Cego desde 2013 por causa de descolamento das retinas, Assis Ângelo, jornalista considerado um dos principais pesquisadores da cultura popular do País, está em busca de parceiros para produzir um programa de televisão focado nos 45,6 milhões de brasileiros (IBGE, 2010) que têm algum tipo de deficiência: cegos, cadeirantes, surdos, mudos, com paralisia cerebral e outros.
Segundo ele, o projeto tem por objetivo mostrar o Brasil por meio dessas pessoas, hoje invisíveis nos meios de comunicação; discutir a mobilidade, a cidade, as artes, a cultura, a história, do ponto de vista delas: “Está na hora de a vida, a obra e o exemplo dessas pessoas, que vivem uma realidade diferente, às vezes dolorosa, serem mostrados em um programa bem-humorado, bonito. Porque existe muito preconceito com relação a elas. O tema não é discutido nas escolas, são pouquíssimas as entidades que as orientam. O poder público não toma conhecimento, não há dinheiro disponível para essas entidades desenvolverem projetos que tragam à tona os deficientes. As famílias não estão preparadas para lidar com eles”.
Assis afirma que todos se afastaram quando perdeu a visão: “Muita gente sofre o que sofri. E continuará sofrendo se não houver um grito de alerta, um pedido de socorro. Estamos presentes! Temos como viver a vida de outra maneira! É preciso mostrar isso. Tenho muitas ideias de como fazer isso num programa de TV. Não existe nada no gênero no Brasil. São 45,6 milhões de pessoas que ajudam a construir o Brasil, mas não aparecem na TV.
Para isso precisamos contar com apoio do poder público e da iniciativa privada. No mundo todo, são um bilhão de deficientes em uma população de sete bilhões. Então, não é um problema brasileiro, é mundial. É hora de descobrir a nossa história e por ela, nos descobrirmos. É um berro, um grito que dou para quem tem lucidez para discutir comigo. Quero mostrar o Brasil por meio das pessoas deficientes. Está na hora de exercitar na prática aquele palavreado bonito da Constituição. Está na hora de o Brasil se reconhecer e recuperar os seus valores. Sou cego dos olhos, mas vejo o mundo de outras maneiras”.
O programa terá músicos, atores, autores, dançarinos, artistas de todos os gêneros, bem como advogados, juízes e profissionais das mais diversas áreas com algum tipo de deficiência. Também trará novidades em tecnologia desenvolvidas para esse público e soluções para o seu dia a dia, além de alertar o grande público sobre como lidar e auxiliar essas pessoas. Haverá ainda reportagens e a participação de especialistas. Entidades referência serão parceiras e darão consultoria para facilitar a inclusão de pessoas com deficiência e ajudar o telespectador a respeitar suas necessidades individuais e sociais
Criador e presidente do Instituto Memória Brasil, o maior no gênero da cultura popular em mãos de particular no País, Assis decidiu pôr à venda o acervo, porque não tem mais condições físicas e financeiras de manter o material, que começou a reunir há mais de 40 anos. São cerca de 150 mil itens, entre discos de todos os formatos, fotos, partituras, folhetos de cordel, livros, fitas cassete e MDs. Contatos pelos [email protected], www.institutomemoriabrasil.org.br, http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-985-490-333.