Por Marco Antonio Zanfra 

Durante a gestão de César Souza Júnior na Prefeitura de Florianópolis fui diretor de Apoio e Mídias na Secretaria de Comunicação. Era o segundo nome na estrutura, atrás apenas do secretário João Cavallazzi. Fui uma espécie de secretário adjunto, exercendo muitas vezes as atribuições de adjunto, embora sem o status – e a remuneração – correspondente. A bem da verdade, o cargo de adjunto não era previsto na composição da Secom.

Mas era eu quem pegava no pesado: tinha a árdua responsabilidade de adequar aos padrões da escrita os às vezes difíceis textos dos assessores de imprensa das diversas secretarias e órgãos da Prefeitura, atendia jornalistas e encaminhava entrevistas, acompanhava o prefeito em eventos e coletivas, fazia literalmente o meio de campo.

Entre os eventos que devia acompanhar estava um que fora criado pelo próprio prefeito – uma estrutura móvel da administração municipal chamada de Prefeitura no Bairro. Era uma ideia simples: prefeito e secretários deslocavam-se para determinado bairro da Capital e atendiam aos moradores e suas reivindicações pessoalmente, debaixo de uma estrutura coberta por lona. Era um desfile de queixas e súplicas que às vezes se estendia por quatro ou cinco horas.

Uma dessas reuniões, já nos estertores da iniciativa, aconteceu no bairro Saco Grande, à margem da rodovia SC-401, que leva ao Norte da Ilha e às famosas praias de Jurerê e Canasvieiras. A tenda foi montada num campinho de futebol diante da sede da associação dos moradores. Ventava muito, mas ninguém deu maior importância a isso desde o início do evento.

Pois bem. Eu estava sentado a cerca de cinco metros da mesa que acomodava o prefeito e sua assessoria direta quando uma rajada mais forte de vento sacudiu a lona e a fez lamber a estrutura onde estava apoiada a caixa de som. Era um poste com três metros de altura, com a base insuficientemente larga para suportar uma ação de desequilíbrio que partisse do topo. Mas só fomos notar a insuficiência da base quando a tal de lambida da lona provocou o tombamento do pedestal, com caixa de som e tudo.

A caixa pesava uns dez quilos e adivinhem na cabeça de quem ela caiu! Por sorte, o choque se deu contra a quina do crânio – se é que o crânio pode ter uma quina – na parte mais resistente, e, portanto, não houve maiores danos físicos.

Os danos, mesmo, foram morais: com o barulho, César Souza Júnior deu uma olhada de no máximo três segundos em minha direção, mas voltou sua atenção ao que realmente importava. Fez pior foi o secretário Cavallazzi, que sequer perguntou se eu estava bem e se mostrou irritado com o descuido do pessoal que montou a estrutura: “E se essa caixa cai e atinge uma pessoa?”.

Uma pessoa. Não era o meu caso, evidentemente. Eu era apenas mão de obra.

Ele tentou consertar, pouco depois, dizendo que se referia, em seu temor, a que a caixa atingisse “uma pessoa idosa, uma senhorinha frágil”. Para mim, entretanto, a reação dele foi o melhor exemplo de ato falho que vi, e vivi, na minha história.


A história desta semana é novamente de Marco Antonio Zanfra, que atuou em diversos veículos na capital paulista e em Santa Catarina. Em Florianópolis, onde reside, trabalhou em O Estado e A Notícia, na assessoria de imprensa do Detran e do Instituto de Planejamento Urbano, além de ter sido diretor de Apoio e Mídias na Secretaria de Comunicação da Prefeitura. É também escritor.

Nosso estoque do Memórias da Redação continua baixo. Se você tem alguma história de redação interessante para contar mande para [email protected].

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