Por Cristina Vaz de Carvalho, editora de J&Cia no Rio
Wilson Figueiredo completou 100 anos em 29 de julho. Celebrado como um dos mais importantes jornalistas brasileiros, seu centenário motivou inúmeras comemorações. Dono de um texto elegante e inteligente, pessoa educadíssima, bem-humorada e de bem com a vida, é referência para várias gerações de jornalistas.
Capixaba de Castelo, foi para Belo Horizonte aos 20 anos, e entre os mineiros iniciou sua carreira no jornalismo. A convite de Carlos Castello Branco, o Castelinho, trabalhou em uma agência de notícias ligada ao jornal Estado de Minas. Dali em diante, foram 80 anos de dedicação ao bom jornalismo.
Chegou ao Rio em 1957 e esteve nas redações de Última Hora, de Samuel Wainer, e O Jornal, de Assis Chateaubriand. Foi repórter, redator, colunista, editor, cronista e editorialista de grandes jornais.
Mas foi no Jornal do Brasil, onde passou 45 anos e fez parte do time liderado por Odylo Costa, filho, Amílcar de Castro e Jânio de Freitas – responsável pela reforma gráfica do JB, um marco do jornalismo brasileiro – que Figueiredo entrevistou as mais importantes personalidades da política brasileira, e sobre elas escreveu. Jeitoso para abordar e conquistar as fontes mais poderosas da República, seus textos são hoje uma fonte preciosa e fidedigna para se conhecer e entender a história política do Brasil após a década de 1950.
Nos anos 1940, publicou dois livros de poesia, o que levou Nelson Rodrigues a chamá-lo de “sempre um poeta”. Em 1964, em conjunto com oito autores redatores do JB, participou da coletânea Os idos de março e a queda em abril. A estreia como escritor no tema do jornalismo permaneceu adormecida por 50 anos, até que, entre 2015 e 2018, lançou três livros: 1964: o último ato; De Lula a Lula – sobre os dois primeiros governos; e Os mineiros: modernistas, sucessores & avulsos. Para este último, valeu-se da experiência de ter sido amigo próximo de uma geração de escritores que também atuou em jornal, como Fernando Sabino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos. Rubem Braga qualificou-o como “mineiro do litoral”.
Figueiredo deixou o JB aos 81 anos. Quando todos acreditavam que iria descansar, Francisco Soares Brandão – sócio-fundador da FSB Comunicações, conhecido como Chiquinho Brandão – convidou-o para trabalhar no escritório de Ipanema. Ali, diariamente, de 2005 a 2020, escreveu artigos e refinou os textos dos mais jovens, a quem recebia para uns minutos de prosa com Seu Wilson, como era chamado. Um mestre, mas ainda assim não lhe faltava humildade. Com a pandemia de Covid, recolheu-se no convívio da família, apesar de permanecer no quadro de colaboradores da FSB.
Quando Chiquinho Brandão quis produzir um livro para comemorar os 30 anos de fundação da FSB, Ancelmo Gois sugeriu uma obra sobre a vida e a carreira de Figueiredo. Foi assim que surgiu E a vida continua – A trajetória profissional de Wilson Figueiredo. Lá estão o fim do Estado Novo, a Constituinte de 1946, os governos de Getulio Vargas e Juscelino, as idiossincrasias de Jânio Quadros – dizem mesmo que foi o primeiro a antever a renúncia de Jânio Quadros em uma de suas colunas –, os anos de ditadura e a reconstrução da democracia. A empresa patrocinou agora uma reedição da obra, disponível nas livrarias.
Aos 88 anos, quando foi lançada a primeira edição de sua biografia, Figueiredo brincou: “Evito pensar que possa ser o mais antigo jornalista em atividade no País. Há de haver outro desgraçado, e ainda mais velho, por aí”.