Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

Violência contra jornalistas, desinformação e discurso de ódio nas redes sociais durante campanhas eleitorais entraram no radar da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), que em pouco menos de uma semana levantou preocupações sobre o efeito das disputas entre candidatos no ecossistema de informação em duas ocasiões diferentes.

No Dia Internacional Contra a Impunidade de Crimes contra Jornalistas, a organização divulgou um levantamento sobre violência contra jornalistas em períodos eleitorais: entre janeiro de 2019 e junho de 2022, foram registrados 759 ataques individuais, incluindo cinco assassinatos, ocorridos durante 89 eleições em 70 países.

Em 6/11, a Unesco publicou um extenso plano de ação para conter a desinformação online, elaborado resultado de contribuições de 134 países durante 18 meses.

Não há nada diferente do que já sabemos: a desinformação é um flagelo, não é culpa somente de um agente, faz mal à sociedade e é preciso adotar medidas para controlá-la − muitas das quais já levantadas em outros documentos.

Mas para sublinhar a importância de que as palavras se transformem em ação, a organização divulgou junto com o plano uma pesquisa feita pelo instituto Ipsos em 16 países que terão eleições gerais em 2024, com resultados que merecem atenção porque representam impacto sobre a democracia.

O Brasil não está entre os pesquisados, mas terá eleições municipais em 2024. E entre os pleitos do ano que vem estão os dos EUA, que pode devolver Donald Trump de volta à Casa Branca, e da Ucrânia, que pode mudar os rumos da guerra com a Rússia.

Foram entrevistados mais de oito mil adultos usuários de internet de países classificados em blocos por seu IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Quase nove em cada 10 deles (87%) acham que a desinformação já teve grande impacto na vida política do seu país e temem seus efeitos nas próximas eleições.

O discurso de ódio é outro problema. Postagens classificadas dessa forma foram vistas por 67% dos entrevistados, sobretudo em Facebook (58%), TikTok (30%), Twitter/X (18%) e Instagram (15%).

A pesquisa é mais uma a confirmar que as redes sociais já ultrapassam a imprensa escrita, o rádio e até a televisão como fonte de informação diária. Em média, nos 16 países pesquisados, quase um a cada seis internautas as utilizam para acompanhar os acontecimentos, muito à frente da televisão (44%).

Mas os contextos locais não são os mesmos. O Ipsos identificou que a televisão é a fonte principal de notícias nos países mais desenvolvidos (55%, em comparação com 37% para as redes sociais), enquanto perde em países com IDH mais baixo (37% contra 68%).

Por idade, a pesquisa confirma o gap geracional no que diz respeito a fontes de informação: pessoas com menos de 35 anos são mais inclinadas a usar as redes sociais (67%) do que as de 55 anos ou mais (31%).

Mas a boa e velha TV continua tendo um papel importante em campanhas eleitorais devido à sua confiabilidade. Rádio e imprensa escrita também não fizeram feio no estudo da Unesco.

Na média global, 66% dos entrevistados disseram confiar nas notícias transmitidas pela televisão, 63% nas notícias da rádio e 61% nas notícias da imprensa escrita, em comparação com apenas 50% nas notícias recebidas por redes sociais.

Nos 16 países, 68% dos internautas consideram as redes sociais o ambiente em que a desinformação é mais difundida, muito à frente dos grupos em aplicativos de mensagens (38%) e de websites ou apps de veículos de comunicação (20%).

A quem cabe a solução? O estudo da Unesco apurou que plataformas e governos são vistos como responsáveis por, respectivamente, 90% e 87% dos entrevistados. E os países com IDH mais baixo são os que mais esperam intervenção governamental.

A pesquisa completa pode ser vista aqui.


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