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quarta-feira, novembro 27, 2024

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BBC defende atletas e ataca discurso de ódio

O índice de trolagem das atletas

Por Luciana Gurgel, especial para o J&Cia

Luciana Gurgel

Preconceito e racismo no mundo esportivo não nasceram com as mídias sociais, mas nelas encontraram campo fértil para proliferar. Agressões a atletas nas redes são uma triste consequência da possibilidade de comentar matérias publicadas nos canais digitais de veículos de comunicação. O espaço de comentários acabou virando ambiente propício para discurso de ódio contra minorias.

No Reino Unido a situação afeta particularmente as mulheres. Pesquisa feita pela BBC apontou que quase 1/3 das atletas de elite do país sofreram ataques nas redes sociais, incluindo a ameaças de morte. O percentual é o dobro do registrado em 2015.

Diante dos resultados, a rede − que tem 33 milhões de seguidores em seus canais digitais − anunciou uma iniciativa notável para combater esse mal: estabeleceu uma política rígida para controlar posts agressivos nas seções de comentários. No statement postado no Twitter, afirma que as plataformas devem ser um lugar para discussão, crítica construtiva, debates e opiniões pautadas pelo respeito.

Rigidez no controle de posts no Twitter

A BBC promete bloquear quem postar mensagens agressivas, reportar o caso às autoridades e trabalhar para manter o clima de respeito e cordialidade nos canais. Compromete-se ainda a aumentar o espaço dedicado a esportes femininos e a promover a discussão sobre igualdade no desporto.

O engajamento do público é parte importante da iniciativa. A emissora conclama as pessoas a sinalizarem via e-mail manifestações de ódio relacionadas a raça, cor da pele, gênero, nacionalidade, etnia, deficiência, religião, sexualidade, sexo, idade ou classe social.

Racismo nos esportes, uma questão social e  política − O problema do racismo nos esportes é recorrente na Europa. Vem se agravando nos últimos anos, na esteira de movimentos de extrema-direita contrários a imigrantes que avançam na região, estimulados por políticos que adotaram a bandeira da intolerância, como Nigel Farage, no Reino Unido, e Matteo Salvini, na Itália.

Isso insufla pessoas que, veem imigrantes como ameaça ao país, sentimento que acaba se estendendo a esportistas de outros países ou descendentes de estrangeiros. Sem contar as mulheres, fortemente discriminadas por gente que chega a dizer que que esportes femininos não são de fato esportes.

Atletas femininas, alvo fácil para ataques − Para a pesquisa da BBC foram enviados questionários a 1.068 mulheres atuantes em 39 modalidades esportivas. Das 537 respondentes, 20% dizem ter vivido ou presenciado situações de preconceito racial e 65%, de preconceito de gênero. Mas apenas 10% declaram ter reportado o caso.

A imprensa não ficou bem na foto: 85% das esportistas creem que a mídia não se esforça o suficiente para promover o esporte feminino. Mas pelo menos 93% reconhecem que a situação melhorou nos últimos cinco anos.

O estudo classificou os tipos de abusos mais frequentes nas redes sociais: críticas  à aparência física, à performance e sugestões machistas do tipo “volte para a cozinha”. Uma atleta contou ter recebido uma imagem do escudo de seu clube cheio de ferros de passar roupa.

Outra recebeu um comentário no Twitter sobre sua etnia, afirmando que “não era verdadeiramente britânica”. Foram registradas ainda recriminações nas redes pelo físico: “muito gorda”, “muito alta” ou “ombros muito largos”.

Algumas atletas que participaram da pesquisa autorizaram a divulgação dos ataques sofridos. A jogadora de dardos Deta Hedman contou sobre uma agressão racista depois de perder uma competição. O autor desejou que ela morresse de câncer.

Primeiro passo − É cedo para dizer se a iniciativa da BBC vai dar certo. Os próprios comentários no Twitter sobre o compromisso − muitos criticando, outros duvidando da eficácia e alguns colocando em questão a legitimidade da rede para adotar tais providências − é um sinal da complexidade da questão.

Mas fazer alguma coisa é sempre melhor do que não fazer nada. E quem sabe pode servir de exemplo para outras organizações de mídia ao redor do mundo.

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