Completam-se neste fevereiro seis meses de operação da TV 247, braço do Brasil 247 criado para ser “o maior canal de notícias do campo progressista no YouTube brasileiro”. Hoje com três horas diárias de programas ao vivo, tem perto de 36 mil inscritos (as projeções indicam que pode chegar a 100 mil em outubro), traz noticiário comentado, entrevistas e debates, além de temas como meio ambiente e espiritualidade, questões raciais, conceitos e ideias sociológicas, geopolítica, literatura e cinema, história, feminismo e cidadania, entre outros.
O comando da programação está basicamente nas mãos de quatro pessoas: Leonardo Attuch, fundador e editor do Brasil 247, Paulo Moreira Leite, que já dirigiu Veja, Época e Diário Popular, Alex Solnik, também com longa trajetória na imprensa, e Gisele Federicce, editora do Brasil 247. Eles ocupam dois conjuntos num prédio do bairro paulistano do Itaim-Bibi, um deles exclusivo para o estúdio.
Leonardo falou a J&Cia sobre essa aposta na plataforma TV:
Jornalistas&Cia – Quando vocês mudaram para esse espaço?
Leonardo Attuch – Desde setembro. Todo mundo trabalhava remoto e a TV foi uma boa desculpa para nos juntarmos. Tudo começou em agosto, com entrevistas ao vivo pelo Facebook, na casa do Paulo. Aí resolvemos montar um estúdio para fazer essas entrevistas e depois criamos uma programação. O público desse campo da esquerda está muito carente de informações, o pessoal se sente muito abandonado. E a linguagem hoje é o vídeo.
J&Cia – Está tudo concentrado aqui?
Leo – A TV, sim. O site tem umas 20 pessoas, espalhadas pelo País. Nossa estrutura é pequena, econômica, temos estúdio e equipamentos adequados para um canal no YouTube. O diferencial de qualidade está nas pessoas, em quem comenta, no conteúdo. Fazemos isso num campo abandonado pela imprensa tradicional. A GloboNews, por exemplo, não tem comentaristas de esquerda. E quando aparece um entrevistado com esse viés, é um estresse danado. A Folha tem colunistas progressistas, mas isso gera muita tensão no jornal. Nós aqui não disfarçamos: temos um lado: somos contra a hegemonia da mídia tradicional.
J&Cia – Qual é a proporção entre o site e o vídeo?
Leo – A empresa é 90% o site. Porque é o que gera receita, de patrocínio, publicidade. A TV é praticamente uma nova empresa: outro público, quem vê o site não necessariamente vê a TV e vice-versa… É claro que acaba difundindo a marca, fazemos divulgação transversal. Publicamos alguns vídeos curtos no site, tem lá o link para a página da TV no YouTube. O que deveríamos fazer mais é lembrar para o público do site que temos conteúdo em vídeo. Nossa produção aumentou porque muita gente nos procura querendo participar dos programas. Hoje temos maior propensão por entrevistas ao vivo, em vídeo, bem diferente do modelo anterior, de gravar, editar. Para nós também é mais fácil editar depois, selecionando os melhores trechos; às vezes uma entrevista gera várias matérias pequenas. E o nosso acervo de conteúdo vai crescendo e pode ser usado permanentemente. Estamos tentando fazer aqui uma fábrica de pequenos vídeos. Por exemplo: o Igor Fuser fez um programa falando sobre o duelo das grandes potências pela América Latina. Muita gente assistiu ao vivo. Aí selecionamos os trechos mais interessantes e jogamos no próprio YouTube, no Facebook, no site… O Paulo e o Alex, que já eram colunistas do site, passaram a também fazer comentários curtos em vídeo. Às vezes, em texto e vídeo, pois são linguagens diferentes, para públicos distintos. E como a equipe é reduzida, aproveitamos esse conteúdo para alimentar o site nos finais de semana.
J&Cia – E como vocês financiam a operação?
Leo – O site tem hoje perto de 30 milhões de pageviews por mês, o que gera uma receita considerável de publicidade programática, embora não suficiente para pagar toda a operação. Por isso temos patrocínios, contratos privados e públicos. Na TV, o que paga a programação são as assinaturas. Fizemos uma campanha pra cima, justamente pedindo ajuda para fazer uma TV pela internet. Diferentemente de outros sites, não foi discurso pela sobrevivência, foi discurso de crescimento. Temos um número razoável de assinantes, uns anuais, outros mês a mês. Desde que começamos a campanha, em 24 de novembro, todo dia sempre entra alguém. Eles recebem duas newsletters por dia, de manhã e à noite. É um modelo diferente dos jornais, em que você paga para ler; aqui você paga pelo que poderia ter de graça, porque está apoiando uma causa. O Guardian é assim. Lá eles dizem: “Você está pagando para que o nosso conteúdo seja aberto ao maior número de pessoas”. É o contrário do que dizem a Folha e o Estadão: “Se você não pagar, fechamos o conteúdo e você não poderá ler”.