Por Cristina Vaz de Carvalho, editora de Jornalistas&Cia no Rio de Janeiro

O 19º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, organizado pela Abraji de 11 a 14/7, em São Paulo, seguiu em 2024 com o formato híbrido de atividades presenciais, transmissão ao vivo de parte da programação e uma série de conteúdos gravados para maratonar.

Foram 1,8 mil participantes, nas modalidades presenciais e online, de todos os estados brasileiros. Em termos de diversidade racial, contou com 36% dos inscritos pretos, pardos, amarelos e indígenas. Houve ainda a preocupação quanto à diversidade de gêneros, e recursos de comunicação acessíveis para pessoas com deficiência (PCDs), tanto presencial como online.

Os palestrantes brasileiros foram de 20 estados. Os estrangeiros, mais de 20, vieram de Argentina, Bahrein, Colômbia, Estados Unidos, Holanda, Quênia, Quirguistão, Reino Unido e Venezuela, trazendo temas como IA, desinformação, mapeamento open source e sustentabilidade do jornalismo. Os ingressos para a modalidade presencial esgotaram-se, como no ano passado, uma semana antes do evento.

No total, foram quase 250 horas de conteúdo, 16 lançamentos de livros, e mais 27 atividades online, incluindo transmissões e conteúdos inéditos na plataforma. Com números tão significativos, o encontro recebeu o apelido carinhoso de Lollapalooza do jornalismo brasileiro nas redes sociais.

Crédito: Luciana Vassoler/Abraji

 

Programação

No dia 12/7, o Congresso recebeu o ministro da Fazenda Fernando Haddad e o presidente do Senado Rodrigo Pacheco, que foram sabatinados por jornalistas. Haddad respondeu a Basília Rodrigues, da CNN Brasil; Míriam Leitão, do Grupo Globo; e Nathalia Fruet, do SBT, sobre as estratégias de governo para a Economia. Pacheco foi entrevistado por Sarah Teófilo, de O Globo; e Breno Pires, da piauí, sobre regulamentação da IA e a lei Anti-Slapp. Quanto a este último tópico, comprometeu-se a estimular a criação de uma lei brasileira, nos moldes existentes na Europa, para coibir o assédio judicial contra jornalistas.

Cerca de 10% da programação oferecida no Congresso teve patrocínio de empresas, o que marca uma nova estratégia da Abraji. Além disso, as parcerias permitiram ampliar a diversidade regional, com 243 organizações presentes, ou 25% a mais que na edição anterior. Garantiram ainda 87 bolsas para jornalistas e comunicadores, como a Jornada Galápagos, o programa Defensores Ambientais, o projeto Caravana da Abraji, pesquisadores do Seminário de Pesquisa em Jornalismo Investigativo, além de jornalistas negras selecionadas pela diretora da Abraji Basília Rodrigues, em parceria com YouTube, Fundação Lemann e Natura. 

Katia Brembatti comenta

Katia Brembatti

Katia Brembatti, presidente da Abraji, conversou com J&Cia sobre esta edição do Congresso.

Jornalistas&Cia − Como avalia este Congresso, que tem números tão significativos?

Katia Brembatti − Foi mesmo fora da curva. Embora procuremos sempre aumentar essa curva, os números bateram até as nossas expectativas. A cada ano, nosso objetivo é que o Congresso seja maior e melhor. Acho que conseguimos alcançar esse objetivo.

J&Cia − Na sua opinião, entre os temas tratados, qual ou quais foram os mais importantes, e por quê?

Katia − É difícil escolher um só, porque a Abraji tem como premissa a diversidade nos temas. Se formos escolher os principais, temos Amazônia e os indígenas, tentando antecipar as demandas da COP de Belém, no ano que vem. Temos que falar nas eleições municipais, uma cobertura com foco local. E também essa questão da Inteligência Artificial. Já foi abordada em nosso último Congresso, mas viemos com novidades. Lidamos agora tanto com as ferramentas para ajudar em processos de apuração, quantos as questões éticas e o impacto no setor. Quisemos abordar o que o público queria, sem sermos repetitivos.

J&Cia − Conforme o balanço do Congresso, houve 250 sugestões enviadas pelo público. O que a Abraji faz com essas sugestões?

Katia − As sugestões passam por um processo de curadoria. De uns três ou quatro anos para cá, temos pedido ao público sugestões. Se não, o conteúdo fica muito centrado nas nossas ideias. Algumas sugestões vêm repetidas, outras muito específicas, como “a minha reportagem”. Peneiramos tanto o que vem do público quanto o que consideramos importante para ser tratado, como o caso Dom e Bruno, a Guerra de Gaza. Não é só o que o público quer. Cabe a nós apontar as tendências para o público.

J&Cia − Parece que houve uma nova estratégia nos patrocínios. Qual a diferença entre o antes e o depois?

Katia − O Congresso da Abraji sempre aceitou patrocínios. O que fez foi diversificar e aumentá-los, para ter menos dependência de um ou outro patrocinador. Fizemos isso criando cotas específicas para os veículos. As bolsas tiveram patrocínios específicos: da Amazônia, por trabalho de pesquisa… Tivemos como parceiros Aberje e Abracom, que vieram somar, por serem do setor. A novidade deste ano foram as mesas patrocinadas, de branded content. Além do patrocínio com marcas, oferecemos conteúdo patrocinado. Tivemos desde o patrocínio clássico, até um leque de diversos tipos de patrocínio.

Katia Brembatti durante o Congresso da Abraji

J&Cia − Pode falar mais sobre as oficinas em formato de masterclass, produzidas para o ambiente digital?

Katia − Durante a pandemia, o Congresso passou a ser obrigatoriamente online, e precisamos chamar a atenção do público. Com isso, percebemos uma demanda reprimida de pessoas que queriam ter acesso ao conteúdo, mas estavam em lugares de difícil acesso a São Paulo. Quando voltamos a ser presenciais, não achamos justo manter essa distância. No online, procuramos ter conteúdos muito, muito interessantes, que pudessem contribuir para a formação do jornalista.

J&Cia − A Abraji já tem planos para o 20º Congresso, no ano que vem?

Katia − Até pela data redonda, temos a expectativa de que seja maior e ainda mais significativo e representativo. Já começamos a selecionar os temas, para fazer os convites aos palestrantes internacionais até o final do ano. Falamos com patrocinadores também.

J&Cia − O que gostaria de acrescentar?

Katia − A cada ano, o Congresso é a celebração da nossa profissão. Um momento de encontro, para refletir o que a gente faz e como a gente faz. No dia a dia, temos dificuldade de fazer essa reflexão. Muitos jornalistas me falam que o Congresso é um momento de recarregar as baterias. Um momento de pensar por que a gente faz o que faz.

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