André Azenha (13-3307-2838 e [email protected]) lança o terceiro livro de sua carreira, Meu namoro com o cinema, reunindo ?textos passionais sobre filmes igualmente intensos? que publicou no site CineZen, do qual é editor. Além do CineZen, André edita o site CulturalMente Santista ? que aborda a vida cultural da cidade de Santos e traz entrevistas com grandes nomes da cultura local ? e é repórter de Veja Litoral Paulista. É também assessor de imprensa do CineRoxy e da editora e livraria Realejo, além de atuar como freelancer. Em entrevista ao Portal dos Jornalistas, ele fala sobre o interesse pelo cinema e o trabalho de crítico de arte no Brasil: Portal dos Jornalistas ? Como começou a se interessar por cinema? André Azenha ? Desde pequeno adoro filmes. Minha primeira ida sozinho ao cinema, de que me lembro claramente ? antes havia visto filmes acompanhado por pais, avós, mas pouco me recordo ?, foi Karatê Kid. Sempre adorei ver filmes. Sessões da Tarde, Corujão, no cinema, depois com o advento das tevês a cabo (não tive videocassete, não tínhamos dinheiro na época para comprar um). Mas sempre foi um gosto pessoal. Portal ? E qual foi sua primeira experiência profissional escrevendo sobre o assunto? Azenha ? Em 2005, comecei a escrever sobre música para alguns sites. No entanto, apesar de amar a música, vi que acompanhava muito mais os lançamentos nas telonas do que os CDs e shows. Daí foi um pulo perceber que minha vocação era a sétima arte. Música ficou como paixão. Cinema, que sempre foi amor, virou trabalho. Assim, escrevi meus primeiros textos para blogs e sites, na base da colaboração. Depois, em 2008, após enviar vários e-mails no intuito de mostrar meus textos, fui chamado pelo Rubens Ewald Filho ? também santista ?, de quem fui assistente, revisor e editor por quase dois anos. Depois, vieram o CineZen, textos em revistas, outros sites e, então, oficinas de crítica, mediação de encontros cinematográficos etc.. Portal ? O que o motivou a criar o site CineZen? Azenha ? Colaborava com vários sites de forma gratuita. Até que, em 2006, chegou o ponto em que decidi criar um blog, o Zen Cultural, para reunir todos os textos espalhados por aí. O Zen pode ter a ver com o Azenha, meu sobrenome, e o fato da boa relação cultivada com colegas de profissão; mais o fato de considerar que a crítica não necessita ser meramente destrutiva, como pensam alguns. O blog ficou obsoleto. Em 2008, veio a ideia de criar um site para poder definir seções, categorias, temas, colocar destaques, organizar e distribuir melhor os textos. Em março, foi para a rede o CineZen Cultural ? embora Cultural já não seja mencionado sempre e tenha até saído da logomarca oficial. Vale ressaltar que o CineZen não tem verba ou anunciantes. Tem parceiros: sites, blogs, colaboradores. Importante no processo foi e é o webmaster recifense Wagner Beethoven, que entende de plataforma WordPress. Tornamo-nos grandes amigos e ele ajudou também na concepção do CulturalMente Santista (www.santoscultural.net), site que edito com foco no segmento cultural da Baixada Santista. O CineZen cresceu, pessoas o procuraram para escrever e atualmente contamos com colunistas de 2ª a 6ª.feira, que falam de cinema clássico, cult, estreias, literatura, cultura pop, mercado cultural, política, quadrinhos. E colaboradores que enviam textos eventualmente. São quase 20 colaboradores, que escrevem para o site por prazer, mas com um profissionalismo incrível e muita competência. Lógico que, podendo, gostaríamos de ter apoio comercial. Mas falta tempo para prospectar. Portal dos Jornalistas ? Quem admira como crítico de cinema? Azenha ? Independente de concordar ou não com as opiniões, admiro alguns nomes pela postura e conhecimento no ramo. O Rubens, que tem um conhecimento enciclopédico, sabe muito da parte técnica e acompanhou muitos clássicos na época de seus lançamentos. Com ele, aprendi que é preciso saber desde o figurinista, quem fez a trilha sonora (e por que aquela trilha se encaixa ou não na história), a parte de pesquisa, tudo. E, principalmente, [saber] que escrevemos para o público, e não ? somente ? para cineastas ou críticos. Gosto bastante do texto do Luiz Carlos Merten, do Estadão, a forma apaixonada de se colocar, especialmente em seu blog. Acompanho a Ana Maria Bahiana, no UOL, e o Rogert Ebert, crítico norte-americano, além de alguns sites e blogs estrangeiros. Admiro o texto do Edmar Pereira, crítico já falecido e que escreveu durante muitos anos para o Jornal da Tarde. Há um livro da Coleção Aplauso, Razão e Sensibilidade, organizado pelo Merten, sob coordenação do Rubens, que reúne vários textos dele. Fora do cinema, o Lester Bangs, considerado frequentemente o maior crítico musical norte-americano. A lição dele para todo crítico iniciante: ?Seja honesto e impiedoso?. Principalmente a primeira parte do conselho, deve ser seguida à risca. Portal dos Jornalistas ? No texto de apresentação de seu livro você cita Lester Bangs quando fala da necessidade de escrever sobre cinema com paixão. Acha que o contrário é possível? Que se pode fazer crítica de cinema sem ser passional? Isso distancia o crítico do jornalista? Azenha ? Não apenas escrever sobre cinema demanda paixão. Tudo na vida, se feito de maneira apaixonada, intensa, pode resultar em algo melhor. O ?escrever com paixão?, na verdade, é você defender suas ideias e opiniões da melhor maneira, honesta, eticamente. Se o filme tem coisas que funcionam, defender isso com unhas e dentes. A crítica boa é aquela que gera reflexão no leitor. Se o cara já viu o filme e, por determinado motivo, não gostou, mas ao ler sua crítica percebe algo que não tinha sacado e decide rever o filme ou muda o ponto de vista, bingo! A crítica valeu a pena. O mesmo vale para quando o filme tem coisas que não funcionam. Vai muito além de dizer somente se uma obra artística é boa ou ruim. E a crítica, além do conhecimento de causa, leva muito da experiência de vida de cada um, a contextualização da história no mundo de hoje ou, para um filme antigo, por exemplo, contextualizá-lo na época em que foi lançado. O texto, o desenvolvimento do raciocínio, os argumentos, devem ser objetivos, claros. Mas coloque paixão ao digitar cada letra, cada palavra e a chance de sair com um texto envolvente é maior. Claro que o talento nessas horas é primordial para o resultado final do texto. Por esse ponto de vista, por que não escrever uma reportagem com paixão? Jornalistas apaixonados pela profissão são aqueles que conseguem os furos, as melhores matérias. A paixão, aqui, não deve tirar o foco do fato, mas tornar o texto mais prazeroso, envolvente, gostoso e profundo. Portal ? Como analisa a crítica de arte no Brasil? Azenha ? Atualmente há muitas e muitas pessoas que escrevem sobre arte, ainda mais após o advento da internet: são incontáveis os números de sites e blogs com opiniões sobre filmes, discos, livros etc.. Essa democratização dos meios é positiva no que se refere à oportunidade de mais pessoas encontrarem/criarem espaço para expor seus textos. Mas também há uma certa banalização. Para escrever sobre algo, é preciso estudar a área em questão. No caso do cinema, é necessário, antes de tudo, ver o maior número de filmes, ter alguma experiência em filmagem, produção ou, pelo menos, acompanhar a realização de um filme. Conhecer a teoria, a história do cinema, dos cineastas, atores etc.. E são poucos os que fazem isso. Por isso, os mais lidos, exceto casos raros (a exemplo dos sites Omelete e Cinema em Cena), ainda são aqueles críticos mais experientes, que iniciaram décadas atrás. O surgimento constante de gente escrevendo sobre arte também faz com que os mais antigos se atualizem, não se acomodem. E cabe ao público separar o joio do trigo. Em relação à crítica em si, há um bom tempo existe a discussão do papel da crítica de arte na sociedade, e no Brasil não é diferente. A velocidade cada vez maior das informações intensifica esse questionamento. Afinal, muitas pessoas, quando leem uma crítica, ainda só querem saber se vale ou não a pena ver o filme. Aí vão direto na nota ou no número de estrelas dados ao longa analisado, sem sequer passar pela crítica. Como evitar isso? Difícil, mas é preciso apostar em bons textos, na fidelização do leitor. Portal ? Também tem vontade de produzir cinema? Azenha ? Estudei roteiro, em São Paulo, para conhecer um pouco mais da concepção, e acompanhei várias filmagens. Em experiência com audiovisual, apenas os videocasts do CineZen e trabalhos na televisão, apresentando um quadro com as novidades da semana no cinema. Acredito que se alguém deseja ser crítico não deveria produzir, dirigir, escrever filmes. No Brasil talvez não se leve isso muito a sério. O Rubens, por exemplo, faz teatro. Uma situação hipotética: até que ponto uma crítica escrita por um diretor, sobre o filme de um colega, será realmente isenta? No meu caso, gosto de escrever, ver os filmes. Ainda não tive vontade de tentar fazer um. Há ideias, só, que provavelmente deixaria nas mãos de quem trabalha diretamente na realização cinematográfica. Portal dos Jornalistas ? Seu primeiro livro foi Poesia a Quatro mãos, escrito em parceria com sua mãe, certo? Qual é a diferença entre escrever poesia e crítica de arte? Azenha ? Minha experiência com poesia não é muito extensa. Foi meu único livro [de poesia. Além deste e de Meu namoro com o cinema, André também organizou Coletânea CINEZEN | Vol. 1 (Costelas Felinas), que reúne parte do material publicado ao longo de 2011 no site CineZen] e, no meu caso, foi uma forma de externar sentimentos, situações, que dificilmente conseguiria em um texto jornalístico. É arte, uma obra. A crítica, mesmo escrita com paixão, é uma colocação sobre uma obra de arte, um produto de entretenimento. É análise e uma visão que o leitor pode utilizar ou não para se identificar ou não com aquele filme. Pode lê-la tanto antes, como depois, se quiser buscar referências ou visões diferentes daquela que teve ao ver o filme. Ambas são prazerosas. Poesia, porém, para mim, é um desabafo, algo feito apenas para realização. A crítica é trabalho, demanda mais tempo e obrigação. Porém, podemos dizer que a poesia pode ter crítica e ? por que não? ? a crítica pode ser poética. A sessão de autógrafos será durante o 10º Curta Santos, em 20/9, a partir das 19h, no café do Cine Roxy 5 (av. Ana Costa, 465 ? Santos).