O chargista e cartunista Ykenga (Bonifácio Rodrigues de Mattos) morreu na manhã de 1º/4, aos 71 anos, de infarto, em casa. Sua filha Allethea comunicou aos muitos amigos. O enterro foi nesta quarta-feira (3/4), no cemitério Parque da Paz, no bairro do Pacheco, em São Gonçalo. Deixa três filhas e três netas.
Nascido na Rocinha, frequentou escola pública até se transferir para o colégio Santo Inácio, frequentado pela elite carioca. Ali observou as desigualdades sociais, o que o fez abandonar os estudos. Aderiu aos ideais do movimento Black Power e teve tutores entre filósofos e sociólogos. No Senac Copacabana cursou desenho técnico, apesar de fazer desenho livre desde a infância. É desta época o apelido de Ykenga, aposto por sua avó africana, que o considerava um menino arteiro. Adotou-o como pseudônimo e assim ficou conhecido.
Começou a trabalhar nos anos 1970 em O Pasquim. Em 50 anos de profissão, criou cartuns para os jornais Última Hora, O Fluminense, O Povo na Rua, Jornal dos Sports, Jornal do Commercio, A Notícia, O Dia, Meia Hora e Extra; Tribuna da Bahia e O Povo, de Fortaleza. Colaborou com as revistas Bundas (de Ziraldo), Raça e Veja; com os sites Toda Palavra e Negrxs 50 Mais, entre outros, e na TV Brasil. Trabalhou para periódicos internacionais como La Juventud, do Uruguai; Starchel, da Bulgária; e Liberacion, da Suécia.
Participou de salões de humor brasileiros e internacionais, e ilustrou o catálogo do Salão Internacional de Caricatura de Montreal, no Canadá. Ilustrou, com texto de Najara Gonçalves, Luiza Mahin: a guerreira dos Malês; para Martinho da Vila, O nascimento do samba e outros; e Novos talentos, para a Academia Brasileira de Letras. Publicou trabalhos autorais, o livro de cartum Humor à la carte e Casa Grande & Sem Sala, paródia bem-humorada do livro de Gilberto Freyre. Expôs no Japão, na França, no Canadá e na Bulgária.
Em 2021, recebeu o prêmio de Mestre do Quadrinho Nacional, oferecido pela Associação de Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo (AQC-ESP), pelo conjunto de sua obra. Em entrevista ao Negrxs 50 Mais, afirmou: “Foi uma imensa surpresa, pois não estou habituado a premiação. Sou um chargista militante e meu maior prêmio é quando uma charge minha é utilizada numa passeata ou afins”. Seu humor ácido, marcado pela crítica social e antirracista, demonstrava a habilidade incomparável para captar a essência de questões sociais e políticas.
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