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sábado, novembro 23, 2024

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Ana Naddaf e Fátima Sudário, o protagonismo feminino em O Povo

Escolhida para comandar os 124 profissionais que compõem a Redação de O Povo, de Fortaleza, um dos mais importantes e premiados jornais do Nordeste, Ana Naddaf (à direita na foto) é a nova diretora de Redação do jornal. Até 1º/8 editora do núcleo de Conteúdo e Negócios do jornal, Ana chega para ocupar o lugar deixado a pedido por Fátima Sudário. Duas mulheres que apontam para a ideia do jornal de favorecer o protagonismo feminino. Paulistana de nascimento, Ana optou por viver em Fortaleza em 1997, após formar-se na Universidade São Judas Tadeu. Na época, teve sua primeira passagem por O Povo, no qual permaneceu por seis anos. Morou em Barcelona e Nova York, cidades em que incrementou seu currículo com especializações em Estudos da Cultura Visual e Publishing: Digital and Print Media. Fátima Sudário está em O Povo há mais de 20 anos, desde 2006 como diretora de Redação. Após período de férias, ela volta ao jornal para assumir o grupo de reportagens especiais. Em entrevista ao Portal dos Jornalistas, elas comentam sobre os desafios das novas funções, a relevante participação feminina em postos altos do jornal e as mudanças que o jornalismo vem vivenciando com as novas plataformas de publicação de notícias: Portal dos Jornalistas – Fátima, o que a levou a pedir para sair da Chefia de Redação após tantos anos? Fátima Sudário – Estou em O Povo há cerca de 21 anos. A partir de 2001, passei a fazer parte da Chefia da Redação, primeiro como editora-assistente, e depois editora-chefe. Fui a primeira mulher a exercer o cargo e, desde 2006, assumi a Diretoria Executiva da Redação, inicialmente dividindo o cargo com Carlos Ely Abreu e Marcos Tardin. Em janeiro de 2007 fiquei como única titular e exerci a função por oito anos e sete meses. Um projeto pessoal passou a me exigir mais tempo e não tive mais como compatibilizar. Obviamente lamento ter saído. Dirigir uma Redação, que já não é mais só o impresso, é, no mínimo, uma paixão que se renova a cada cobertura, mas considero importantes esses movimentos. Afinal, estamos em uma atividade criativa, num mercado de incertezas. Então, as reinvenções são necessárias, seja do ponto de vista pessoal, seja do ponto de vista da empresa. O melhor é que não precisei deixar o jornal. Quando solicitei um tempo aos meus diretores, Arlen Medina e Luciana Dummar, eles me convidaram a permanecer e coordenar o Núcleo de Especiais do jornal, que hoje conta uma das equipes mais premiadas do País. Bom também é que Ana Naddaf, que assume a Direção Executiva da Redação no meu lugar, é uma profissional experiente. Vem do mercado de revistas, no qual se especializou, mas já passou pela redação de O Povo como repórter e editora. É jovem, competente e muito respeitada. J&Cia – Como funciona hoje o grupo de reportagens especiais que você passa a coordenar? Há mudanças já previstas com a sua chegada? Fátima – O grupo conta com quatro profissionais experientes: Ana Mary C. Cavalcante, Cláudio Ribeiro, Demitri Túlio e Emerson Maranhão. São perfis diversificados, textos muito bons e um bocado de prêmios nos currículos. Eles trabalham os cadernos e reportagens especiais e se inserem no cotidiano da Redação sempre que a cobertura factual demanda. Reforçam as editorias em ocasiões especiais, a exemplo da Copa do Mundo, e em momentos como as eleições. O futuro está sendo desenhado. Sem deixar de contemplar essas vertentes, o Núcleo deve funcionar mais ainda como um farol na produção de conteúdo que possa diferenciar o jornal e, consequentemente, o portal. Isso passa pela ampliação do leque de linguagens que possa manter e atrair interesse. Passa pela forma como se trabalha a relação da produção de conteúdo impresso-web. Dentro de um ano, a gente pode voltar a conversar sobre essa experiência. Vai ser bem bacana. Portal dos Jornalistas – Ana, qual o principal desafio de assumir uma redação como a de O Povo? Ana Naddaf – Entre as minhas expectativas estão as de todo jornalista: continuar a tarefa de contar histórias, de falar da cidade e para a cidade e de falar com o leitor seja em qual meio ele esteja agora. Por isso, o desafio não é só de assumir a Redação de O Povo, mas o de conciliar o impresso com o online e também com todas as plataformas do Grupo de Comunicação O Povo [TV O Povo, Rádio O Povo CBN e Rádio Calypso]. O desafio de fazer jus a todos os outros diretores que já passaram por esta redação. E, principalmente, o de saber enxergar o efêmero e o perene. O efêmero do cotidiano, do novo, mas também a história e o legado dos 86 anos de O Povo.   Portal dos Jornalistas – Sobre a escolha da profissão, o que a motivou a optar pelo jornalismo? Ana – Gosto muito do que Alberto Dines fala sobre os jornalistas: que somos uma categoria de doidos e que somos, antes de tudo, operários da história. E que jornalismo não é apenas profissão, é estado de espírito. Não há descrição melhor para o que fazemos. E acho que nesta descrição de Dines está a essência do que me motivou para escolher essa profissão. É a maluquice de querer mudar o mundo e o estado de espírito que mescla curiosidade e paixão. Portal dos Jornalistas – Quais enxerga serem os principais desafios hoje da profissão? Ana – Além dos de sempre – o da excelência jornalística e o de cativar o leitor –, é pensar que o jornalismo está sempre em construção. Principalmente porque mudaram a forma de pensar a informação, o mercado, as plataformas e até mesmo as publicações em si. E essas mudanças, que ocorreram na última década (do suporte ao anunciante, passando pelo avanço das mídias sociais), são o mote do que está sendo definido como realidade do mercado de jornal hoje e do que será no futuro. Aliás, do jornalismo como um todo. Uma boa forma de entender isso é que escrevemos agora também em tempo real. Ou seja, com as novas plataformas, o impresso foi parar no virtual. Estamos pensando novas formas de atender a esse leitor virtual, do online, sem deixar de atender ao leitor do impresso, do offline. Para o jornalismo ser sustentável e para as grandes empresas de comunicação tornarem-se sustentáveis é preciso repensar esses produtos, o fazer jornalismo nas redações e como atender às necessidades do mercado. E, principalmente, entender que o leitor está cada vez mais presente. E é isso que o Grupo de Comunicação O Povo vem fazendo nestes 86 anos. Portal dos Jornalistas – Como vocês enxergam o protagonismo feminino nessa mudança da direção de Jornalismo do jornal? Fátima – Bom, não sei se dá para falar em “protagonismo feminino” nesse caso. É fato que passei a fazer parte da Chefia da Redação quando Ana Márcia Diógenes saiu. E que, agora, Ana Naddaf assume no meu lugar. A Redação tem pelo menos uma dezena de editoras. Pode-se dizer que a presença feminina em cargos de direção é marcante. Está bem equilibrada com a presença masculina, digamos assim. Também é verdade que o Grupo de Comunicação O Povo é presidido por uma mulher, Luciana Dummar, uma apaixonada pelo universo da comunicação. OK, certamente não dá para negar que a presidente do jornal sabe contemplar seus talentos, o que inclui o reconhecimento profundo ao feminino e ao masculino, mas não é exatamente uma questão sexista. Até porque a história do jornal, ao longo desses 86 anos, registra inúmeros casos de mulheres gestoras. Ana – Acredito que não seja apenas no jornalismo. Esse protagonismo tem sido recorrente dentro do mundo corporativo. Mulheres têm conquistado voz dentro das empresas. E sem falar de feminismo. Mas estamos sabendo dialogar e isso é uma conquista cultural. É um protagonismo da mulher como criadora, como produtora, como pesquisadora e, principalmente, como líder. Lembro da jornalista Ana Paula Padrão falando desse poder de liderança que a mulher tem. E, no Grupo de Comunicação O Povo, isso é presente em várias frentes. Talvez seja a força do encontrar vigor e delicadeza, do agregar e do poder de concisão, do “orar e vigiar”. Mas, claro, sem perder a essência do diálogo.

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