Morreu em Belo Horizonte na madrugada de 23/6, aos 66 anos, Flávio de Carvalho Serpa, considerado um dos principais jornalistas especializados em Ciência e Tecnologia no País. Ele estava internado desde o início de janeiro no hospital Mater Dei, em consequência de doença pulmonar obstrutiva crônica. Nascido na capital mineira, Flávio formou-se em Física mas nunca exerceu a profissão. Começou editando o jornal Gol a Gol, do Diretório Central dos Estudantes da UFMG. Foi editor de Internacional do Opinião de 1972 a 1976, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, para onde se mudou em meados da década de 1970, trabalhou no semanário Movimento, que ajudou a criar, e nas revistas Veja, IstoÉ e Info Exame. Também editou o caderno de Informática do Estadão e colaborou com diversas publicações, como Folha de S.Paulo, Scientific American, Superinteressante, Galileu e Retrato do Brasil. Entre os colegas, era classificado como “o homem mais inteligente do mundo”, tal era a sua capacidade de discorrer com simplicidade sobre temas altamente complexos. Deixa irmãos e sobrinhos. Sobre ele, a amiga Martha San Juan França, jornalista e doutora em História da Ciência, atualmente na A4 Comunicação, enviou a J&Cia o seguinte depoimento: “Foi um tempo bom demais. Na década de 1990, o Estadão fervilhava de feras do jornalismo, dispostas a deixar a Folha no chinelo na imprensa diária. Por causa disso, o jornal estava disposto a apostar em matérias que não costumavam frequentar as suas páginas – astronomia, genética, biotecnologia, física. E escolheu para editar esse material aquele que todos nós já sabíamos ser a melhor cabeça do jornalismo de ciência – Flávio de Carvalho. Com seu conhecimento, sua habilidade em trazer assuntos difíceis para o dia a dia, nós iríamos enfrentar o desafio de explicar os armamentos usados na então guerra do Iraque, decifrar o Projeto Genoma, as viagens a Marte, fractais … literalmente, o céu era o limite. Eu era uma jovem repórter vinda da Superinteressante e aquilo tudo para mim, e para gente talentosa como o Àlvaro Caropreso, nosso sub, era o céu. Trabalhar com o Flávio era tentar explicar qualquer assunto de uma forma que todo mundo entendia. Mais ainda: ele não era ingênuo. Tinha uma visão política e não se deslumbrava pelas aparências. Era muito crítico em economia, planejamento urbano, tecnologia, economia, como todo jornalista deve ser. E um ser íntegro, ético, além de amigo querido, que dividia sua glória. Por causa dele, consegui algumas coisas impensáveis na época – primeira página com furos de ciência e o prêmio J. Reis de Jornalismo Científico. Continuamos amigos depois que aquela experiência fantástica acabou e o jornalismo também (quase). E gosto de pensar que o seu espírito gaiato me acompanhou e a todos os que depois se dedicaram ao jornalismo científico com a mesma paixão pelas redações afora. Como escrevi no facebook para muitos colegas, temos a sorte de ter pelo menos um pouquinho do Flávio em nossos textos e em nossos corações.” Leia mais + Maurício Lima deixa a Abril a caminho da Infoglobo + Valor Econômico terá quatro edições da Revista WSJ + Nova etapa de reestruturação da Abril se concentra nas áreas administrativas