Fritz Utzeri morreu na 2ª.feira (4/2), aos 68 anos, de câncer no sistema linfático. Nos últimos três anos, passou por sete dolorosas quimioterapias, um transplante de medula e usou medicamentos ainda em fase de testes. No início do ano passado, falou a J&Cia sobre seu tratamento: “Seja o que Deus quiser. Quero viver mais para que minha neta se lembre de mim”. Ele havia sido internado no fim de semana, em estado terminal, no Hospital Quinta D’Or. Seu corpo foi velado no Memorial do Carmo e depois conduzido ao crematório. Deixou a viúva Liège, os filhos Ana e Pedro, e dois netos. Nascido na Alemanha em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, não chegou a conhecer o pai, morto em combate. Com dois anos veio para a América Latina e, acompanhando a mãe e o padrasto, viveu em seis países: Paraguai, Brasil, Peru, Bolívia, Chile e Argentina. Radicou-se definitivamente no Brasil, no Rio de Janeiro, nos anos 1960. Formou-se em Medicina pela UERJ, com especialização em Psiquiatria, mas não chegou a exercer a profissão. Naturalizou-se brasileiro em 1970 e trocou seu nome alemão de registro, Fritz Karl, por Federico Carlo, em homenagem ao padrasto italiano que o criou. Mas já era conhecido nas redações como Fritz Utzeri. q Começou no Jornalismo como estagiário no Correio da Manhã. Passou em 1968 ao Jornal do Brasil, onde foi repórter especial e correspondente em Nova York e Paris. Fez parte da redação de O Pasquim. Esteve na TV Globo, foi diretor de Comunicação da Fundação Roberto Marinho e editor de Opinião do jornal O Globo. Trabalhou ainda como diretor de Comunicação da multinacional de telecomunicações Alcatel. Voltou ao JB, como diretor de Redação, nos últimos tempos do jornal. Escreveu o romance Aurora e o livro de crônicas Dancing Brasil. Como hobby, colecionava trens elétricos e carros em miniatura e, não sem interesse, editou a Revista Ferroviária. Descrito como “o jornalista que desmontava versões oficiais”, conquistou em 1981 o Prêmio Esso de Jornalismo para a equipe do Jornal do Brasil que apurou o caso Bombas no Riocentro. Ele repetia a parceria de 1978 com o repórter Heraldo Dias, também já falecido, na reportagem Quem matou Rubens Paiva?, em que contestava a versão oficial sobre a morte do ex-deputado. Diz dele Marcelo Auler, companheiro de redação na mesma época: “Fritz acabou dando aulas de apuração de reportagens, que hoje seriam chamadas de jornalismo investigativo”. Outro contemporâneo, que o acompanhou até os últimos dias, Sérgio Fleury,registrou, logo após sua morte, em memorando que circulou entre os amigos, as muitas aventuras por que passou Fritz, e teve trechos repetidos em todos os obituários publicados. Nos últimos oito anos, com uma legião de amigos colaboradores, editou o semanário em PDF Montbläat, cujo dístico era: “Se você entendeu o Brasil, por favor, conta pra gente”. Com a publicação pretendia, sem patrocínio, obter renda proveniente de assinaturas. Apesar de ter a circulação interrompida em fases agudas de seu tratamento, sempre a retomava, após melhorar. O último número saiu no dia de Natal.