Por Virgínia Queiroz
O ano: 1987. Comecei a trabalhar como editora executiva do ESTV − 2ª. Edição em dezembro de 1986, recém-saída do Curso de Qualificação em Telejornalismo, projeto de qualificação de jovens estagiários para o mercado de trabalho realizado na sede da TV Globo, no Rio de Janeiro. Após o curso, tive uma rápida passagem pela TV Bandeirantes de Belo Horizonte. onde deixei de ser foca. Já dava conta de fechar um jornal e lá fui eu!
Chegando em Vitória, fui trabalhar com a veterana Jane Mary de Abreu e com o editor de imagens Nilton Bandeira. A equipe era reduzidíssima. Na reportagem, Ricardo Latorre, colega do curso da Globo contratado pouco antes, e os veteranos Sérgio Marquezi, paranaense que cobria política, e Paulo Andrade, carioca, que fazia as matérias mais divertidas e originais, que eu adorava editar.
Era gostoso trabalhar na TV. Jornada de cinco horas – de segunda a sábado. Nos tempos livres, mineira que sou, torrava na praia! Foi uma época muito boa. Poucos meses depois da minha chegada, Abdo Chequer, hoje diretor do Grupo Gazeta, passou a acumular a apresentação do Bom Dia Espírito Santo e a direção da TV Gazeta.
Jane Mary, editora do principal jornal da casa, e eu tínhamos a responsabilidade de fechar um jornal com fade de 7 a 8 minutos. O ESTV – 2ª Edição entrava no ar por volta das 19 horas. Era o jornal de maior audiência e o mais assistido pela Direção do Grupo. A peculiaridade é que todas as matérias eram editadas numa única fita e na sequência do que ia chegando primeiro. Sempre tinha a cotação do café numa fita à parte, a vinheta de oferecimento do Banestes – o Banco do Estado do Espirito Santo −, que era exibida pelo Master, e todo dia a operação dava certo.
A mulher do Nilton Bandeira estava grávida, já no final da gestação. Era novembro ou dezembro. Antes de o jornal entrar no ar, ela ligou avisando que estava passando mal. Nilton terminou a edição da última matéria e saiu apressado. O switcher era junto com a área técnica e a Jane Mary e eu pensamos que Nilton Bandeira havia entregado a fita para o Master rodar, como sempre fazia.
Tudo preparado, locutora no estúdio, laudas rodadas, script OK e…. “Cadê a fita do jornal?”, perguntou um dos técnicos. Saí pra verificar. Naquela época não tinha celular, né, gente? E a TV era analógica! Corri pra redação pra tentar ligar para o fixo da casa do Nilton e…. nada! Ele estava a caminho do hospital! Voltei esbaforida. Estava no dead line e a vinheta rodou!
− Boa noite!
A locutora, Jane Ferregueti, leu as duas notas peladas (sem imagens) que tinha nas mãos e chamou a única arte disponível: “A cotação do café no Espirito Santo! O café conilon – saca de 60 quilos…”. Eu suava e as mãos estavam frias. Gritei no interfone para o pessoal do estúdio! Chama intervalo!! Barata voa e tentamos decidir o que fazer durante o intervalo comercial.
− Não tem nenhum VT!! Não tem jornal!! E agora??
José Antônio, que era o coordenador de Programação, esticou o break e pagou todos os comerciais dos demais intervalos de uma vez só! Naquele dia não tinha mais nada a fazer… A locutora voltou, leu outra nota pelada e deu o boa noite! E José Antônio preencheu os intermináveis 5 minutos restantes do fade local com muitos “calhaus”.
No dia seguinte, Nilton chegou apreensivo. A mulher dele estava bem e a Marcela não tinha nascido. Foi direto pra sala do Abdo Chequer se explicar. Ele jurou que deixara a fita no Master. Como era um funcionário exemplar, antigo de casa, saiu de lá com três dias de gancho. Ufa! Alivio geral!
E a fita? Nunca apareceu! Ninguém sabe, ninguém viu!! Foi o primeiro dos muitos sufocos que passei na minha carreira de editora de texto!
A contribuição desta semana vem novamente de Virgínia Queiroz, articuladora na Infinity Rede Colaborativa, que trabalhou por 30 anos em emissoras de TV de Rio, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. Esta história é da passagem dela pela TV Gazeta, afiliada da Globo em Vitória, no Espírito Santo.
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