Por Álvaro Bufarah (*)

Analisando o processo de divulgação das duas campanhas nas eleições norte-americanas podemos entender melhor o uso dos influenciadores e transpor esses aprendizados para o mercado de informações e de rádio brasileiro. Por isso, dividimos o texto em duas partes; a primeira você pode ler aqui.

O fenômeno dos influenciadores digitais nos Estados Unidos, especialmente durante a eleição presidencial de 2024, trouxe lições importantes para o rádio e o jornalismo no Brasil. Esses criadores de conteúdo reconfiguraram o fluxo de informações, conectando diretamente o público às narrativas políticas e sociais. Para emissoras de rádio brasileiras, compreender essa dinâmica pode ser crucial para alcançar públicos mais jovens e diversificados.

Nos EUA, influenciadores emergiram como figuras centrais na disseminação de notícias, especialmente entre pessoas de 18 a 29 anos, 37% das quais consomem regularmente conteúdo desses criadores. Essa estatística evidencia uma ruptura com o modelo tradicional de jornalismo, ao mesmo tempo que demonstra a relevância das mídias sociais como espaço de engajamento cívico. No Brasil, onde a penetração das redes sociais é alta, rádios podem adotar estratégias semelhantes, explorando influenciadores para aproximar conteúdos jornalísticos de novas audiências.

Os influenciadores norte-americanos apresentam características que ajudam a entender o seu impacto. Embora predominem no X (85%), muitos diversificam sua presença em plataformas como Instagram e YouTube, além de explorar formatos alternativos como podcasts e newsletters. Essa multiplicidade de canais é uma estratégia eficaz para maximizar o alcance e o engajamento, algo que emissoras brasileiras podem replicar. Criar conteúdos adaptados a diferentes formatos e plataformas pode ampliar a relevância do rádio no cenário digital.

Outro aprendizado está na personalização do conteúdo. Os influenciadores oferecem um mix de informações, incluindo fatos, opiniões e conteúdos humorísticos, adaptando-se às demandas de seus seguidores. Essa abordagem cria uma relação mais próxima com o público, mesmo quando a conexão pessoal direta é limitada. Para o radiojornalismo, essa prática pode inspirar novos formatos de programas e quadros interativos, que mesclem jornalismo tradicional com elementos mais leves e engajantes.

Apesar das oportunidades, o modelo de influenciadores também apresenta desafios. Nos EUA, 77% desses criadores não têm vínculo com organizações jornalísticas, o que pode comprometer a credibilidade das informações. O rádio brasileiro, por sua vez, pode explorar parcerias estratégicas que integrem influenciadores ao ambiente jornalístico sem abrir mão da ética e da qualidade editorial. Essa colaboração pode trazer novas vozes para o jornalismo, sem perder o compromisso com a informação responsável.

A monetização é outro ponto de destaque. Nos EUA, muitos influenciadores geram receita por meio de doações, assinaturas ou vendas de mercadorias, o que sustenta sua produção independente. Essa prática pode inspirar rádios brasileiras a diversificar suas fontes de financiamento, explorando modelos híbridos, que combinem publicidade tradicional com estratégias digitais.

Por fim, o estudo norte-americano destaca a importância de acompanhar as tendências tecnológicas e comportamentais para inovar na comunicação. Ao adotar influenciadores como parceiros estratégicos, rádios brasileiras podem não apenas modernizar suas operações, mas também reforçar seu papel como veículos relevantes na formação de opinião pública. Essa integração pode ser a chave para revitalizar o rádio e torná-lo ainda mais relevante no ecossistema midiático contemporâneo.


Álvaro Bufarah

Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.

(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.

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