito em ambiente de trabalho. Thales começou na profissão em Juiz de Fora e agora atua na TV Gazeta, no Espírito Santo.

Jornalistas&Cia − Você enfrentou preconceitos com fontes e/ou colegas de trabalho por causa de sua orientação?

Thales Rodrigues − de algumas No início da carreira recebi conselhos pessoas, a maioria jornalistas homens gays, para não falar sobre a minha orientação sexual. Eles me alertaram sobre o preconceito que poderia sofrer e contaram suas experiências. Entretanto, nunca pensei em esconder quem eu sou. Afinal, ser LGBT é ser resistência e combater o preconceito.

Em vários momentos, ao longo dos meus dez anos de jornalismo, ouvi muitos comentários homofóbicos. A maioria foi feita por colegas de trabalho mais velhos, em tom de piada, que não tinha graça nenhuma e só escancara o preconceito enraizado. Como sempre fui muito combativo, retrucava o máximo que podia. Mas, houve situações em que, por ser muito jovem, ouvi tudo calado.

J&CiaJá foi vítima de assédio sexual e/ou moral em decorrência de sua orientação?

Thales − Trabalhando na rua estamos mais expostos ao preconceito. Há algum tempo, fui fazer uma entrada ao vivo para divulgar um evento organizado por uma entidade. Enquanto esperávamos, o entrevistado começou a falar sobre a comunidade trans e fazer comentários transfóbicos. O homem chegou a afirmar que mulheres trans têm por objetivo estuprar crianças e adolescentes. Contestei as afirmações dele e expliquei que aquilo era transfobia. Mesmo assim, ele continuou falando. A minha vontade, naquela hora, era sair dali e não fazer o ao vivo. Porém, não quis prejudicar as outras pessoas que se esforçaram para fazer o tal evento.

Mandei mensagem para a equipe que estava na redação e pedi para antecipar o ao vivo porque não aguentava mais ficar lá com aquele homem. Quando voltei pra TV, contei o que aconteceu e todos ficaram indignados. Assumimos o compromisso de nunca mais abrir espaço para aquela fonte dar qualquer entrevista.

J&Cia − A sua orientação já foi empecilho em processos de seleção e/ou contratação?

Thales − Há alguns anos fiz um teste para apresentar um programa e não deu certo. Após o piloto, ouvi de algumas pessoas que tinha me saído bem e mostrando um bom desempenho no vídeo. No entanto, para quem batia o martelo da escolha sobre o novo apresentador, eu precisava ser “mais homem” e ter uma voz mais grave. Interpretei isso como “precisamos de um homem hétero” ou “ele até pode ser gay, mas sem dar tanta pinta”.

Conversando com alguns colegas, percebo que essa questão de aparentar ser gay, ou não, pode, realmente, ser um empecilho em processos seletivos. Já vi e ouvi sobre casos de jornalistas, extremamente competentes, que têm as qualidades necessárias para um determinada vaga e não conseguem espaço no vídeo por serem afeminados.

Conheço pessoas que não se sentem à vontade para falar sobre sua sexualidade no ambiente de trabalho, por terem medo de sofrer algum tipo de preconceito. Para outros, o medo é em relação ao público, já que alguns jornalistas, conhecidos nacionalmente, relatam sofrer ataques e perderem seguidores quando postam algo sobre serem gays, lésbicas ou bissexuais.

J&Cia − Observa mudanças em relação ao preconceito e a intolerância atualmente? O que ainda precisa mudar?

Thales − Defendo a bandeira levantada por Liniker e Johnny Hocker naquela música Ninguém vai poder querer nos dizer como amar. Ser gay é uma parte importante de mim, mas não é a única. Os LGBTs precisam de respeito e acesso a oportunidades de ensino e trabalho. Somos o país que mais mata travestis e transexuais e é preciso mudar isso. A educação deve ser o principal caminho, mas não o único. O governo precisa desenvolver políticas públicas que garantam direitos e protejam os LGBTs.

 

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