A cerimônia de premiação dos +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira, realizada em 13 de novembro, em São Paulo, e que reconheceu Zileide Silva (TV Globo) como a campeã da premiação, ficará para sempre marcada como importante capítulo na luta por um jornalismo com mais diversidade, equidade e inclusão.
Mais do que enaltecer o trabalho de excelência de jornalistas e publicações empenhados na luta antirracista, a celebração foi marcada por muita alegria, confraternização e uma profusão de mensagens emocionadas, quase que gritos entalados por séculos na garganta, e que foram colocados para fora pelos mais de 60 profissionais que subiram ao palco da Unibes Cultural.
Conduzida pelos mestres de cerimônia Eliane Almeida e Luiz Claudio Alves, a cerimônia contou na abertura com uma apresentação do poeta, contista, músico, roteirista, diretor e educador Akins Kintê. Importante nome cultural da luta antirracista, ele deu o tom de que aquele encontro seria, sim, de muita alegria, mas também de cobrança para que os espaços e oportunidades para a população negra sejam ampliados.
“Exijo mais pente afro, menos ferro, menos favela, mais terra e condição. Que duro não é o cabelo, são as escolas e suas deixas. O sistema e suas brechas. O crespo é toda uma vida, quando livre as madeixas”, destacou em um trecho do poema apresentado ao vivo. E acrescentou no final de sua apresentação, encerrada com o pulso erguido: “Duro não é o cabelo, é o sistema. Não alisa, quebra na emenda. Entenda a persistência de mantê-lo crespo na essência. É bonito, é político, é resistência!”.
Projeto que vinha sendo maturado já há alguns anos pela Jornalistas Editora, responsável por este Jornalistas&Cia e pelo Portal dos Jornalistas, a eleição dos +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira saiu finalmente do papel em 2023 graças à união com outras três organizações empenhadas na luta por um jornalismo mais diverso: 1 Papo Reto, Rede de Jornalistas Pela Diversidade na Comunicação (Rede JP) e Instituto Neo Mondo.
“É a nossa modesta contribuição na permanente luta antirracista em prol da diversidade no jornalismo, que, esperamos, um dia nem mais faça sentido existir”, destacou Eduardo Ribeiro, diretor da Jornalistas Editora em seu discurso de abertura. Ele ainda alertou sobre a desigualdade nas redações brasileiras: “Negros e negras ocupam cerca de 20% das vagas existentes nas redações, a despeito de serem 56% da população brasileira. Nosso prêmio valoriza a presença e o talento negro e busca desse modo incentivar a diversidade nelas”.
Visivelmente emocionada, Marcelle Chagas, coordenadora da Rede JP, destacou o processo que levou à criação da organização em 2018 e todas as conquistas ocorridas desde então: “Hoje é só mais uma parte da nossa caminhada, mas, assim como com o Jornalistas&Cia, temos parcerias com todas as organizações comprometidas em discutir o futuro da comunicação, discutir inovações, e nós levamos sempre a nossa perspectiva a partir dos grupos subrepresentados. A gente está falando também de diversidade, pluralidade e qualidade da informação, que é essencial pra gente no momento em que vemos o aumento do discurso de ódio, bullying e todas essas coisas”.
Editor-chefe do portal 1 Papo Reto, Rosenildo Ferreira aproveitou a cerimônia para fazer um chamamento aos presentes: “Não estou aqui para tentar pautar parte de meus ídolos, mas queria colocar uma reflexão para vocês. Antes de cada reunião de pauta, antes de cada encontro com um editor, com o chefe, pensem em colocar o talento e o poder de suas canetas, câmeras e microfones para pressionar os agentes públicos para atender com qualidade e rapidez a pauta dos quilombolas, porque, afinal, se estamos todos aqui, é porque eles lutaram muito por nós”.
“Como grande defensor da maior diversidade na comunicação é com muito orgulho que participo como organizador desta iniciativa”, acrescentou Oscar Porto, publisher e presidente do Instituto Neo Mondo. “Hoje é dia de celebração, por isso quero dar meus parabéns aos profissionais, que, independentemente de colocação, já são todas, todos e todes vencedores. Também quero agradecer aos patrocinadores, que nos ajudaram a transformar essa importante iniciativa em realidade, mostrando que a luta antirracista é de responsabilidade de todos os setores da sociedade”.
Leia mais sobre a cerimônia de premiação na edição desta semana de Jornalistas&Cia.