Nas duas últimas semanas, em meio à tragédia que vive o Rio Grande do Sul, profissionais das mais diversas áreas têm se desdobrado para atender às necessidades de uma população atingida por um dos maiores desastres ambientais da história do Brasil. O jornalismo, em seu papel social de levar informações precisas e de qualidade, e de acompanhar e cobrar um trabalho efetivo das autoridades, também vem merecendo destaque especial neste processo.
Porém, conviver e acompanhar uma tragédia tão próxima como essa, na qual muitos jornalistas e empresas também estão entre os atingidos, tem seu preço. Conciliar o dever profissional com o lado humano, de quem está convivendo 24 horas por dia com a dor e o sofrimento, sejam próprios ou dos outros, tem levado muitos profissionais ao esgotamento físico e mental.
O jornal Zero Hora, em sua Carta da Editora, publicada em 3 de maio, trouxe alguns relatos de profissionais do Grupo RBS que estão atuando diariamente na cobertura das inundações. Os depoimentos reunidos pela editora de Opinião Diane Kuhn, reproduzidos a seguir, dão uma amostra do que tem sido esse desafio para os jornalistas gaúchos.
“Mais uma vez, foi preciso sair do estúdio, calçar as galochas e segurar a emoção para informar os gaúchos sobre uma tragédia climática. Agora, ainda pior… e, de novo, só buscar e transmitir notícias não bastou, foi preciso abraçar, consolar, dar forças e incentivar a fé em dias melhores.” – Cristina Ranzolin, apresentadora do Jornal do Almoço
“Participar de uma cobertura como esta é estar próxima ao lado mais vulnerável do ser humano. Uma das coisas que mais me marcaram até agora foi o relato de uma mulher de São Vendelino que perdeu um filho e o marido soterrados. A angústia e o sofrimento eram nítidos, ao mesmo tempo que projetava um futuro incerto e a assistência aos outros três filhos.” – Alana Fernandes, repórter da Redação Integrada de Caxias do Sul
“Impressionou-me o choro das pessoas. A prefeita de Sinimbu chorou enquanto eu a entrevistava. O mesmo aconteceu com uma agricultora que viu as vaquinhas, todas com nome, serem levadas pela água. As vítimas não sabem como recomeçar a vida, não veem perspectiva. É uma tristeza sem fim.” – Humberto Trezzi, repórter da Redação Integrada de Zero Hora, GZH, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho
“Em Candelária, o que mais dói é ver o drama daqueles que não têm notícias de seus familiares, daqueles que permanecem de plantão no local onde pousa o helicóptero, esperando para que o resgate chegue até seus familiares. Uma cidade sitiada e clamando por ajuda, mas que encontra esperança na força do seu povo.” – Vítor Rosa, repórter da RBS TV
“Às vezes tenho a sensação de que o tempo parou. Nada que veio antes e nada que ainda virá parecem fazer sentido. Estamos vivendo um minuto após o outro. Tudo muda a todo momento! Nesse momento de tanta dor, só nos resta não perder a esperança de que um dia isso tudo vai passar. E essa tragédia vai ficar para a história.” – Shirlei Paravisi, editora-chefe da RBS TV Serra
“O pavor de ter testemunhado uma mulher sendo levada pelo Rio Pardo, a alegria de saber que ela se salvou, poder lhe dar um abraço depois e ver o empenho do trabalho de bombeiros voluntários, da comunidade e de autoridades foram as coisas que mais me marcaram nesta cobertura em Candelária.” – Paulo Rocha, repórter da Redação Integrada de Zero Hora, GZH, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho
Outro relato emocionante, este registrado ao vivo, foi do repórter Felipe Vieira, da Rádio Bandeirantes, que não conseguiu conter o choro ao relatar a abertura de um corredor humanitário para atender à população de Estrela, a 130 quilômetros de Porto Alegre: “Estão saindo um avião da GOL e um avião da Defesa Civil em São Paulo. Esses dois aviões vão descer em Caxias do Sul com alimentos, água, cobertores, colchões, medicamentos. Descem em Caxias, e está sendo aberto um corredor… (pausa com a voz embargada). Desculpem a emoção, mas é que a gente só ouve falar isso em guerra. Corredor humanitário. Está sendo aberto de Caxias até Estrela, no Vale do Taquari, porque não tem condições de acessar Estrela, que é um município a 130 quilômetros de Porto Alegre, estradas asfaltadas, duplicadas. As estradas estão interrompidas. Então a ajuda vai chegar via Caxias, em um corredor humanitário (nova pausa para choro). A gente se emociona, mas é desesperador…”
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