A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) realizará em março uma audiência para abordar ameaças e violações à liberdade de imprensa e de expressão no Brasil. O evento é fruto de um pedido feito por 16 entidades brasileiras e latino-americanas, entre elas a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
O documento apresentado à CIDH contém relatórios e dados que ilustram o aumento de ataques e violência geral à imprensa e a comunicadores, além de casos específicos que exemplificam a situação, como o de Patrícia Campos Mello (Folha de S.Paulo), que sofreu ataques por sua reportagem que denunciava o compartilhamento de fake news via WhatsApp para favorecer Jair Bolsonaro durante as eleições presidenciais de 2018; e o de Gleen Greenwald, acusado de ter cometido crimes digitais, incluindo envolvimento com hackers, ao divulgar áudios da Operação Lava Jato.
Marcelo Träsel, presidente da Abraji, acredita que o evento pode ajudar a conscientizar as pessoas sobre os frequentes ataques à liberdade de imprensa e expressão no Brasil e em países vizinhos: “Esperamos que essa audiência amplie a consciência sobre a questão dentro e fora do País, em especial nas instituições que podem agir para mitigar o problema”
Renata Mieli, coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), destaca o aumento no número de ataques à imprensa durante o governo Bolsonaro: “O Brasil sempre conviveu com casos de violação à liberdade de expressão, mas eles eram difusos. O que diferencia o momento atual é que, a partir do governo Bolsonaro, houve uma institucionalização das violações aos direitos humanos e à liberdade de expressão”.
Vale lembrar que um relatório da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgado em janeiro indicou que Bolsonaro foi responsável por mais da metade dos ataques à imprensa em 2019. Os dados indicam um aumento de 54% na violência contra comunicadores.