Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

Enquanto os EUA rumam para uma era em que as decisões políticas sobre clima e saúde podem deixar de ser tomadas apenas com base na ciência, e representantes de quase 200 nações estão em Baku para chegar a um acordo sobre medidas de combate às mudanças climáticas comprovadas por acadêmicos, uma nova pesquisa feita pelo Pew Research Center chama a atenção para a confiança do público nos cientistas − e em seu valor como fontes para a imprensa.

O estudo mostrou que 76% dos americanos expressam um alto ou moderado nível de confiança na atuação dos cientistas em prol do interesse público. Embora represente uma recuperação em relação à queda observada durante a pandemia, a taxa ainda está abaixo dos 87% registrados em abril de 2020.

O negacionismo e a desinformação associados à segurança das vacinas e medidas de isolamento social podem ter uma parcela de culpa na deterioração da confiança naquele momento.

De qualquer forma, ela é mais alta do que a credibilidade de líderes empresariais, autoridades religiosas, políticos eleitos e jornalistas.

A pesquisa mostra que os americanos associam os cientistas a características como inteligência (89%), foco na solução de problemas reais (65%) e honestidade (65%).

Em uma era marcada pela desinformação e pela polarização, eles podem ser um trunfo para a imprensa apresentar informações precisas e confiáveis ao público − e de quebra melhorar a percepção de credibilidade em si própria.

Os pontos fracos: habilidade de comunicação, traquejo social e “superioridade”

No entanto, os cientistas precisam fazer o “dever de casa”. O estudo do Pew revelou que são vistos como bons comunicadores por apenas 45% dos entrevistados. A comunidade científica precisa aprimorar suas habilidades de comunicação para se conectar de forma mais eficaz com a sociedade.

Os pesquisadores − com a ajuda de seus assessores de comunicação − devem também observar as fraquezas em sua imagem e trabalhar para neutralizá-las.

Cerca de metade dos americanos (49%) os considera “sem traquejo social”, enquanto 47% dos entrevistados disseram ter a impressão de que “se sentem superiores”.

Outros sentimentos negativos mencionados foram a imagem de que são frios, de mente fechada ou desatentos aos valores morais da sociedade.

Superar essas barreiras pode fortalecer o papel dos cientistas e contribuir para um debate público mais informado e produtivo.

Ainda assim, nos EUA a batalha da credibilidade na ciência não será simples com Donald Trump na presidência. A nomeação do controvertido Robert F. Kennedy Jr. para liderar a saúde é uma pequena amostra.

A pesquisa do Pew revela uma diferença partidária significativa na confiança nos cientistas, com 88% dos democratas e apenas 66% dos republicanos expressando confiar neles.

Essa disparidade reflete-se também na visão sobre o papel de pesquisadores na formulação de políticas públicas, com os democratas sendo mais favoráveis à sua participação ativa. Mas os democratas perderam a eleição.


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