Biógrafo de Caetano Veloso, Nara Leão, Sócrates e Tarso de Castro, Tom Cardoso se debruça sobre a vida e a obra de Chico Buarque em seu mais recente livro

Para celebrar os 80 anos de Chico Buarque de Hollanda, um dos maiores nomes da cultura brasileira, Tom Cardoso lançou Trocando em miúdos: seis vezes Chico (Record). Em seu oitavo livro, o autor abre mão de uma estrutura cronológica linear, tradicional na maioria das biografias, e em 280 páginas esmiúça a história de Chico em seis capítulos, cada um retratando aspectos importantes de sua trajetória pública e privada: Política, Literatura, Fama, Polêmicas, Censura e Futebol.

Com uma narrativa leve e direta, e uma construção que em muitos momentos distancia a obra de uma biografia e a aproxima de um livro-reportagem, Cardoso retrata em cada tópico a evolução pessoal e profissional de Chico ao longo de mais de seis décadas de carreira e sua relação próxima com nomes importantes da literatura, cultura, política e esporte. Denominador comum em todos os “Chicos”, o período da ditadura militar no Brasil (1964-85) também conta com um espaço de destaque na obra.

“Meus livros têm essa particularidade de não serem tão densos”, explica o autor. “Eu escrevo como gosto de ler, de forma mais ágil, como em uma reportagem. Além disso, Chico é um personagem já muito explorado, por isso optei por fazer algo diferente, um pouco inspirado no livro de Paulo Cesar de Araújo sobre Roberto Carlos, fugindo daquela coisa engessada de relatar o biografado desde a infância”.

Vale destacar que Tom Cardoso já havia adotado esse mesmo modelo em Outras palavras: seis vezes Caetano (Record), lançado em 2022 para comemorar os 80 anos de Caetano Veloso. Os dois livros, a propósito, farão parte de uma trilogia de nomes consagrados da música e da cultura brasileira que será completada em 2025 com o lançamento de Nem tanto exotérico assim: seis vezes Gil (Editora 34), ano em que Gilberto Gil anunciou para a sua aposentadoria dos palcos.

“São assuntos muito próximos, que ajudam muito na hora da pesquisa, e como já escrevi muito sobre música na minha carreira também estou de certa forma muito ligado ao tema. Isso já havia acontecido anteriormente, quando escrevi O cofre do Dr. Rui [N. da R.: vencedor do Prêmio Jabuti em 2012 na categoria Livro-Reportagem]. Pouco antes eu tinha feito a biografia de Tarso de Castro e um assunto estava muito ligado ao outro”, relembra.

Sessão de autógrafos de Seis vezes Chico

Biografia não censurada

Como não poderia deixar de ser, Seis vezes Chico também dedica um espaço especial para debater a relação de Chico Buarque com a Associação Procure Saber. O movimento, que também contava com nomes como Roberto Carlos, Gilberto Gil e Caetano Veloso, foi criado em 2013 e lutava contra a publicação de biografias não autorizadas.

No caso mais famoso envolvendo seus integrantes, a Justiça do RJ havia decidido anos antes, em 2007, que a Editora Planeta retirasse de circulação 11 mil exemplares do livro Roberto Carlos em Detalhes, do historiador Paulo Cesar de Araújo.

“Na época, o posicionamento do Caetano, do Gil e do Chico surpreendeu muita gente, pois se tratava de censura prévia”, lembra Tom Cardoso. “Eles alegavam que as obras deveriam ser proibidas porque tocavam em questões pessoais, mas são questões que estão sempre ligadas ao personagem. É impossível falar de uma pessoa pública sem tocar em questões pessoais”.

Depois de anos tramitando na justiça, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou em 2015, por 9 a 0, a exigência de autorização prévia para a publicação de biografias no País. A decisão abriu espaço para que autores brasileiros, entre eles Tom Cardoso, pudessem retomar inúmeros projetos nessa linha.

Vale destacar que para a produção de Seis vezes Chico, assim como na biografia de Caetano Veloso, Tom não pediu nenhum tipo de autorização prévia aos biografados. “Essa não era uma preocupação minha, até pelo modelo de narrativa que utilizei nos textos”, explica.

Um livro que Chico Buarque não lerá

Além de não pedir autorização a Chico Buarque, ainda que apenas protocolar, Tom Cardoso explica que também optou por não entrevistá-lo ou envolvê-lo no processo de produção da obra.

“Quando a gente envolve o biografado, na maioria das vezes a gente cria uma série de problemas e impedimentos em troca de algumas entrevistas protocolares, acompanhadas por um batalhão de assessores. Eu optei por recolher depoimentos que ele já havia dado em outras entrevistas, no calor do momento, e deixar para fazer entrevistas com pessoas próximas a ele”.

Porém, dentre os entrevistados estava Silvia Buarque, filha de Chico, que leu o livro depois de finalizado e elogiou o resultado final. “Ela gostou bastante e disse que até comentou com seu pai, que por sua vez disse que não tem interesse no conteúdo e que não o lerá”, conclui Tom Cardoso.


Sobre Tom Cardoso – Nascido no Rio de Janeiro, Tom Cardoso construiu toda sua carreira em São Paulo, onde foi repórter de Jornal da Tarde, Estadão e revista Trip, nesta última por 18 anos. Além dos livros sobre Chico Buarque, Caetano Veloso e Tarso de Castro, é autor das biografias do jogador Sócrates e da cantora Nara Leão. O cofre do Dr. Rui, que venceu o Prêmio Jabuti de livro-reportagem em 2012, narra o assalto ao cofre do ex-governador paulista Adhemar de Barros, em 1969, comandado pela VAR-Palmares.

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